Psicóloga fala sobre os fatores que podem prejudicar a qualidade de vida do trabalhador
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), “saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade”. E que implica muito mais que a ausência de doenças mentais.
A Organização ainda afirma que as situações de competição são as principais causas de estresse associado ao trabalho. Estatísticas apontam que uma a cada cinco pessoas no trabalho podem sofrer de algum problema de saúde mental. “Esses problemas vão impactar diretamente no ambiente de trabalho, causando perda de produtividade e faltas ao trabalho, entre outros”, cita.
Para a OMS, a saúde do trabalhador e um ambiente de trabalho saudável são valiosos bens individuais, comunitários e dos países. “A saúde ocupacional é uma importante estratégia não somente para garantir a saúde dos trabalhadores, mas também para contribuir positivamente para a produtividade, qualidade dos produtos, motivação e satisfação do trabalho e, portanto, para a melhoria geral na qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade como um todo”.
Sobre a saúde mental no trabalho, o DIÁRIO SAÚDE traz entrevista com a psicóloga Adriana de Souza Neto.
O trabalho pode influenciar na saúde mental?
O trabalho pode sim influenciar, prejudicar ou aumentar o sofrimento e possíveis adoecimentos mentais ou psicossomáticos. Essas influências podem ser propiciadas através dos seguintes fatores: estresse, fofocas, condições físicas de trabalho inadequadas, relacionamento difícil com a chefia, com subordinados, colegas, clientes, insatisfação com o trabalho, falta de reconhecimento, pressão, responsabilidades, sensação de ser vigiado e orientações contraditórias para a execução da tarefa.
Quais são os principais fatores de risco para a saúde mental dos trabalhadores?
Atualmente existem diversas características do trabalho que geram riscos à saúde mental dos trabalhadores, entre os quais, a exposição a agentes tóxicos, a altos níveis de ruído, a situações de risco à integridade física, como, por exemplo, trabalho com compostos explosivos ou sujeitos a assaltos e sequestros, além desses fatores de riscos podemos citar também as formas de organização do trabalho e as políticas de gerenciamento que desconsideram os limites físicos e psíquicos do trabalhador, imposição frequente da anulação de sua subjetividade para que a produção não seja prejudicada e as metas estabelecidas sejam cumpridas.
A profissão em si pode desencadear a depressão ou é a insatisfação com o ambiente de trabalho?
O ambiente de trabalho é potencialmente estressante e por esse motivo ele pode levar os trabalhadores a estados de exaustão e até mesmo acarretar em quadros mais graves, como a depressão, por exemplo. Nesses ambientes negativos podem surgir por influências internas ou externas, que vão desde crises econômicas até o mau gerenciamento. Atualmente tem sido muito comum encontrar funcionários insatisfeitos e inseguros com relação ao futuro, conversas de corredores e fofocas cada vez mais tóxicas e um clima de pessimismo generalizado, assim, esse ambiente nada saudável pode desencadear um adoecimento mental aos trabalhadores.
Tachada de mal do século, a depressão é responsável por retirar do mercado de trabalho milhares de profissionais todos os anos. Qual a importância das empresas terem a preocupação com este tipo de transtorno, dentro de suas políticas voltadas aos funcionários?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que, até 2020, a depressão passará da 4ª para a 2ª colocada entre as principais causas de incapacidade para o trabalho no mundo. Estima-se que 121 milhões de pessoas sofram com essa doença, sendo 17 milhões só no Brasil. Há alguns anos atrás as doenças psiquiátricas eram ignoradas pelas empresas, elas não reconheciam a gravidade da doença, pelo contrário, viam apenas como uma tristeza passageira ou como desinteresse do funcionário pelo trabalho acarretando um comprometimento na produtividade desse indivíduo. Diante disso os profissionais sofriam em silêncio e acabavam demitidos. O tabu em relação a doença mental tem mudado, as empresas passaram a entender melhor a doença e a lidar melhor com os funcionários que sofrem com ela fazendo com que esses não precisem mais se esconder para evitar a incompreensão dos chefes. A criação de políticas voltadas para o clima organizacional para proporcionar um ambiente mais saudável, o investimento em programas de qualidade de vida, o incentivo a realização de atividades físicas são iniciativas importantes para o cuidado com a saúde mental e a prevenção de doenças. Assim, terão colaboradores mais atuantes e consequentemente melhores resultados, já que, pessoas mais saudáveis são mais produtivas.
Como diagnosticar que o transtorno mental está relacionado ao trabalho?
Através de uma avaliação criteriosa que inclui a escuta profissional, com a aplicação de técnicas e testes é possível diagnosticar se a doença mental está relacionada à vida laboral. É necessário o acompanhamento profissional devidamente credenciado, o médico psiquiatra e o psicólogo são capacitados para diagnosticar e tratar o indivíduo doente com medicamento e psicoterapia.
Há uma forma de fazer com o que o trabalhador retome o ânimo às suas atividades ou a medida é mesmo o afastamento?
A interação medicamento e psicoterapia são eficazes no sentido de tratar os quadros de fadiga, desânimo, cansaço, memória prejudicada, insônia e outros sintomas que denunciam um sofrimento mental. É essencial que o trabalhador busque ajuda especializada com o médico psiquiatra e o psicólogo o quanto antes para que o quadro não se torne mais grave e o afastamento seja necessário.