Em homenagem ao Dia do Radialista, DIÁRIO entrevista José Carlos Cerqueira. Ele conta um pouco de sua carreira e fala das mudanças ocorridas nesse veículo de comunicação nas últimas décadas
CARATINGA – O radialista é o profissional que entra diariamente nas residências e estabelecimentos comerciais. É uma voz onipresente. Mas com o tempo passar esse ‘desconhecido’ passar a integrar a rotina do ouvinte, sendo seu amigo, conselheiro e lhe informando. E nesse dia 7 de novembro é comemorado o Dia do Radialista. E para homenagear esses profissionais, o DIÁRIO conservou com José Carlos Cerqueira, um ícone da imprensa de Minas Gerais. Ele falou um pouco sobre sua carreira e analisou as mudanças ocorridas nesse veículo de comunicação ao longos das últimas décadas.
A DATA
A comemoração do Dia do Radialista ainda hoje acaba gerando muita confusão. Por anos e anos, a data era lembrada no dia 21 de setembro. Entretanto, uma lei federal assinada em 2006 transferiu para 7 de novembro o dia que homenageia os radialistas. A curiosidade é que, com a alteração, muitos passaram a comemorar o Dia do Radialista em duas datas.
A história teve início em 1943, no primeiro governo de Getúlio Vargas. O então presidente sancionou uma lei em que fixava um piso salarial, ou remuneração mínima para os profissionais da categoria. A data, 21 de setembro, passou a ser comemorada em alusão ao histórico decreto. Consta que a Rádio Nacional do Rio de Janeiro foi quem realizou as primeiras comemorações para o Dia do Radialista, ainda na década de 40.
Em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou a lei nº 11.327, que institui 7 de novembro como a data de comemoração oficial do Dia do Radialista. A mudança aconteceu em decorrência a uma homenagem ao músico e radialista Ary Barroso.
Barroso nasceu no dia 7 de novembro de 1903 em Ubá (MG). Autor de sambas como “Aquarela do Brasil”, de 1939, foi um compositores que revolucionou a música brasileira. Sua paixão pelo rádio foi verificada principalmente na Rádio Tupy, onde produziu e participou de vários programas e ainda foi locutor e cronista esportivo. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (ABERT) adotou a data oficial, 7 de novembro, para homenagear todos aqueles que fazem do rádio esse importante meio de comunicação, serviço e entretenimento.
São duas datas em homenagem ao radialista, mas convenhamos, todo dia é dia do radialista.
ÍCONE
Um dos significado para a palavra ‘ícone’ é: ‘pessoa que se destaca ou se distingue em relação aos demais’. Esse é José Carlos Cerqueira, 65 anos, sendo que 48 anos deles vividos no rádio. Seu nome dispensa apresentações. Nessa entrevista, o diretor da Rádio Cidade conta um pouco de sua trajetória, relembra fatos marcantes de sua carreira e analisa as mudanças ocorridas nesse veículo de comunicação ao longo das últimas décadas.
E quando observa o motivo da longevidade desse veículo, é categórico ao afirmar: “O rádio tem a magia de estimular a imaginação”.
Quando e como o senhor ingressou na Rádio Caratinga? Ou seja, o senhor escolheu o rádio ou o rádio te escolheu?
Resumindo: acho que o rádio “atravessou” meu caminho. Em 1973, aos 17 anos, ingressei no O Jornal de Caratinga como cronista, redator e revisor (lá se vão 48 anos). Como o meu mentor, Humberto Luiz, era também redator dos noticiários da Rádio Caratinga, acabou me incumbindo de escrever também para o rádio. Ia com o saudoso Coronel Chiquinho à Delegacia de Polícia, retirava dados das ocorrências e transformava em textos que eram inseridos no noticiário O SEU REPÓRTER NA POLÍCIA E NAS RUAS. Com a chegada do Fernando França, cheio de ideias novas, veio a sugestão de que atuasse como repórter, fazendo a locução dos textos e introduzindo entrevistas. Passei depois a repórter de pista e comentarista esportivo. Depois veio a análise política. O resto é história.
O senhor também escreveu em publicações como jornais, revistas. Qual desses veículos mais gosta, impresso ou rádio?
Minha vocação original foi, sem dúvida, o texto escrito. Incentivado por alguns professores (Frei Carlos, Padre Othon, Dra. Neuza, professor Celso, dentre outros), me esmerei na redação nos tempos de escola. Assim fui parar no JC. Mas o rádio me fisgou. E se tornou meu “casamento” profissional. Coisa pro resto da vida.
Como radialista, o senhor registrou muitos fatos e acontecimentos em Caratinga e região. Teve algum episódio que marcou?
