José Eduardo da Silva, o ‘seu Zé do Campo’: 30 anos cuidando do Estádio do Carmo
CARATINGA- O guardião é um protetor. Pessoa que, por forte afeição, defende como um guerreiro algo ou alguém. E é exatamente assim que José Eduardo da Silva, 65 anos, ou simplesmente ‘seu Zé do Campo’ pode ser considerado em relação à ‘Grota’, como é conhecido o Estádio do Carmo. Quando se fala sobre a gloriosa história do Verdão é praticamente impossível não se lembrar da simpatia e simplicidade com que ele cuida da estrutura do clube.
Como a história de muitos brasileiros, o início para ‘seu Zé’ não foi fácil. Após muitos ‘bicos’ sem um trabalho fixo, um encontro foi decisivo e marcante para que ele tivesse a chance de recomeçar. “Quando eu mudei para aqui eu não tinha serviço certo, tem uns 35 anos que moro por aqui a fora. Comecei a trabalhar para um, para o outro, até que topei com um velho amigo da gente, o Ronaldão, ele falou: ‘Zé, faz favor. Cê não quer pegar um trabalho para fazer não?’. Eu disse assim: ‘O que é o trabalho Ronaldo?’. Ele respondeu: ‘Vou lá no campo te mostrar o que eu quero’. Veio, me mostrou, a passagem era pelo outro lado, acompanhei ele e continuo até hoje”.
E todo esse árduo trabalho já dura três décadas. As mãos calejadas são as marcas de muito esforço e cuidado com o que é considerado quase o tesouro do bairro. Foi assim que ele ficou conhecido e querido por toda a comunidade. “Estamos nesse Esplanada há tantos anos. Gosto de ter o respeito com os amigos e sei que os amigos também têm respeito comigo. Saio dentro desse Caratinga é ‘seu Zé para aqui, seu Zé para ali’. A pessoa não precisa ter escola, mas tiver respeito e educação para viver com o ser humano é o principal”, afirma.
A história do campo se completa com a história do ‘seu Zé’. Seja dentro de campo, onde muitos jogadores mostraram e ainda mostram todo seu talento para o futebol ou na arquibancada, onde a torcida apaixonada vibra, cada pedaço tem a sua marca. “Isso tudo passou nessa mão aqui, peguei aquela última árvore lá em baixo e terminei aquela grande. Essas árvores todas passaram na minha mão, esse alambrado, aquela arquibancada, tudo fui eu que ajudei a fazer; ajudei a colocar o gol no lugar”.
O dia a dia de trabalho começa cedo e é marcado por muita alegria. Nas horinhas de folga, ‘Zé do Campo’ quer mesmo descontrair e estar no meio do povo, onde ele se diverte. “Todos os domingos eles têm a resenha deles aí, vai tomar a cervejinha deles, fico tirando minha rede, daí pouco misturo no meio deles também (risos). Vira festa! Terminou, vou pra casa dar uma descansada, sossegado, chego em casa o almoço está pronto, a gente passa um arrozinho com feijão para o peito e vai descansar”.
Com orgulho, relembra uma trajetória de muito trabalho e perseverança e se considera um vencedor. “Depois do presidente que era o ‘Tremendão’, o José Eugênio, que trabalhou na Riodoce; passei pelo Paulo Afonso, Toninho Miranda e lá vou. Vai só trocando de patrão e eu vou ficando (risos). Eu só trabalho aqui, quando tenho de fazer alguma outra coisa é só lá em casa. Quando eu mudei para aqui eu não tinha era nada, tinha Deus e menino, com todo respeito. Hoje, minha família cada um foi caçar seu cantinho, casou ou enrolou e lá em casa estamos eu e a Dona Catarina, que é minha esposa. Tadinha, muito doente também, mas não podemos tirar por isso porque a enfermidade está nos quatro cantos do mundo, infelizmente”.
Dia de jogo é dia de festa. E como em toda comemoração é preciso preparar o ambiente, logo cedo, lá está ‘seu Zé’, pronto para garantir a organização. “Quando tem um campeonato aqui, não estou dizendo que sou mais do que ninguém, mas até o veteranozinho deles aqui eu acompanho. Dia de domingo, o primeiro que chega aqui na parte da manhã sou eu, 6h, 6h30 mais ou menos já estou aí. Chego, passo pano no vestiário e daí a pouco a galera vai chegando. Cada um passa a mão no seu uniforme e vai vestir, uns já vem vestidos. E o prazer maior que eu tenho é quando tem o campeonato aqui, fico cheio de alegria, no meio daquela multidão a gente passa o tempo até sem ver (risos)”.
Misto de emoção e júbilo sempre fizeram parte da história do Esplanada. ‘Seu Zé’ como legítimo esplanadense não conseguiu conter as lágrimas ao falar do ofício que é uma missão: guardar e proteger a ‘Grota’. “Quando tem um campeonato, é aquele foguetório, bandeira, charanga para tudo que é lado. Então, acode o coração da gente. Graças a Deus, sou um camarada que leva de acordo, estamos aí para atender todo mundo com alegria, satisfação, emoção que a gente sente. É um prazer bater um papo com todo mundo. A vida nossa é muito curta”.