Cadeirante há cinco anos, Tom deseja se tornar um atleta profissional de CrossFit. Campanha busca arrecadação de R$ 9.000 para aquisição de cadeira própria para prática do esporte
CARATINGA- Uma história de superação no esporte e na vida. Tom Rodrigues, 22 anos. Um jovem que convive com a paraplegia há cinco anos, desde que sofreu um acidente de moto. Com muita garra e determinação, ele não deixou se abater e descobriu no esporte um motivo a mais para vencer todos os dias. É no CrossFit- técnica que reúne de diversas modalidades em um único treino, que Tom tem se realizado e sonha em ser um atleta profissional.
O DIÁRIO DE CARATINGA esteve na Strong Box, espaço onde ele realiza os seus treinos, para conhecer esta história. É por lá também que teve início uma campanha para arrecadar o valor necessário para aquisição de uma cadeira própria para a prática da modalidade.
“Situações difíceis constroem pessoas mais fortes”.
A frase acima está estampada na camisa que Tom usava durante a entrevista. E ela expressa bem o comportamento dele. Com bastante calma, ele relembra como foi o acidente e conviver com a notícia de que havia perdido o movimento das pernas. “Tive uma lesão na medula, fratura na coluna. Foi na BR, estava indo para Ipanema quando sofri o acidente. De início eu meio que assustei um pouquinho, mas, foi só o impacto, não cheguei a ficar depressivo. É uma coisa nova, uma realidade totalmente diferente, mas, foi tranquilo. Só um susto mesmo”.
Conforme Tom, antes do acidente, ele já havia praticado musculação por um ano e estava com um projeto para competir no fisiculturismo. No entanto, durante a recuperação, perdeu toda a massa muscular que havia adquirido. Mas, há quatro meses, decidiu iniciar no CrossFit, após uma conversa com o ortopedista que o acompanha. “Pesquisei um pouco sobre, vi o ganho que eu poderia ter no dia a dia, na saúde, no meu desempenho, qualidade de vida. Vim conhecer, a galera me ajudou e me apaixonei pelo esporte. Fiquei um mês parado, tive alguns problemas de saúde. Mas, treino de segunda a sexta, normalmente pela manhã. Tenho acompanhamento com a nutricionista, é uma alimentação mais saudável possível, para associar com o treino”.
No box, Tom se desafia a cada dia. Além da prática de exercícios, ele é muito querido e fez grandes amizades. “Graças a Deus, todo dia é um limite novo, o CrossFit é a cada dia um desafio. É um exercício novo, que venho me superando. A união da galera aqui do box, todos os alunos que treinam, aqui é uma família, todo mundo brinca, conversa interage, não tem aquele antissocial”.
Há pouco tempo treinando, ele já observa muitas diferenças no seu corpo, o que impacta na sua própria rotina em casa. “Tive ganho de força, controle de tronco (que eu não tinha), já tive um pouco de ganho de massa muscular. Agilidade nas minhas transferências para o carro, chão, a cama, o dia a dia. Melhorou muito”.
Tom segue focado no objetivo de se tornar um atleta e participar de competições. Para isso, junto com alguns amigos, ele abriu uma Vakinha Online para arrecadar R$ 9.000, valor da cadeira apropriada para os treinos. “A minha cadeira atual não é adequada, ela está danificando. Por ela desmontar, vai gastando as peças e corre o risco de quebrar. E a cadeira pra mim é minha perna, minha liberdade. Sem a cadeira não sou nada, não consigo sair e fazer nada. A cadeira apropriada para a prática do CrossFit é fixa, não desmonta, é mais resistente. Eu com a galera do box, tivemos a ideia de fazer uma campanha para adquirir essa cadeira e eu possa evoluir nos treinos, pois o preço é muito caro”.
EVOLUÇÃO
Tiago Rodrigues Lucarelli, ortopedista e traumatologista, especialista em quadril, acompanha o Tom já há algum tempo. Ele indicou atividades físicas para o paciente. “Ele me procurou no consultório, devido ao acidente que ele teve, três anos após o trauma, que estava tendo algumas intercorrências sobre a cirurgia e comecei a acompanhá-lo. Nesse período conseguimos realizar uma outra cirurgia, retiramos o material que ele tinha operado e continuei dando seguimento. Um dia numa conversa informal de consultório, questionei ele sobre atividades físicas. Eu já pratico CrossFit há três anos e perguntei se ele não tinha interesse de fazer alguma atividade, pelo fato de ser um paciente jovem e ele me relatou que já tinha feito uma aula experimental e gostou muito. E montamos uma equipe multidisciplinar para dar um apoio para ele treinar. Hoje, ele conta comigo, o Nicolas, Amarildo mais o fisioterapeuta e outros grupos para treinamento”.
