Margareth Maciel de Almeida Santos
Doutora em Sociologia Política (IUPERJ)
Membro do Instituto Nacional dos Advogados do Brasil (IAB-RJ)
Tempestades e tempestades, esse é o cenário do nosso país atualmente. Vendo por meio das mídias, a tragédia que se instala ano após ano, não deixamos de ver a quantidade de perdas de casas, de carros, enfim vidas de crianças, idosos, pessoas de todas as idades, barrancos despencando como se fossem um brinquedo de lama encima das pessoas, das casas, das estradas interditadas que a cada dia se encontram em calamidade para viajarmos. Debates e debates de extrema relevância será que já ocorreram?
Esses episódios não se tratam apenas de desastres naturais. As profundas desigualdades sociais, uma sociedade fundada a partir da obtenção do lucro deixando os segmentos populacionais à deriva por não usufruírem da estrutura necessária para terem uma qualidade de vida conforme a nossa Constituição Federal pode-se questionar: – O Brasil é um país sério?
Refleti e a minha perturbação interior em querer compreender o que pensam os cidadãos e cidadãs sobre o nosso Brasil, me levou a pedir a contribuição de alguns para lhes questionarem – O Brasil é um país sério?
A pergunta foi vaga e dá margem a qualquer resposta ou qualquer julgamento. Pensei em ter perguntado se o Brasil é um país sério em sentido político, social, econômico, o povo, as ideias, educação, humanitário, definindo um campo para que estivesse mais ao alcance de buscar uma verdade em torno dessa questão.
No entanto, deixei a pergunta assim mesmo, pois diante dessa amplitude, eu compreendi o ponto de vista de cada um, pois foi percebido que assim que a pergunta é feita, mesmo que muitas foram realizadas por meio do WhatsApp, o impacto foi causado quando a esta foi recebida pelo entrevistado. Muitos me pediram um tempo para refletir. Achei isso fantástico por que cada um falou o que mais lhe incomoda independente de ter sido marcado um campo dentro da questão. Sei que a amostra foi pequena diante de uma pergunta tão ampla, complexa, mas as respostas foram ricas e assim com a ajuda dessas 90 pessoas entrevistadas tive a oportunidade de articular e organizar as ideias para publicar este texto no Diário de Caratinga.
Pensei em até fazer em forma de uma enquete, pois poderia ter o sim ou o não como resposta e teria uma amostra bem maior, porém só o sim ou o não, era uma resposta muito fria para matar a minha angústia que me fez querer entender o que as pessoas pensam sobre o nosso pais.
Para começarmos fui procurar no Google, opiniões sobre a questão: O Brasil é um país sério? Mas para entender melhor o que eu mesma estava questionando procurei entender o significado de PAÌS.
“Um país é uma área espacialmente claramente delimitada na qual sua própria administração com pelo menos uma autonomia parcial entra em jogo, que emana de uma organização que exerce o poder.(dadosmundiais.com/deinicao-pais.php).”
Assim me senti mais à vontade para questionar, pois entendi que o território define um espaço, o qual é estabelecido por relações de poder e delimitados por fronteiras e o País envolve não só aspectos políticos, mas também físicos e humanos de um Estado.
Essa coisa de procurar no Google me fez dar um pulo em 1979 quando o diplomata brasileiro, Carlos Alves Sousa, publicou um livro que assumia a frase “ O Brasil não é um país sério” alegando que essa frase não foi proferida por Charles Gaulle, ex-presidente da França. Vejam:
“O diplomata brasileiro, Carlos Alves Sousa, publicou um livro em 1979, que se assumia como autor da frase-proferida por ocasião da “ Guerra da Lagosta”, um incidente diplomático entre o Brasil e a França. Em decorrência de divergências acerca da pesca de crustáceos em águas marítimas. Nessa época se popularizou a frase o Brasil não é um país sério, atribuída, supostamente ao presidente francês Charles De Gaulle.”(Acesse Piauí).
Depois de passar rapidinho por 1979, entrei em 2008. Vejam o que nos mostra o Correio de Estado em 19 de junho de 2008):
“ Já é amanhã no Brasil”, pontua o editor da seção das Américas da revista inglesa The Economist, Michael Reid, em artigo que mostra que o Brasil começa a se comportar como um país sério. (Correio do Estado,19/06/2008 correiodoestado.com.br).Publicado na edição de hoje do jornal espanhol El Pais, o artigo destaca que o progresso do país nos últimos 15 anos se baseou em consensos democráticos , investimentos privados e controle da inflação. Segundo Reid, o Brasil “ começa a ser levado a sério como uma nova potência econômica e política. (Correio do Estado,19/06/2008).
“No início do artigo, Reid lembra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante uma conferência da Economist em Brasília há alguns meses, afirmou que sua fórmula política consistia em ser “ conservador na economia” e “ audaz na política social”. Para o editor, “ é uma fórmula que está dando seus frutos”. (Correio do Estado,19/06/2008).
Por outro lado, o Brasil não é um país sério no site jusbrasil que apresentou: “exemplos temos em abundancia, especialmente na esfera política, na qual reina absoluta a impunidade. Outro exemplo, que veio corroborar com esta triste realidade, infelizmente veio do Poder Judiciário. (jusbrasil.com.br/noticias/o-brasil-nao-e-um-pais-serio).”
