Patrono da Cadeira nº 4 da Academia Caratinguense de Letras
* Mons. Raul Motta de Oliveira
Por bondade do fundador da Academia Caratinguense de Letras, Monir Ali Saygli, fui convidado a fazer parte dela, desde seus inícios, em 1983. Foi-me então permitido escolher o patrono da minha cadeira nº 4. Conhecendo, não só de visu mas profundamente, o nosso saudoso Monsenhor Rocha, sabedor de suas exímias qualidades literárias, seja na oratória, seja no jornalismo, optei pelo seu nome.
Nesta página do “Diário de Caratinga”, desejo não só lhe prestar justa homenagem, mas fazê-lo conhecido aos mais novos, pois faleceu há 38 anos (25/7/1979).
Dados biográficos
Aristides Marques da Rocha nasceu em São José do Alegre, hoje Joselândia, então município de Conselheiro Lafaiete, MG, aos 25/01/1888. Filho de Antônio Olintho Marques da Rocha e Rita Cesarina Condé da Rocha. Afilhado de Crisma do Arcebispo de Mariana, Dom Silvério Gomes Pimenta, da Academia Brasileira de Letras. Fez seus estudos secundários no Asilo do Patrocínio (1903-1908). No Seminário de Mariana, cursou Filosofia e Teologia. Ordenou-se Presbítero, aos 9/4/1912. Foi Vigário paroquial em Barbacena e Pároco de Piau (1912-1919). Em 1917, foi nomeado Cônego do Cabido Metropolitano de Mariana.
Aos 19/2/1919, o Cônego Aristides recebe a provisão de Vigário de São João Batista de Caratinga e Vigário Forâneo da Região, encarregado de preparar a nova Diocese, para receber seu primeiro Bispo. Já dia 1º de junho daquele ano, lançava aqui o jornal “O Missionário”. No ano seguinte, chega a Caratinga nosso primeiro Bispo, Dom Carloto Fernandes da Silva Távora, que o nomeia Vigário Geral (24/6/1920). Recebe o título de Monsenhor, dado pelo Papa Pio XI (28/7/1924). Foi Vigário Geral de Dom Carloto, Dom Cavati, Dom Corrêa e Dom Hélio. E Administrador da Diocese, nas vacâncias (1933-1935, 1936-1938 e 1956-1957).
Propagou entre nós o culto a Nossa Senhora do Rosário, construiu a nossa Catedral de São João Batista e muitas outras igrejas, bem como o Palácio Episcopal. Instituiu o Patronato Nª Sª do Rosário, onde, até morrer, juntamente com as Irmãs Gracianas, cuidou de meninos carentes, ensinando-lhes as primeiras letras, formando-os para a vida social e ainda capacitando-os para o trabalho, com uma profissão.
Monsenhor Rocha, Literato
Para a geração atual de caratinguenses mais maduros, que conviveu com Monsenhor Rocha já octogenário, talvez cause estranheza a escolha de seu nome para Patrono da Cadeira Nº 4 da Academia Caratinguense de Letras. Mons. Rocha se tornou célebre pela sua atuação dinâmica, por 60 anos, não só na cidade mas em toda a Diocese de Caratinga. Como zeloso apóstolo do Evangelho e da devoção a Maria Santíssima. Como o braço forte de todos os nossos Bispos. Como o incansável construtor de templos. Como o dedicado pai dos pobres. Enfim, como aquele “anjo da guarda” que, mesmo nos seus últimos momentos de vida, ainda transmitia a todos a coragem e a força de sua inquebrantável fé e seu alegre otimismo.
Uma faceta, porém, de sua tão rica e preciosa existência, parece não ter sido devidamente sublinhada: o seu dom de orador de primeiro quilate e a sua imensa capacidade de manusear a pena, durante os quase 20 anos quando editou e dirigiu o jornal “O Missionário”, aqui em Caratinga (1919-1838).
Seus dotes oratórios, seu português castiço, seu pensamento límpido, seus arroubos de eloquência, sua voz tonitruante, fixaram-se na lembrança de todos os que tiveram a dita de ouvi-lo. As mais das vezes, no púlpito sacro, ora implantando nos corações a semente do Evangelho de Jesus; ora invectivando os erros e os vícios; ora transmitindo a todos o seu terno amor pela Virgem do Rosário. Mas também, seus discursos marcavam o ponto máximo das festividades cívicas e até mesmo campanhas políticas de que participava.
Terei ainda ocasião de falar mais detalhadamente sobre seus sermões e sobre seus dotes jornalísticos, pois o Arquivo Diocesano de Caratinga possui a coleção quase completa de “O Missionário”, vários números da “Gazeta do Piau” (1916) e ainda uma preciosa brochura, contendo 12 sermões seus, plenos de sabedoria e de literatura. Até a próxima.
* Mons. Raul Motta de Oliveira
Membro da Academia Caratinguense de Letras