Saiba mais sobre o parto humanizado e trabalho desenvolvido pelo grupo Ísis Materna Caratinga
CARATINGA- Você já ouviu falar sobre o parto humanizado? E sabia que Caratinga tem um espaço para tirar essas dúvidas e dar assistência às mães que se interessam pelo assunto. Essa é a missão do grupo Ísis Materna Caratinga que realiza movimento social pró-parto humanizado.
Segundo os membros do grupo, respeito ao desejo da mulher é a palavra de ordem. Ela precisa se encontrar como protagonista do nascimento de seu filho. Para falar sobre esse assunto, o DIÁRIO DE CARATINGA entrevistou as coordenadoras do grupo Ísis Materna, Fernanda França dos Santos Fernandes e Telma de Assis Campos.
Fernanda se classifica como “mãe em potencial”. Já Telma é mãe de Mariana de seis anos e um mês, “nascida através de cirurgia cesariana, com amamentação até os dois anos e três meses de idade” e mãe de Rafael de dois anos e dois meses, nascido de parto natural, com “amamentação até os dois anos e um mês de idade”.
Qual o conceito de parto humanizado?
Fernanda – Para que o parto seja considerado humanizado, precisa respeitar um tripé conceitual: 1 – protagonismo da mulher; 2 – visão interdisciplinar e integrativa e 3 – respeito à MBE -Medicina Baseada em Evidências.
Com base nesse tripé, queremos dizer que o parto humanizado pode ser totalmente natural e sem intervenção, assim como com intervenção, desde que ela seja realmente necessária sob o ponto de vista clínico ou seja solicitada pela mulher.
Todo parto normal é humanizado?
Telma – Não. O parto humanizado é um conceito que respeita o que há de mais técnico e científico e que guia condutas a serem adotadas na assistência, inclusive a conduta de não intervir caso não seja necessário. É onde o tempo do bebê e os desejos da mulher são ouvidos e respeitados. O conceito de parto normal acabou ficando reservado para aquele parto tradicional, intervencionista de rotina e que traz sérios danos de curto e longo prazo para o binômio mãe-bebê. Foi preciso separar essas coisas, para podermos deixar claro que não basta passar pela vagina, queremos qualidade na assistência. Assim, se a assistência dada à mulher tiver observado os três requisitos (tripé conceitual) já mencionados, aí sim, podemos dizer que a mulher teve um parto vaginal humanizado. Vale ressaltar que quando a assistência ao parto é humanizada, privilegia-se o parto mais natural possível, ou seja, somente com intervenções se e quando necessárias.
Como uma mulher se prepara para um parto humanizado?
Telma – Primeiro ela precisa estar ciente com relação às vias de nascimento, seus benefícios e riscos para que possa tomar essa importante decisão. Para isto, ela precisa buscar informações baseadas em evidências científicas para que não fique à mercê de interesse de terceiros. Além, obviamente, da consulta ao médico, enfermeira obstetra ou obstetriz, conversas durante o pré-natal, participação em grupos e rodas de conversas, visitas a sites, páginas e canais virtuais sobre o tema ajudam muito nesse sentido.
Se a mulher optar pela assistência humanizada quanto ao seu parto, é porque ela deseja parir e precisa ser respeitada e incentivada em sua decisão. O processo de busca irá lhe proporcionar maior segurança psicológica e emocional. Vale destacar aqui, que, na minha opinião, o acompanhamento por uma doula (profissional que cuida da mulher) é de grande valia. Eu tive as minhas doulas e, no meu caso, fez toda diferença.
Se possível, escolher sua equipe de parto também é muito bom, mas existe assistência humanizada atendida totalmente pelo SUS, por exemplo, no Hospital Sofia Feldman em Belo Horizonte.
Há outras recomendações?
Telma – O Plano de Parto também é muito importante. Ele é um documento que a gestante, devidamente instruída, elabora, assina e apresenta junto a equipe que vai lhe assistir durante o TP – Trabalho de Parto, constando os seus desejos quanto aos procedimentos a serem adotados com relação ao parto e nascimento de seu bebê. Nesse mesmo documento, fica bem claro, porém, que a própria equipe de assistência pode verificar a necessidade de tomar atitude diversa, e, em total respeito ao desejo da mulher, porventura quando não é possível atendê-lo, isto vai ser explicado a parturiente e acompanhante que vão poder se sentir seguros quanto ao procedimento diverso a ser tomado.
E, fisicamente, existem exercícios, específicos para o fortalecimento da musculatura pélvica, massagem no períneo e outros mais que podem auxiliar tanto durante a gestação quanto no trabalho de parto. Posso destacar aqui que há diversos profissionais que podem auxiliar nisso como fisioterapeutas, doulas, entre outros, ou até mesmo nas redes sociais é possível conhecer muitos deles.