“Em fevereiro deste ano, a imprensa nacional e os sites jurídicos divulgaram amplamente a notícia de que o Conselho Nacional de Justiça tinha punido com a pena de aposentadoria compulsória a bem do serviço público dez Magistrados do TJ-MT envolvidos em esquema de desvio de recursos superiores a R$ 1.400.000,00. Ao invés de sofrerem sanções dignas de servirem de exemplo, são beneficiados, pela via administrativa, com aposentadoria compulsória. O fato nos intriga e nos indigna, pois reflete as benesses atribuídas a algumas castas em nosso país, que se salvaguardam da aplicação da lei, imposta a todos de forma isonômica, criando normas que lhes privilegiam, permeando até mesmo o Poder Judiciário. (Cassio Kury Lopes, oficial escrevente de Sapucaia do Sul (RS). Jus brasil”.
Cheguei as respostas que eu ansiava em obtê-las apesar de que muitos acharam que a pergunta foi generalizada e após me dizerem isso continuaram a se expressar apresentado sua resposta como sendo não. Desses 90 entrevistados 66 me responderam que O Brasil não é um país sério em todos os sentidos, em todas as esferas principalmente na esfera política.
As dúvidas pairaram quanto a ser um país sério quando pensamos em política, e o Lula ter sido descondenado para se candidatar à presidência do Brasil, me parece que foi o que mais angustia o brasileiro e brasileira, seguido de classificar os políticos como corruptos e acreditam que a corrupção faz parte desse perfil pois legislam em causa própria e assim privilegia uma minoria em detrimento de todos!
O Tribunal Superior Eleitoral no momento do pedido do registro da candidatura, entendo que é quem avalia se alguém pode se candidatar, mas a questão pode ser levada ao Supremo Tribunal Federal.
Seguem alguns resumos dos diálogos que tive com os entrevistados.
“As coisas parecem resolvidas por pequenos grupos em Brasília sem pensar nas pessoas que aqui vivem. O grande mal e a maior trava do Brasil afirmo que é a classe política. Certos absurdos que ocorrem no país em relação ao seu ambiente político, aos casos de corrupção, ao direcionamento dos gastos públicos. Um executivo, gastador, corrupto, comprando o Legislativo sem nenhuma cerimônia. Máquina pública com 40 ministérios, sendo criados mais 13 só no último ano. Empresas públicas e ministérios equipados com políticos já condenados e incapazes, em detrimento da técnica e eficácia.
“Não temos um país sério definitivamente! Pagamos altos impostos que não retornam à sociedade. Judiciário é moroso e ineficiente exceto quando se trata dos interesses da nossa “democracia” travestida de “plutocracia”. Lobbies de sindicalistas e classes de trabalhadores tendenciosos, juízes e políticos corruptos, todos defendendo primeiramente seus privilégios. Não vejo um país sério e comprometido com a sociedade”.
Assim a conclusão foi que atualmente o Brasil não é um país sério:
Corrupção generalizada
Falta de respeito à Constituição
Falta de justiça, decorrente do não cumprimento da constituição.
Ainda disseram que o Brasil não é um país sério, quando se “vê moradores de rua, analfabetos funcionais, auxílio governo para as pessoas não passarem fome, a questão do negro que precisa lutar para ser reconhecido como sujeito, o qual é o principal ocupante das favelas, dos presídios e dos piores cargos nas empresas, um país que possui os maiores lixões do planeta, que mata seus filhos com o rompimento de barragens de rejeitos, que dizima a floresta e seus habitantes naturais, que polui a água tão escassa no mundo, que está entre as dez maiores economias do mundo, mas ocupa o 52º lugar no ranking de leitura não pode ser um país sério, mesmo.”
Por outro lado, os 24 entrevistados entre os 90, me disseram “ que temos muitos problemas, mas vemos que existem setores, são muito sérios e ajudam muito o Brasil a se tornar um melhor lugar para se viver. Um destes setores é a agricultura. Assim como ela, outros setores como Construção civil e naval entre outras também estão se desenvolvendo muito bem. “
“O Brasil é um País sério. Nunca nos deixou faltar belezas naturais, terras produtivas, exuberância, para colhermos o pão. As coisas demoram mas acontece. Muitas promessas políticas, demoram mas sai. Belo Horizonte é tido como um dos melhores lugares onde o SUS funciona. Então como vejo daqui acho bom. Mas sei que não é a realidade do país. No Brasil existem pessoas muito sérias. Sempre existiu e lutam e lutam até hoje por um país melhor. Lutam pela educação, saúde, melhores salários para os trabalhadores e melhores condições de trabalho, lutam pelos indígenas, lutam pelos pequenos produtores. Mas temo também os senhores dominadores do poder que sempre querem mais e mais e que priorizam o domínio e os privilégios próprios. Que com isso impedem muito o equilíbrio e a redistribuição de renda. “
E dentre esses 90 apenas um me respondeu que:
“Sim, o Brasil é um país muito sério. Claro, como toda nação, tem suas limitações. Mas por ser um país continental, com suas variadas culturas, crenças, raças. Ele ainda se torna umas das maiores potências mundiais em vários níveis e aspectos.
É sério porque o povo é esperançoso, lutador, valente, de fé. Devo ressaltar que somos um país isento de muitas catástrofes naturais e abençoado por tantas diversidades na fauna e na flora. É sério porque mesmo diante de tantas controvérsias ainda nós mantemos repletos de esperança e sonho.
Um país sério porque o povo é sério, sem perder o bom humor, a brincadeira, a música, a dança, a diversão…sério porque ser brasileiro num Brasil tão maravilhoso e cobiçado por todo os amigos do dinheiro e do poder não poderia ser diferente. “
Gostaria de agradecer a todos e todas vocês que colaboraram comigo para que esse pequeno e simples artigo fosse publicado. Ficou claro que todos nós apontamos falhas porque queremos um Brasil melhor. Refletimos sobre os problemas e trouxemos para o Diário de Caratinga e assim poderemos de alguma forma contribuir para a construção de um País melhor. Debates de dimensões socioculturais e sociopolíticas geram desafios.
PAZ E BEM!