Designer caratinguense Alessandro Alvarenga fala sobre o sucesso de seus trabalhos, com ecos no Brasil e no exterior
Uma profissão desafiadora e que exige criatividade. O designer, além da técnica, precisa apresentar um produto que seja a cara do cliente. Essas características não passam despercebidas pelo caratinguense Alessandro Alvarenga. O trabalho do designer, que atualmente mora em Belo Horizonte, tem ganhando notoriedade. Recentemente, ele participou do DMAIS Design, evento que reuniu o melhor do Design de Minas Gerais. Alessandro também participou da mostra “Anatomia do Design” e fez sucesso.
Apesar das premiações que coleciona (no Brasil e no exterior), além de sua participação em eventos como este realizado na capital mineira, Alessandro Alvarenga rejeita as futilidades da fama: “Não sou uma pessoa do glamour e não faço questão disso”, afirma. E isso novamente se manifesta quando ele é questionado sobre as tendências e o que é ser chique: “Chique é não ser perdulário e ostentar coisas que no fundo, são inúteis”.
Para o designer, não há que se dizer em tendências, quando se tem bom gosto. Nesta entrevista concedida ao DIÁRIO DE CARATINGA, ele fala sobre sua carreira e suas expectativas.
Você nasceu em Caratinga. Por quanto tempo ficou na cidade e por quais outros locais já passou?
Nasci em Caratinga e permaneci até os 18 anos, quando me mudei para Belo Horizonte, onde morei até os 31 anos. Nesta idade, me transferi para o Rio Grande do Sul e residi por quase seis anos. Tive uma passagem de um ano e meio no Paraná e retornei a Belo Horizonte há três anos.
Como descobriu o gosto pelo design? Os seus traços de criatividade já despontavam desde a infância?
Desde criança fui muito curioso sobre o funcionamento das coisas, desmontava o telefone de casa, brinquedos, etc. Acredito que foi a leitura e os filmes que reforçaram esse desejo pelas artes e pelo “como se faz” por trás de tudo. Sempre construí brinquedos, maquetes e desenhava muito. Fui uma criança sensível e que, de certo modo, se rebelou contra o convencionalismo e por não buscar respostas ortodoxas para a vida, principalmente no que diz respeito a minha realização profissional.
Como é seu processo de trabalho, desde a matéria-prima, que é transformada pelos processos industriais e artesanais até o objeto finalizado?
Minha trajetória profissional me capacitou a pensar de diversas formas um produto. Sou graduado em Design Industrial pela UEMG, pós-graduado em Gestão de Projetos pela Fundação Dom Cabral e iniciei um mestrado em Engenharia pela UFMG. Penso na possibilidade da indústria que me contrata, a tecnologia disponível, o mercado que a empresa atende. Em muitas situações me deparei com projetos eminentemente artesanais pela exigência dos próprios objetos (no caso das joias, que desenhei por muitos anos) ou extremamente tecnológicos, como os instrumentos cirúrgicos que desenhei juntamente com Dr. Ferrara que criou toda a técnica de cirurgia e instrumental para a correção do Ceratocone. Atualmente crio produtos onde o fazer artesanal valoriza o projeto num limite interessante, o que faz um produto diferente da concorrência é o caráter da execução que deseja transmitir. Num projeto atual, fui contratado por uma empresa chinesa que produz tecidos de linho, algodão entre outros. Exigindo viagens constantes para aquele país. Trabalho imerso numa cultura milenar, onde somente eu e mais minha colega chinesa conseguimos comunicar, foi necessário compreender profundamente a técnica da tecelagem e propor um olhar contemporâneo e internacional para produtos tão preciosos. Estou desenvolvendo esses tecidos para mercados europeu e americano. Acredito que o produto final é resultado da história de quem fabrica, do respeito ao fazer de cada empresa e o entendimento que, o que desenvolvemos deve permanecer na linha de tempo.
O designer projeta visando atender a uma necessidade?
Nem sempre. Muitas vezes nos deparamos com objetos que são voltados ao colecionismo, quase obras únicas e de arte. O design hoje se presta a uma infinidade de coisas e existe desde o design silencioso e cotidiano (a escova de dentes, por exemplo, não possui assinatura e não precisa disso para ser vendida) às cadeiras caríssimas e únicas. Existe aquilo que é necessário e aquilo que atende à necessidade de se mostrar aos outros que se adquiriu algo que muitos não podem ter.
Certa vez, em seu perfil nas redes sociais, você disse que uma de suas maiores fontes de inspiração é a “Sequência de Fibonacci”. Esse recurso matemático também foi uma das grandes marcas do Renascimento. Como isso se reflete em seus produtos?
Uso a sequência Fibonacci em quase tudo que crio. Ela é um recurso matemático maravilhoso e que está presente em tudo na natureza, é como se pudéssemos traduzi-la, mas ainda de maneira misteriosa, não sabemos explicar porque algo é tão belo e agradável aos olhos. Utilizo-a muito para balancear proporções entre as partes componentes de um produto ou quando crio fotos editoriais para meus clientes. Insiro tudo dentro de proporções que são desmembramentos de um dos elementos do todo. Uma coisa complexa e que fui depurando ao longo de 17 anos de profissão.