Estive em muitos acontecimentos (afinal, são 48 anos!). Desde a enchente de 73, ainda na administração Moacyr de Mattos, até as mais recentes, no governo do Ernani. Mas alguns fatos marcaram mais. Como ter ido à Itália, em companhia de minha saudosa mãe, Dona Zizinha, para trazer de volta o Padre Colombo. Entrevistar Pelé, Roberto Carlos, cobrir finais de campeonato Mineiro e Brasileiro no Mineirão e no Maracanã. E a marcante (para mim, particularmente) cobertura da trajetória de Tancredo Neves, que tive a honra de entrevistar. Até sua morte. A entrevista com dona Risoleta, no Palácio da Liberdade, fotografada pelo Georg Gade, me tocou muito, no dia do velório. Acompanhar os últimos passos do Monsenhor Rocha, também foi marcante no meu início de carreira. Ele foi amigo do meu avô e adorava me contar os “causos”. Ironicamente, as pessoas se recordam mais da minha atuação como repórter policial.
O senhor apresentou, junto de Carlos Alberto Fontainha, o programa ‘Pra Seu Governo’. Poderia nos contar como era o formato desse programa, como se dava a escolha das pautas?
O PRA SEU GOVERNO é a minha grande saudade do rádio. Começamos eu e o Fernando França. Depois o Fernando se foi e chegou o Fontainha. Foi uma escola. Envolvente. A pauta era o que acontecia no dia. Em Caratinga, no Brasil e no mundo. Informação e análise. Participação da equipe de repórteres. O Fontainha era o profissional mais antenado que eu tinha conhecido. Minha preocupação básica era TRADUZIR a informação, por mais complexa que fosse, numa análise que pudesse ser compreendida pelo mecânico, pela dona de casa, pelo taxista, gente comum que nos ouvia e que passou a digerir melhor os fatos. Acredito que foi uma ajuda considerável para a conscientização das pessoas simples sobre o que se passava e poderia, de alguma forma, refletir no dia a dia delas.
Uma questão muito debatida: Há jornalismo isento de opinião?
Claro que não. Jornalismo é feito por pessoas. E todos temos nossas opiniões. O cuidado necessário é não impor nosso ponto de vista como o certo e definitivo.
Em sua avaliação, atualmente alguns segmentos da sociedade tem ‘vilanizado’ a imprensa?
A imprensa SEMPRE foi vilanizada por aqueles cuja informação ou análise veiculada, desagradou. Faz parte do jogo. Não podemos entrar numa paranoia de vitimização. Seguir em frente, tentando fazer sempre melhor.
O senhor avalia que a imprensa perdeu espaço para as redes sociais? O que leva uma pessoa a acreditar piamente em algo que recebe via WhatsApp, por exemplo?
A questão da internet tem que ser vista, antes de mais nada, como irreversível. E aprender a conviver com ela é o grande desafio dos veículos de mídia tradicionais. E, pra mim, está claro que isto é perfeitamente possível. Riscos de credibilidade sempre rondaram as redes de informação desde os textos sagrados. Tenho comigo que a pluralização da informação tem o lado positivo de deixar pra nós a responsabilidade de checar e checar, cada vez mais. E garantir assim que quem nos ouça, leia, ou veja, tenha em nós a referência mais próxima da verdade.
Houve a migração para o mundo digital. Como foi essa mudança para a internet? A linguagem do radialista mudou?
Mudou a linguagem de todo mundo. Como todo fator evolutivo, a internet trouxe aspectos positivos e negativos. Vendo pelo lado positivo, o streaming foi fator decisivo na mais recente luta de sobrevivência do rádio. Estar integrado nos deu uma boa margem de sobrevida e até de evolução. Agregou mais que subtraiu. De 30 a 40% de nosso público/ouvinte de hoje nos acompanham pela internet.
Há ainda quem ainda estranhe o fato de não usar mais, com a mesma frequência, o aparelho de rádio para ouvir música ou se informar?
Como disse, está dividido. Ainda temos um contingente considerável de ouvintes tradicionais. Mas é interessante saber que tem gente nos ouvindo no Japão, França, etc, pela internet. Basta baixar nosso aplicativo no celular, acessar nossas redes sociais ou…chamar a ALEXA. Pra mim, particularmente, que vivenciei 48 anos de evolução a do rádio é, ao mesmo tempo, assustador e fascinante.
Por que o rádio ainda desperta tanta paixão, mesmo em um mundo dominado pelas mídias digitais?
Porque é intimista. O ouvinte se sente amigo ou parente do locutor. Se acostuma com ele. Faz confidências. Nisso a tecnologia só ajudou. O rádio tem a magia de estimular a imaginação. Exige um exercício de linguagem de seus profissionais, para chegar ao público desejado. Paul McCartney declarou recentemente, que ouve rádio. Vá lá que tá meio velhinho (rsrs). Mas é um semideus. Enfim, isso tudo traz à mente a maior virtude do rádio: sua RESILIÊNCIA. Sua capacidade de se reinventar frustrou todos (e não foram poucos) prognósticos de sua morte. Estamos mais vivos do que nunca.
OLHO
“Tenho comigo que a pluralização da informação tem o lado positivo de deixar pra nós a responsabilidade de checar e checar, cada vez mais”