@FernandoRingel
Era uma vez, um juiz federal do Paraná. Vida feita, belo salário, cargo invejado por muitos, mas a vida de concursado tem também o seu lado monótono. Nessa época, esse “Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito” ainda não era uma personalidade popular. Conhecido apenas pelos mais próximos, era chamado simplesmente como Sergio, do latim sergius, palavra que pode significar “guardião” ou “protetor”.
Essa definição diz respeito à primeira parte de sua biografia, quando ele se tornou famoso na Operação Lava Jato. Porém, a vida tem suas ironias e, nesse caminho, se tornou inimigo de algumas das pessoas mais poderosas do país. Não se sabe se foi para conseguir condenar quem pode pagar pelos melhores advogados ou se por desejo de justiça, mas cometeu erros que levariam à anulação de suas sentenças.
Talvez, tomado pela vaidade, o excelentíssimo juiz Sergio Moro acreditou que, mesmo atacando a classe política, conseguiria sobreviver como… político. Nesse novo terreno, se mostrou infiel em muitas situações. Primeiro, aceitou ser ministro de Bolsonaro, para depois deixar o cargo atacando o ex-presidente. Posteriormente, o ex-senador paranaense Álvaro Dias abriu as portas do Podemos para Moro disputar a presidência. Entretanto, com a campanha já iniciada, o ex-juiz mudaria para o União Brasil, onde se elegeria senador pelo Paraná, tirando a vaga de… Álvaro Dias.
Enxergando a cassação de seu mandato no horizonte, por abuso de poder econômico, talvez ele se pergunte se valeu a pena ir com tanta sede atrás de seus objetivos. Aliás, essa parte de sua história também tem a ver com o seu nome: em outra interpretação, Sergio viria do latim servius, traduzido para o português como “servo”.
As desculpas são muitas, mas o fato é que todos carregam o peso de suas escolhas.
Em cima do muro ou do Moro?
O primeiro sinal de alerta que o eleitor pode ter sobre um político é quando ele começa a colocar seus parentes na política. Afinal, talento para a administração pública é uma questão de genética?
Enfim, o fato é que Rosângela Moro, esposa de Sérgio, está tentando mudar o seu domicílio eleitoral para o Paraná. A pergunta que fica é: o que ela está fazendo como deputada por São Paulo? Coisas da política, o ex-presidente José Sarney, por exemplo, foi senador pelo Amapá, onde tinha propriedades, para abrir caminho no Maranhão para sua filha, Roseane Sarney.
Nos bastidores se fala que a manobra é, além de estar em um estado menos disputado, ocupar o espaço que está prestes a ficar vago: Moro deve ser cassado por seus erros, mas também por falta de apoio político.
Pois é, se repete a novela vista na cassação de Arthur do Val (União-SP), o “Mamãe Falei”: todo justiceiro ou lacrador de rede social, esses que “não têm lado”, quando se veem em apuros, não têm salvação.
Ao que tudo indica, o mandato de Sergio Moro vai, irremediavelmente, para o mesmo caminho da de Deltan Dallagnol. Entretanto, como política é coisa de momento, resta ao ex-juiz torcer pelo improvável, como uma guerra envolvendo o Brasil, para esquecerem de seu nome e ele vá sobrevivendo, como tenta atualmente o deputado André Janones (AVANTE).
Por fim, há 10 anos, quem imaginaria que esse seria o futuro de Sergio Moro?