O palhaço Larápio sempre foi especialista em fazer rir, contudo não sabia ser feliz. A cada espetáculo produzido, arrancava gargalhadas do público, que diante dele esquecia toda opressão sofrida.
Com o passar dos anos, a fama do artista se estendia e seus minutos de apresentação foram aumentando até atingir o ápice: um show todinho seu! Regido por sua vontade e escrito na sua cadência. O velho picadeiro, tornou-se nobre palco.
O sucesso, muitas vezes adversário ardente da humildade, aos poucos foi exigindo do nobre palhaço que grande parte do seu trabalho fosse realizado sem a presença da companheira máscara, despido das roupas largas e sem o nariz vermelho.
Debruçado sobre seu show e imerso na desgraça, no mais profundo sentido da palavra, viu-se incapaz de rascunhar alegrias que trouxessem sorrisos largos para seu show. Afinal, como doar o que não possuía?
Em profundo flagelo e já desfeito em sua fisionomia, não era mais possível notar sequer um risco de alegria. Como consequência óbvia, as arquibancadas do tradicional circo foram se esvaziando. Assim, a bilheteria não pagava mais o espetáculo, trapezistas e malabaristas se esforçavam para manter o equilíbrio, mas a essência prometida, distanciava-se do show prometido e este, aos poucos, definhava entre poucas palmas e muitas críticas.
O que fazer? Perguntou o nobre artista à consciência. Conhecendo-o como ninguém, ela o aconselhou retroceder. “Busque novos artistas, que possuam a alegria que você não tem e, se possível, aproveite, se permita ser feliz também!”
Amargurado em sua profunda vaidade, ofendido em seu ego supremo, Larápio muito se ofendeu. Com ação enérgica, fez o bloqueio da própria consciência de toda sua rede neural, chamou-a de velha inútil, afirmando: “não há ninguém melhor que eu.”
Sem expectativa de melhoras, aos poucos os espetáculos eram cancelados, os melhores profissionais buscavam outros picadeiros e se distanciava a possibilidade de recuperação.
Como medida drástica, mesmo não gostando, o fracassado artista foi em busca de aconselhamento ao encontro da esperança. Para ele, era a possibilidade de receber um sopro de alívio na angústia vivida.
A última que morre olhou em seus olhos lacrimejados cercados do sorriso amarelo e lhe aconselhou: “busque novo elenco, recomece para ser feliz, traga luz ao palco dividindo o espetáculo.”
Ofendido profundamente, ferido de honra, sem pestanejar, a esperança ele matou. Irritado, questionava em sua defesa que não podia dividir o que sozinho conquistou.
Desiludido, inconsciente e desesperançoso o circo fechou. Ao palhaço restou a máscara, que por merecimento carregou.
Enquanto vagava desiludido, em um dos acasos da vida, com a franqueza se encontrou. Imediatamente, buscando respostas, alvoroçado a perguntou: “Oh, minha amiga, por qual motivo me abandonou?”.
Olhando-lhe profundamente, antes de responder, a nobre dama suspirou. “Não poderia te abandonar, se de suas decisões, com a verdade nunca me participou, então, caro palhaço, poupe-me de seu teatro, que meu julgamento não te dou.”
Foi o fim de uma era, tão cheia de risada e miséria, que sem rumo se tornou. Ao palhaço, restou o velho picadeiro, onde em um pranto derradeiro a velha máscara ele tirou.