* Raquel Xavier Ligeiro Dias
O sistema imunológico é composto por genes, moléculas, células que interagem entre si para garantir a homeostase do organismo. Dessa forma, o sistema imunológico realiza uma vigilância contínua contra patógenos, traumas, doenças autoimunes e agentes neoplásicos. Ao nascer, o sistema imunológico do bebê é imaturo. Defesas como a acidez estomacal e a microbiota intestinal apresentam uma menor capacidade de eliminar os patógenos. Nesse sentido, o leite materno é o alimento ideal por possuir componentes imunológicos e nutricionais que favorecem a maturidade da mucosa intestinal e compensam a fragilidade do sistema digestório em responder a agentes agressores, assim como de outros sistemas fisiológicos, contribuindo para a defesa do bebê durante os primeiros dois anos de vida.
Durante o período neonatal, estratégias como a transferência de imunoglobulina G (IgG) da mãe ao feto durante a gravidez e a ingestão de compostos imunológicos do leite compensam a imaturidade imunológica observada nessa fase. A passagem de imunoglobulinas, também chamadas de anticorpos, ocorre principalmente nas últimas semanas de gestação. Dessa forma, crianças prematuras apresentam um risco maior de desenvolverem infecções nos primeiros meses de vida. Os lactentes só irão produzir quantidades satisfatórias de imunoglobulinas a partir do sexto mês de vida, quando estimulados pelo contato com os patógenos e pelas vacinas. Além das imunoglobulinas ofertadas pela mãe durante a gestação, o leite materno oferece imunoglobulinas e outras proteínas que serão fundamentais para que o bebê desenvolva a sua própria imunidade.
Segundo os pesquisadores do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz, a amamentação é uma forma de preparar o indivíduo e determinar como será sua saúde até à terceira idade. O leite materno, também chamado de ‘sangue branco’, contém uma variedade de proteínas funcionais, incluindo imunoglobulina A (IgA), lactoferrina, fatores de crescimento e citocinas capazes de tornar a criança imunocompetente. Benefícios como: menor o risco do desenvolvimento de dengue devido à presença de um fator antidengue no leite materno, a redução do risco de alergias e linfoma durante a vida adulta são atribuídos ao aleitamento materno. Seis meses de aleitamento materno podem reduzir em trinta e três por cento o risco de linfoma, um tipo de câncer oriundo no sistema linfático, na idade adulta. Alimentar exclusivamente uma criança com leite materno por, pelo menos, dois meses reduz em seis vezes o risco da ocorrência de uma alergia na vida adulta.
Dentre as proteínas presentes no leite, a lactoferrina se destaca por ser a segunda mais abundante e por desempenhar funções fisiológicas na proteção do trato gastrintestinal e atividade antimicrobiana. Diante da importância da lactoferrina na prevenção de doenças infecciosas, a indústria vem desenvolvendo tecnologias para expressar essa proteína recombinante na tentativa de adequar a composição das fórmulas infantis àquela do leite materno. Vale ressaltar a importância de tais iniciativas que visam a beneficiar crianças que por diversas questões não podem receber o leite materno, seja de forma total ou parcial.
O aleitamento materno é uma estratégia natural de vínculo, carinho, nutrição e proteção para a criança e os benefícios observados só fortalecem ainda mais a recomendação para prática de forma exclusiva nos primeiros seis meses de vida.
* Raquel Xavier Ligeiro Dias possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas. Especialista em Biotecnologia pela Universidade Federal de Lavras. Mestre em Ciências Naturais e da Saúde pelo Centro Universitário de Caratinga- UNEC. Doutoranda em Bioquímica Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa. Docente e pesquisadora dos cursos vinculados ao Instituto de Ciências da Saúde: Enfermagem, Fisioterapia, Nutrição e Medicina do Centro Universitário de Caratinga- UNEC.
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