A Itália realiza o prêmio “Compasso d’Oro”, considerado o prêmio Nobel do design. Um evento deste porte ainda é uma realidade distante do Brasil?
No Brasil existe apenas um concurso do gênero muito sério que é o Prêmio Design Museu da Casa Brasileira e que laureia os melhores projetos do país, porém é um prêmio que não tem uma proporção grande ao ponto de chamar atenção do público em geral. Existe também o IF Design, que é da Alemanha e que possui seu braço no Brasil, credenciando a indústria brasileira apenas com projetos muito bons. Acredito que a cultura brasileira do design esteja engatinhando ainda, e cada vez mais a indústria tem buscado o designer como peça imprescindível para seu desenvolvimento. Na Itália, os consumidores compreendem um prêmio de design e consomem determinado produto por causa do prêmio e suas qualidades; o design é incorporado à cultura de massa. No Brasil, infelizmente, é algo para pessoas de grande poder aquisitivo ou muitas vezes não chega ao consumidor médio. O Compasso D’Oro foi um divisor de águas na Itália, que foi um país devastado pela guerra e pelo regime populista de Mussolini. Os italianos perceberam que a única forma de driblar tudo isso era com sua cultura do fazer com perfeição e a inteligência, voltado para o mundo. O Brasil ainda quer exportar uma cultura do “jeitinho” que só nos prejudica, falta inteligência na indústria e cultura para o consumidor.
Você já foi premiado no Brasil e no exterior. O que você ainda almeja?
Tive essa sorte. Digo sorte, pois, diante de tantas barreiras culturais ou da própria falta de recursos tecnológicos, caí na graça de juízes que perceberam valor no que fiz. Ainda trabalho muito; viajo periodicamente para São Paulo, Paraná, Europa e agora China. Desejo apenas para o futuro que continuem a existir desafios e que cada vez mais possa desfrutar do amor das pessoas que escolhi para amar. Amor deveria ser meta na vida.
Recentemente, você participou da DMAIS Design, semana de design que movimentou a capital mineira entres os dias 13 e 18 de Junho. Como foi participar de um evento totalmente dedicado à valorização dos designers mineiros?
Senti-me muito feliz. Costumo dizer que o profeta na sua terra não tem voz; de fato, alcançar notoriedade no mercado mineiro é falar sobre o “petit café” das relações interpessoais. Não sou uma pessoa do glamour e não faço questão disso, mas reconheço que fazer parte dos eventos, mostrar meu trabalho entre outros trabalhos de profissionais, foi algo maravilhoso. Minas Gerais gera muita arte e cultura, mas o mineiro ainda é tímido e “bairrista”, o que nos impede de extrapolar as montanhas, por isso São Paulo e Rio de Janeiro nos enxergam e nos classificam como “locais”. Nos falta autoestima e visão “para fora”.
Muitas pessoas ao adquirirem um produto, buscam o que é considerado tendência. Em sua concepção, o que é ser chique?
Tendência não quer dizer nada quando não se tem história ou construção de um gosto pessoal. Tendências são burras e criam uma espécie de “catequismo” de consumo vazio. Prefiro dizer BOM GOSTO. Ou se tem ou não. Chique é ser respeitoso com outros seres humanos. Chique é não ser perdulário e ostentar coisas que no fundo, são inúteis. Chique é reciclar. Chique é comprar apenas o que é necessário. Chique é viajar e conhecer outras culturas e frequentar galerias ao invés de shoppings. Chique é ter amigos, de verdade. Chique é cozinhar para as pessoas que amamos. Chique e luxuoso é amar, raridade nos dias de hoje. Chique é ter amor próprio e autoestima suficientes para não aceitar o que os outros acham que é certo, sem questionar. Chique é ser inteligente.
“Chique é não ser perdulário e ostentar coisas que no fundo são inúteis”.
“O Brasil ainda quer exportar uma cultura do ‘jeitinho’ que só nos prejudica, falta inteligência na indústria e cultura para o consumidor”.
“Tendências são burras e criam uma espécie de ‘catequismo’ de consumo vazio. Prefiro dizer BOM GOSTO. Ou se tem ou não”.
2 Comentários
professor Marcelo Moraes
Vamos Ajudar nesta Historia: Professor Marcelo,
Bom dia!
Estamos querendo montar um sistema de comunicação através de Rádio PX na zona rural onde moramos, na região de Caratinga/MG. São mais ou menos 50 famílias e com aproximadamente uns 10 quilômetros de alcance uns dos outros e é uma região com montanhas e vales.
Qual a melhor dica que o senhor pode nos dar para trabalharmos com esse meio de comunicação?
Abraços Sidney Caetano
Vamos Ajudar estas pessoas: Professor Marcelo Moraes do Youtube
https://www.youtube.com/user/proinfomor
professor Marcelo Moraes
Resposta em Vídeo no Youtube;
https://www.youtube.com/watch?v=0Is0rx0eIgM&feature=youtu.be