Num reino muito distante, havia um homem simples, do povo, que desejava um emprego. Tinha mulher e filhos e necessitava trabalhar. Foi, então, ao palácio. O rei, amável e bom, o recebeu muito bem. Ao pedir um emprego, o rei lhe perguntou se ele tinha inimigos. O homem respondeu que não. O rei lhe disse: “Só emprego pessoas que tenham inimigos, porque ter inimigos é um sinal de que a pessoa trabalha bem e realiza um trabalho que o faz realçar. Se uma pessoa não possui inimigos é porque ela não faz nada de grandioso.” Vá para casa e, quando encontrar um inimigo, volte para me falar.
O homem saiu triste, porque não sabia o que fazer. A mulher, astuta e inteligente, resolveu ajudá-lo a encontrar um inimigo. Logo, abriu a janela de sua casa e contou para a amiga vizinha que o marido ia trabalhar com o rei num cargo muito importante. A vizinha sorriu e parabenizou. Em pouco tempo toda a vizinhança ficou sabendo do fato. E depois, todos da rua e da pequena cidade ficaram sabendo também. E as pessoas comentavam sobre o assunto e diziam que era um absurdo o rei contratar aquele homem que, para eles, não tinha talento nem valor algum.
Depois de alguns dias, o homem se aprontou e foi ao encontro do rei para lhe dizer que não poderia aceitar o trabalho porque não conseguiu arranjar um inimigo. Ao sair de casa, foi brutalmente agredido e ouviu xingamentos. O agressor o chamava de impostor por não ter merecimento para ocupar o cargo oferecido pelo rei. O homem livrou-se do agressor e chegou à presença do rei. O monarca foi logo perguntando se ele conseguira um inimigo. O homem respondeu que tinha inimigos e lhe mostrou os ferimentos dos ataques que sofrera. O rei deu-lhe o emprego. Ele, muito feliz, sabia que deveria trabalhar muito para causar inveja, pois os que realçam com atividades bem feitas atraem inimigos. E causando inveja, com certeza, seu trabalho seria louvável. E era isso que o rei desejava: um bom funcionário.
Este texto foi narrado em um dos livros de Malba Tahan, grande escritor brasileiro. Transcrevi, com minhas palavras, por não ter em mãos os livros do aclamado autor. Ofereço ao amigo Humberto Luiz Salustiano Costa, que tanto gosta dessa história e da mensagem que ela contém.
Marilene Godinho