*Eugênio Maria Gomes
Começo este texto desejoso de não usar de certa letra do alfabeto. Mas, o faço também com o pensamento focado em escrever algo que não seja chato de se ler e que tenha algum contexto. Recordo-me, então, de uma festa dada pelo casal Marcos e Sarah, em julho do ano retrasado. Uma festa daquelas de “arrasar”, que costumam permanecer em nossa cabeça, para sempre.
A banda começou a tocar por volta das 19 horas. A turma chegou quase que de uma vez só. De longe, alguns me chamaram a atenção…
João chegou já cambaleando, trazendo uma garrafa de vodca, pela metade. De certo, tomou a outra metade pela estrada. Saudou o segurança, recebeu o “ok” por seu nome estar na relação e entrou na roda de dança. Com a garrafa agarrada ao braço, cortejou uma, duas, três moças, mas nenhuma delas aguentou o seu bafo de onça. Cansado, sentou-se em um pequeno sofá e passou então a saborear a outra metade da vodca.
Rosa chegou elegante, de longo branco, casaco vermelho e sapato de salto alto, da mesma cor dos cabelos e da bolsa: preto. Após passar pelo segurança, este a olhou dos pés à cabeça, sendo acompanhado pelos presentes, tamanha era a sua beleza. Entrou, olhou ao redor, procurou por alguém de suas relações e, não encontrando nenhum deles, sentou-se no mesmo sofá que João.
Nesse momento, passadas já umas duas horas do começo da festa, a garrafa de João estava zerada e o bafo de onça certamente era bem elevado, se comparado ao da sua chegada. Mas, Rosa não percebeu, olhando para outro lado, vendo a banda tocar. De repente João levantou-se, olhou nos olhos de Rosa e a chamou para uma dança. Surpresa, ela alegou estar esperando o Manoel, agradecendo-lhe o gesto elegante.
O tempo passou depressa e nada do Manoel chegar. João roncava sem parar e, vez e outra, recostava-se em Rosa, que o empurrava de volta. Ele então parava de roncar, arregalava os olhos e acordava. Às vezes dava um branco em João e então ele se levantava e chamava Rosa novamente para uma dança. Rosa, sempre educada, novamente falava que estava esperando o seu par, o Manoel. João, então, sentava-se de novo, fechava os olhos e roncava, recostava-se em Rosa e era recolocado por ela em seu lugar.
O sono chegou pesado, embalado pela canção e pelo elevado teor de álcool. João acabou dobrando-se no braço do sofá. Roncando alto, apagou-se de vez. Rosa, já cansada de permanecer sentada à espera de Manoel, levantou-se, pegou a sua bolsa, olhou para os lados e resolveu debandar-se da festa. Fazendo o percurso de volta, seu semblante alterou-se ao perceber, ao longe, a chegada de Manoel.
De posse da relação, o segurança olhou nos olhos de Manoel, chegou bem perto de sua orelha e falou: “seu nome não consta na relação”. Manoel, envergonhado, respondeu bem alto: “iiiiiiih”, entregando, então, a letra que não está neste texto.