Psicóloga fala sobre a importância de vivenciar o processo de luto e quando pode ser necessário buscar apoio profissional para atravessar esta fase
“A dor da perda, o sofrimento e o luto estão presentes em nossa vida faz parte do nosso cotidiano e não dizem respeito somente em casos de morte. Estamos sujeitos a várias situações de perdas como: derrotas e fracassos do dia a dia, as frustrações profissionais e sentimentais, a perda da nossa saúde, um sonho não realizado e tantas outras perdas que nos colocam em contato com a dor e o sofrimento”. As palavras são da psicóloga Adriana de Souza Neto e trazem um assunto muitas vezes difícil de ser abordado.
O luto é uma situação vivenciada diariamente por diversas pessoas pelo mundo. Mas, cada uma delas encara este momento de maneira diferente. Algumas necessitam de ajuda profissional para atravessar esta fase, principalmente quando o luto é de é de perda por morte. “Além de lidar com a angústia e a tristeza que a saudade nos impõe, nos sentimentos vulneráveis, incapazes e ameaçados, pois estamos de frente com a certeza da finitude e que a morte fatalmente nos atingirá um dia”, comenta Adriana.
Para tratar sobre esse assunto, o DIÁRIO traz uma entrevista com a psicóloga, que traz um olhar profissional sobre o luto, a importância de vivenciá-lo e como buscar apoio, por exemplo, na psicoterapia.
Quais sentimentos são comuns em pessoas que passam pela experiência do luto?
O luto é particular, cada um de nós reagimos ao luto de maneira diferente, isso varia de acordo com a estrutura emocional, as vivências e a capacidade para lidar com perdas que cada um desenvolveu. A sensação de incapacidade e de vulnerabilidade são comuns aos enlutados, essas sensações frente à perda podem gerar raiva, tristeza, medo, culpa, ansiedade, desamparo, choque e até mesmo o desespero desencadeando algumas sensações físicas, como por exemplo: vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta, sensação de despersonalização, falta de ar, fraqueza muscular, falta de energia e boca seca. Estes sentimentos e sensações físicas acabam causando mudanças comportamentais: distúrbios do sono, falta de apetite, obesidade, isolamento social e até mesmo a depressão.
Qual a importância de vivenciar o período do luto? Quanto ele pode durar?
Vivenciar o processo do luto é necessário e fundamental para que a dor da perda não seja reprimida e mais tarde venha se manifestar em forma de doenças. É importante respeitar o tempo de superação de cada um, considerando que essa experiência é pessoal e única num processo que passa por algumas fases.
A primeira fase é a Negação, é o momento que não acreditamos na perda, parece impossível. A dor é tão grande que negamos para não confrontarmos com a situação. Outra fase é a Raiva, é o momento em que externalizamos a revolta que estamos sentindo e dos questionamentos: “Por que com ele?”, procuramos os “culpados”, ficamos em algumas vezes agressivos. A Barganha é a fase que tentamos negociar, fazer acordos principalmente com figuras da Divindade. Passamos também pela fase da depressão, nesse momento as pessoas ficam mais quietas, mais reflexivas, repensando e processando os acontecimentos e a sua caminhada. Tomamos consciência da perda e de que não existe volta. Por último, temos a fase da Aceitação, o desespero e a negação já não estão mais presentes, a paz e a serenidade vão preenchendo aquele vazio e assim, conseguimos expressar nossos sentimentos, sofrimento e emoções de forma mais assertiva. Essa última fase só acontece depois de um longo processo, não significa esquecer ou disfarçar, tentar viver uma vida fingindo que nada aconteceu. Quando estamos na fase da Aceitação sentimos dor quando lembramos, mas essa dor é amena, o sofrimento emocional passa a ser menos intenso e passamos a restaurar laços sociais, recuperamos vínculos antigos e damos conta de estabelecermos novas relações. Quando alcançamos essa fase de elaboração saímos da condição de termos dores e assumimos a responsabilidade de sermos com as dores.
Como já citei anteriormente, o luto é um processo que não possui um tempo predefinido para acontecer e essas fases vão variar dependendo da perda e da pessoa.
Muitas pessoas já vivem o luto antes da morte acontecer propriamente, esse luto antecipado pode influenciar de que forma na vida da pessoa?
O luto antecipatório permite que as pessoas vivenciem as diversas respostas emocionais e absorvam gradualmente a realidade da perda ao longo do tempo, elas vão construindo e elaborando os significados que estão presentes no processo do luto. As pessoas têm a possibilidade de vivenciar as despedidas, resolver assuntos pendentes, sem ser confrontadas com a notícia abrupta da perda do ente querido.
E as pessoas que convivem com outras que passaram por uma perda recente. Como recomenda agir?
Esteja de braços abertos nesse momento de tristeza, dor e sofrimento. Ofereça apoio e acolhimento, permita que o enlutado expresse seus sentimentos e suas emoções sem críticas, sem conselhos e sem cobranças. As frases prontas do tipo “Seja forte”, “Não chore”, “Ele não querer ver você triste”, “O tempo cura tudo” … Não trazem consolo algum, nada pode trazer consolo nesse momento. Frases assim tendem a aumentar o sentimento de culpa. É importante que o enlutado vivencie a dor, a tristeza, o choro e tudo que o processo do luto traz consigo.
Como o psicólogo pode auxiliar neste processo de recuperação do luto? Como identificar a necessidade de procurá-lo?
Diante destes desafios a serem vencidos pelas pessoas que sofrem perdas significativas em suas vidas, percebemos que há a necessidade de acompanhamento dessas pessoas. Nem todas conseguem vencer os desafios com suas próprias forças, existe a necessidade de apoio. O enlutado possui uma necessidade de readaptação para a obtenção do alívio de sintomas e a restauração no funcionamento. É essencial que o (a) psicólogo (a) transmita confiança e apoio, para que o enlutado tenha certeza que será acolhido e não estará sozinho. Antes de qualquer coisa, a psicoterapia tem como objetivo ajudar o paciente na resolução de conflitos existentes à separação, facilitando a superação das etapas do luto para elaborar a perda, para diminuir as alterações emocionais, pois o enlutado encontra-se num estado frágil, vulnerável e desorganizado, tanto em níveis cognitivos como fisiológicos, motores e comportamentais.