DEUS REALMENTE OUVE A ORAÇÃO DO AFLITO!
- No Salão de Festas do Kempinski Hotel –
O novo ano tinha chegado, e eu estava num poço cada vez mais profundo. Era 1975. Parecia o início do pior ano de minha vida. Quase quatro anos de casamento, a um mês do nascimento de nossa primeira filha, e o relacionamento conjugal em frangalhos. Estávamos em Berlim Ocidental, na época cidade cercada por muros, de difícil acesso – no meio do mundo comunista, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A igreja na Alemanha costuma promover, na primeira semana do ano, a Allianzgebetswoche (a semana de oração da aliança), e os ministros dos diferentes rótulos religiosos se reúnem para a oração. Neste dia eu liderava este encontro de líderes da grande cidade, ainda por demais ferida pela II Guerra Mundial. Internamente, porém, meu caos parecia pior do que tudo que nos cercava.
– Será que há saída para mim, para nós? Onde foi parar nosso amor, que parecia não ter fim?
No momento das orações, lancei-me repentinamente de bruços no chão frio daquele inverno, e clamei em voz alta por misericórdia. Cinco meses depois, já como pais da criança mais linda e mais sorridente do universo, fui meio forçado a um encontro de homens de negócios, no hotel mais chique da cidade, o Kempinski, na Avenida Kurfürstendamm, no centro da cidade, perto da famosa Kaiser-Wilhelm Kirche, semidestruída e apenas semirestaurada, para lembrar dos horrores daquela terrível guerra entre 1939 e 1945.
A igreja Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche em Berlim.
Para mim o que estava acontecendo naquela reunião não tinha sido de interesse especial. Fui lá a convite, para encontrar pessoas de fora, e para conhecer aquele que no domingo estaria pregando em minha igreja, a conhecida Friedensgemeide (Igreja da Paz), com o famoso órgão de tubos funcionando em perfeito estado. Após o evento maior, fui encorajado a ouvir as explicações bíblicas que seriam dadas em um grupo – era sobre o Espírito Santo operando no indivíduo. Sentei no círculo de umas 30 cadeiras, e fiquei lá, sem nenhuma expectativa. O homem rústico, como se fosse o Pedro dos Evangelhos, começou a falar. Abriu em Gênesis, no início da Bíblia, e foi praticamente de livro em livro até o Apocalipse, destacando os lugares onde o desejo de Deus, o Espírito Santo, de habitar, morar dentro de cada um dos que criam. Somos o templo do Espírito! Foi no decorrer desta explanação de textos bíblicos que ouvi, bem lá no fundo, aquela “voz” que me disse de forma bem compreensiva: – Rudi, é isso que falta em sua vida!
Isso foi tão chocante e transformador que me esqueci imediatamente de todas as reservas pessoais, preconceituosas, contra aquela gente simples, rude, com pouca formação teológica, e me dispus a buscar o que me faltava. Minha atenção foi redobrada, e quase que não pude aguardar até chegar o momento de ter o Steve e outros à minha volta fazendo perguntas, e orando em voz alta por mim. Levou um bom tempo até que eu comecei a perceber um pouco do que estava acontecendo: algo estava se formando dentro de mim. Algo que eu nunca tinha imaginado, ou mesmo, pensado, muito menos estudado em uma de minhas centenas e talvez milhares de vezes em que buscara entendimento espiritual. Como um vendaval, como um sussurrar suave, como uma brisa que nem parece que está aí, mas você vê as folhinhas sendo tocadas e mexendo, ou mesmo, as pétalas das flores vibrando, daqui para lá – algo maravilhoso estava acontecendo. Demorei a me entregar completamente. Afinal, eu tinha diploma de teologia! Como é que eu não sabia nada sobre isso? Como é que estas pessoas tão simples eram tão doutas, tão próximas de uma verdade tão básica na vida daquele que crê em Jesus Cristo? Finalmente, aconteceu, e aquilo que eu não conhecia – AQUELE que eu não conhecia, se manifestou dentro de mim. De repente, aquele nó na garganta, aquela dor de cabeça não definida, aquele sentimento de que eu iria perder os sentidos foi engolido por um grito de desespero, que foi se transformando na mais linda imagem que posso transcrever: imagem de paz, paz profunda, de libertação de algo mau, destruidor, horrível e horrendo, indescritível, e a gloriosa chegada de algo novo, lindo, alegre, sorridente, como a nossa filhinha de cinco meses – plena de vida, plena de esperança, plena da presença do Pai eterno, e cheia de amor por Jesus.
Não acho ser importante denominar o que me aconteceu. Só sei de uma coisa: algo muito profundo e de incomensurável satisfação, como uma fonte de águas cristalinas, começou a brotar de dentro de mim, afetando todas as áreas de minha vida, a partir de minha mente até então lotada, abarrotada com mil coisas. Quando – depois de algumas horas – finalmente cheguei em casa, minha amada, querida esposa me disse: – O que aconteceu contigo? Você está com um brilho que você nunca teve… Bem, não que ela se lembrasse, nem que eu me lembrasse. Mas possivelmente eu – como a maioria dos bebês que nascem num lar onde são esperados – tinha sido uma criança muito feliz. Minha felicidade tinha sido restaurada. Minha RESTAURAÇÃO estava e está acontecendo – até hoje. Cada dia novo é mais um passo em direção àquela pessoa por quem Jesus deu sua vida, seu sangue. Creio que é assim – perfeitos -, que o nosso Criador e Salvador nos enxerga!
(Extraído do nosso livro/e-book Restauração Acontecendo, Parte I – A descoberta do que falta, págs. 47-50)
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede de Ensino Doctum – UniDoctum [email protected]