Quais são os principais benefícios para a mãe e para o bebê?
Telma– Vamos falar só de alguns benefícios do Parto Humanizado, porque são inúmeros os já conhecidos, fora os ainda não sabidos, e todos são muito importantes. Quanto ao parto via vaginal, para a mãe, indiscutivelmente, a recuperação é o principal benefício. Também minimiza a possibilidade de se ter depressão pós-parto e transtorno pós-traumático, já que trabalha muito o contato mãe/bebê, que valoriza a afetividade entre ambos; a perda de sangue, geralmente, é menor; toda a produção dos hormônios durante o trabalho de parto facilita, inclusive, a amamentação. Por fim, o risco de morte na cesariana é triplicado em relação ao parto vaginal.
Agora, falando do bebê, o maior benefício de se esperar a sua hora de nascer, não implicando em risco de imaturidade ou prematuridade iatrogênica, uma vez que o pulmão é o último órgão a ser formado, retirar o bebê antes da hora aumenta em 120 vezes as chances de problemas respiratórios. Há ainda algumas funções cerebrais que finalizam seu desenvolvimento somente no final da gestação. Logo quando ocorre o nascimento, a luz baixa, a temperatura controlada conforme a do bebê, o contato pele a pele mãe/bebê, dentre outras práticas, faz com que o recém-nascido se sinta seguro, possa amamentar de imediato o que vai lhe proporcionar mais aconchego, imunidade pela amamentação, entre outros benefícios.
Como nasceu o movimento Ísis Materna Caratinga?
Fernanda –Inicialmente, algumas mulheres foram fazendo contatos individualmente em virtude de se interessarem pelo mesmo assunto – a humanização do parto, que foram se encontrando e ficou claro que o número de interessados era grande e em crescimento em Caratinga. Verificou-se que existiam vários tipos de mulheres: as que já tinham parido de forma humanizada; as que tentaram, mas estavam sozinhas, e não conseguiram; as que ainda planejavam ter filhos; as que desconheciam essa forma de nascimento; mas, todas desejando saber mais. Então, em Outubro de 2015, foi criado um grupo no Facebook, e foi dado início aos trabalhos de expandir informação sobre o assunto a toda a população.
Há um Hospital referência em Humanização no parto no Brasil, o Sofia Feldman, que fica na capital Belo Horizonte, entretanto, essa humanização, ainda não é muito difundida no interior. Assim, era necessário que a gestante de Caratinga percorresse mais de 350 km para ir a Belo Horizonte ter seu filho da forma mais natural possível, ficando longe da família, do acolhimento na sua cidade, praticamente sozinha com duas dúvidas e medos.
Qual o trabalho realizado pelo Ísis Materna Caratinga?
Fernanda – Realizamos um Movimento Social Pró-Parto Humanizado na promoção de atividades informativas para gestantes e demais interessados no tema e Acolhimento à Mulher, especialmente no que diz respeito à gestação, parto e puerpério, em busca do empoderamento feminino, acolhimento da família.
Já realizamos algumas rodas de conversa com troca de experiências entre a população; apresentações de assuntos relacionados ao tema com profissionais especializados; sessões de cinema sobre a Humanização do Parto; apresentação formal do movimento a todas as unidades de saúde com assistência ao parto na cidade. Já temos planos para trazer para Caratinga o Curso para Gestantes e o Curso de Formação de Doulas.
Destacamos sempre que a mulher deve ser protagonista no momento de nascer do seu bebê; que a paternidade ativa é de suma importância para toda a família; que deve sempre haver o incentivo ao aleitamento materno; e todo o tipo de conscientização desse universo que envolve “o gerar e educar vidas”.
Nosso objetivo é que, sendo possível, cada mulher decida, conscientemente, a forma de nascer do seu bebê e que essa decisão seja respeitada e que as vidas ali envolvidas também o sejam. Percebemos a necessidade de expor sobre o PARTO; e os constantes relatos de mulheres vítimas de violências obstétricas decorrente de utilização de protocolos padronizados de procedimentos desnecessários realizados durante o parto, ou de cirurgias eletivas prévias sem real indicação, demonstram que, na grande maioria dos atendimentos, não há preocupação no bem estar na mãe e do bebê e tão pouco evidências científicas que comprovem a sua eficácia. Tudo isso, faz com que esse movimento cresça cada vez mais.
Continuamos contando com o apoio da população nas redes sociais para o fortalecimento desse movimento social. Facebook: Ísis Materna, Email: [email protected], Instagram: isismaternacaratinga. Fiquem atentos às novidades!