O profissional já tem observado uma evolução no quadro clínico do jovem. “É muito interessante observarmos no paciente igual ao Tom, que teve uma lesão de coluna alta, a nível de T4 a T6, ele teve perda dos movimentos da altura do peito para baixo, então tem muito pouco força de abdômen e coluna lombar, indo força zero de membros inferiores. Incluímos o treino de CrossFit na vida dele, por dois motivos, para a inclusão social, a pessoa se sente unida de novo ao grupo, consegue fazer novas amizades, mas, principalmente, facilitar na vida diária. Hoje observamos nele um grande aumento de força de abdômen e tronco, controle da postura dele, mesmo na cadeira, o que facilita o dia a dia de sentar na cadeira, deitar numa cama, conseguir fazer sua higiene pessoal. Vemos isso em pouco tempo de treino, uma evolução muito grande. A cada dia que passa, pelo acompanhamento, percebemos ganhos acelerados, isso tem muita importância pelo fato dele ser jovem também, ajuda. Ele tem grande desenvolvimento de massa muscular”.
Tiago acredita que Tom é um exemplo para outras pessoas que são portadoras de alguma deficiência, demonstrando que elas também são capazes. “A deficiência hoje pode ser física, mas não deve ser limitante ao total. Hoje aqui no box, contamos com alguns treinos adaptados para cadeirantes, temos apoio de outros grupos no Brasil que já treinam isso, então isso facilita a nossa assessoria aqui. E faz com que cadeirante possa vir e praticar o esporte. Isso vai melhorar não só o condicionamento físico, mas a mobilidade diária. É mostrar que essa pessoa é capaz”.
OS TREINOS
Nicolas Gomes, coach do box, acompanha os treinos de Tom. Ele aceitou o desafio de adaptar os treinos e explica como o trabalho tem sido realizado. “Aqui é um centro de treinamento. Ele faz praticamente o treino que todo mundo faz, mas adaptado para a deficiência dele. Pelo fato dele não conseguir estabilizar o tronco direitinho ainda, temos trabalhando bastante exercícios de força com ele, para estar ganhando a ativação do core de novo, a musculatura dele existe, mas está adormecida, por ele ter ficado praticamente cinco anos sem fazer exercício físico”.
Desde as barras até alguns exercícios mais complexos, como o exercício com a corda, Tom vem desempenhando com excelência tudo que é proposto. Nicolas frisa a importância do uso de outra cadeira. “Nos treinos sempre tem um atrás da cadeira dele, porque quando ele faz os movimentos de arranco, puxar a barra e tudo, a cadeira dele tende a jogar ele para trás. E quando acontece isso, ele desestabiliza completamente o tronco, sem contar que pode cair. Ficamos ali para dar um suporte mesmo em relação à cadeira, para não virar, porque ela não é apropriada para a modalidade. Estamos fazendo uma campanha para arrecadar esse dinheiro, para que ele possa ficar mais independente dentro da modalidade, poder fazer os seus treinos sozinhos, vamos supervisionar do mesmo jeito, mas ele estará mais confiante”.
Uma questão que tem preocupado é o risco da cadeira de rodas que Tom utiliza para se locomover, quebrar durante os treinos. Por isso, eles pedem a solidariedade da população. “O Tiago há dois meses deu manutenção na cadeira dele, revisão, trocou todos os rolamentos e ela já bambeou toda. Apertamos ela de novo várias vezes e agora começou a quebrar, ela é soldada em várias juntas e está quebrando essa solda. Estamos começando a fazer trabalho com a barra, anilha. Estamos com medo de continuar treinando e a cadeira dele quebrar, que é o meio de locomoção dele. Essa campanha é para que ele tenha duas cadeiras, uma para o treino e outra no dia a dia”.
Como contribuir
Quem desejar contribuir com qualquer quantia para aquisição de cadeira própria para que Tom prossiga com seus treinos no CrossFit, pode contribuir através do site https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-a-comprar-a-cadeira-para-treinar-crossfit. Também há uma caixinha disponível na Strong Box (Avenida Dário Grossi, 1.603), onde é possível fazer sua contribuição.