Moacir Silva, o ‘Tio Moá’, considerado o maior jogador da história do futebol caratinguense, conta um pouco de sua trajetória
CARATINGA – Sentado em um banquinho no pátio do Asilo Pastor Geraldo Sales, um senhor tranquilamente observa a revoada de pássaros numa manhã de final de inverno. O clima é ameno e as nuvens escondem o sol, mas mesmo assim, o senhor prefere um banco debaixo de uma árvore. Uma funcionária do asilo leva a equipe do DIÁRIO até o ancião e avisa: “Senhor Moacir, querem lhe entrevistar. Estão dizendo que o senhor foi bom de bola”. Nessa hora, o idoso abre um sorriso e fala: ‘fui mesmo’.
Aparado por uma bengala e com a ajuda da funcionária, Moacir Silva, o ‘Tio Moá’, 79 anos, desce uma rampa. Os passos lentos contrastam com a agilidade do passado. Mas a classe ainda permanece intacta. Um boné, camisa listrada, limpa e bem passada mostram que Tio Moá continua com a elegância de sempre. Elegância essa que desfilou pelos gramados de Caratinga e região. Para muitos, esse é o maior jogador de futebol da história da ‘Cidade das Palmeiras’, uma verdadeira lenda, alguém que poderia ter sido muito maior se tivesse feito certas escolhas, mas Tio Moá preferiu ficar em Caratinga.
Nascido em Rocha Miranda (RJ) no dia 10 de dezembro de 1938, chegou ao Esporte Clube Caratinga em 1960, fez sua estreia na derrota para o União Rodoviário por 3 a 1. O rubro-negro pediu a revanche e venceu por 8 a 1. Porém, o jogo que marcou Tio Moá foi a vitória por 1 a 0 contra o Bonsucesso carioca, no dia 21 de janeiro de 1967, no estádio Dr. Maninho.
VINDA PARA CARATINGA
Às vezes, Tio Moá demonstra certa dificuldade em concatenar suas ideias. Ao recordar de sua infância, mesmo morando no Rio de Janeiro, disse que gostava do Corinthians. Também conta com orgulho de um ídolo que viu jogar. “Leônidas da Silva, o ‘Diamante Negro’, inventor do gol de bicicleta. Esse jogava muito”, avalia.
Sobre a vinda para Caratinga, recorda que jogava pelo Itaperuna (RJ) e recebeu até convite para testes no Fluminense. “Engraçado que era um deputado flamenguista que quis me levar para o Fluminense (risos). Então, as coisas não deram muito certo. Ouvi falar de Caratinga e vim pra cá, onde estou desde 1960”, conta Tio Moá.
Meio-campista de rara habilidade, que já teve contato até com o bicampeão mundial Didi, Tio Moá, brinca que deveria ter sido atacante. “Centroavante é mais notado. Deixei muitos na cara gol. Teve muito artilheiro graças as minhas assistências”.
Cobiçado por muitos clubes, inclusive equipes profissionais, Tio Moá acabou ficando em Caratinga mesmo. “Recebi propostas, mas a gente acha que a idade não chega. A idade chegou e fiquei, mas não me arrependo. Aqui fiz muitos amigos. Caratinga passou ser a minha terra”.
HOJE
Tio Moá ainda mantém sua paixão pelo futebol. Como foi também treinador, gosta de fazer suas análises. “Gosto do Tite. Ele tá no rumo certo, pode levar o Brasil a mais um título. Tem aquele que tentou ser treinador, o Rogério (Ceni) né. Mas já foi mandado embora do São Paulo”, diz mostrando que anda atualizado com as notícias do meio esportivo.
Outro passatempo é ler e assistir jornais. “A gente tem que saber o que está acontecendo. Saber das notícias é importante”, considera.
Sobre a vida no asilo, ele disse que gosta. “Sou muito bem tratado. Familiares e amigos me visitam. Então não tenho do que reclamar nesse quesito”.
O MAIOR
Seu nome é sempre ligado ao Esporte Clube Caratinga, mas ironicamente, assim como Rivelino é para muitos o maior jogador da história do Corinthians e nunca ganhou um título pelo clube, o mesmo aconteceu com Tio Moá. Mas ele não reclama disso. “Pelo Caratinga ganhamos jogos importantes. O título que tenho é o reconhecimento das pessoas. Sei que passaram muitos bons jogadores e fico satisfeito em falar de mim dessa forma. Não sei se mereço tanto, mas se falam né, acabo concordando (risos)”.
Um comentário
Aparecida Silva
Parabéns ao Diário de Caratinga,pela matéria Seu Moacir é uma pessoa do bem,alegre,e todos nós que somos parentes dele o admiramos muito!Ficou linda a entrevista!