(Noé Neto)
Meu amigo Almiro Furtado é um homem de grande sabedoria, com o qual gosto de trocar um dedo de prosa para falar sobre as coisas da terra, do campo e da política. Um fato que sempre me chamou a atenção, desde que o conheci, é que ele sempre afirmou que nosso país em breve cairia na “desdicha”. Essa semana, conversando com ele, ouvi: “Te disse Noé que chegaria, pois veja que a desdicha se abateu sobre o Brasil e vai ser difícil superar”.
A palavra “desdicha”, traduzida do espanhol pode representar: “desgraça, infortúnio, desventura, pobreza suma ou miséria”. Acredito que não há melhor definição para o estado de descaso pelo qual o povo brasileiro passa nesse momento. Como sempre Sr. Almiro tem razão. Parece-me que chegamos ao fundo do poço (se é que ele tem fundo).
Diante da aventura política de muitos (não vou dizer todos, pois acredito que ainda há homens de boa vontade na política) “representantes do povo”, vivemos uma verdadeira desventura, onde diariamente decisões que mechem com a vida do povo são tomadas a seu desfavor e ninguém parece se importar. São direitos a menos e deveres a mais para o povo, enquanto a classe dominante se blinda de todos os lados com direitos a mais e deveres a menos, em um verdadeiro jogo de pique esconde.
Enquanto isso, muitos que vivem na miséria, às margens da sociedade, quando acham que já perderam tudo, assistem perplexos a retirada do seu direito ao sono embaixo de uma ponte, sobre o chão frio e duro, pois sua presença ali descaracteriza a cidade. A mesma cidade que não oferece abrigo, emprego digno, moradia e políticas públicas que fomentem o fim da miséria. A pobreza suma se instala quando o pai e a mãe de família trabalham duro o mês inteiro, dependendo de um transporte público de péssima qualidade, de um sistema público de saúde doente e de uma educação abatida e não recebem seus salários no dia estabelecido, vendo-se obrigados a endividar em empréstimos com juros exorbitantes a fim de honrar, sabe-se lá até quando, seus compromissos.
Infortúnio que se instala no campo onde a competição desleal com os grandes, abate aos pequenos produtores. E se esses não são socorridos por políticas públicas de incentivo ao verdadeiro homem do campo, vão aos poucos deixar suas terras inférteis para buscar novos horizontes nas cidades que já estão abarrotadas de desempregados.
Desgraçados desprovidos de segurança que deixam de preocupar se vão ser vítimas de violência para preocupar em quando serão vítimas. Violência no trânsito caótico, nos presídios, contra bancos e comércios e até contra a própria polícia, instituição que luta diariamente com todos os recursos que possui para defender o cidadão de bem.
Como já disse anteriormente, não podemos generalizar. As palavras: todos e nenhum, quando aplicadas a pessoas não me são gratas, pois creio na individualidade do ser humano. Por isso, mesmo diante de uma enorme sensação de impotência acredito que somos capazes de nos retirar do fundo desse poço, não é esperar que alguém nos retire, é nos retirarmos, pois somos um povo bom, inteligente e guerreiro.
Se estamos vivendo em um trem desgovernado que desce montanha abaixo, temos que escolher: ou assistimos a tragédia e nos tornamos vítimas dela ou deixamos nossos assentos e tomamos o controle da máquina salvando o que ainda puder ser salvo.
Com mobilização, coragem e determinação podemos sim superar, pois como bem disse meu sábio amigo vai ser difícil, mas não impossível recuperar esse sistema infectado pela desdicha. Depois, instalaremos “la dicha”, pois merecemos um pouco de felicidade.
Prof. Msc Noé Comemorável.
Escola “Prof. Jairo Grossi”
Centro Universitário de Caratinga – UNEC
Escola Estadual Princesa Isabel.