O cientista de Dados Elias Kruger será o palestrante do II Fórum de Teologia. Em entrevista ao DIÁRIO, ele fala sobre a integração entre a inteligência humana e artificial, além da relação do tema com a religião
CARATINGA- Entre os próximos dias 26 e 28 de maio, a Rede de Ensino Doctum promoverá o II Fórum de Teologia, cujo tema é ‘Inteligência Artificial: Um desafio da pós-modernidade’. O preletor será o escritor e vice-presidente do Banco Wellsfargo – Estados Unidos, Elias R. P. Kruger.
Nesta entrevista, ele fala sobre a integração entre a inteligência humana e a artificial, além da relação do tema com a religião.
Como o senhor se apresenta para o nosso leitor?
Sou acima de tudo um filho de Deus redimido e um participante na companhia do Crucificado. É ali que minha identidade se inicia e encontra sua expressão mais completa. Eu nasci em Brasília, mas em 1995, nossa família mudou para os Estados Unidos, quando eu tinha 15 anos de idade e moro lá desde então. Sou casado com a linda e exuberante Priscila. Ela tem sido minha companheira, e melhor amiga nos últimos 20 anos. Fomos presenteados com três crianças lindas, Sophia, Anna e Levi; que tornaram a nossa vida mais rica e caótica ao mesmo tempo. Agora, na parte profissional, comecei minha educação completando um bacharelado de Ciências Políticas na Faculdade de Davidson. Depois disso, fui contratado por uma empresa da “Fortune 50”, onde trabalhei em áreas de Finanças e Marketing e continuo hoje na área de Analytics como vice-presidente (VP). Enquanto fazia isso, tive a oportunidade de concluir um MBA na Regent University e, agora, mais recentemente, um mestrado em Teologia no Seminário Fuller. Hoje, além de ser cientista de dados, escrevo para o blog AI Theology e a revista digital Superposition, na área de integração da fé com a tecnologia. De um lado pessoal, escrevo sobre o que eu vivo, um tecnologista cristão, que busca integrar minha fé com a minha área profissional.
O senhor nutre um carinho especial por Caratinga. Fale um pouco sobre sua ligação com a cidade e sua família.
Sou filho de Rudi e Wilma Kruger (ambos pastores), neto do Reverendo Uriel de Almeida Leitão. Quando criança, vinha muitas vezes a essa saudosa cidade de Caratinga, onde passei muitas horas brincando com meus primos por essas ruas e subindo a pedra de Itaúna para acampar. Caratinga certamente faz parte da minha história.
O senhor é cientista de dados, escritor e vem de uma família tradicionalmente religiosa. É possível conciliar e ainda ter tempo para o lazer e outros compromissos?
Ótima pergunta: como marido e pai, pra mim a família tem prioridade. O que ajuda é que trabalho de casa 100% e não tenho que me preocupar com trânsito ou jornada de trabalho. Mesmo com semanas cheias faço um compromisso de passar um dia com a família e ter uma noite por semana para sair com minha esposa. Nesse tempo de família encontro atividades de lazer brincando com meus filhos com Legos e levando-os ao parque. Ser pai não é só um privilegio mas me ajuda a ser um melhor escritor, pois aprendo a ver o mundo com os olhos das crianças também.
Adentrando no assunto que o senhor tratará durante a série de palestras em Caratinga, o que é a Inteligência Artificial?
A Inteligência Artificial (IA) refere-se à capacidade de programar máquinas de modo a imitar características humanas, como o raciocínio, os movimentos, a apreensão de objetos, a resolução de problemas, a tomada de decisão e de planejamento. Nos últimos anos, avanços na computação possibilitaram a aceleração e implementação da IA nas mais diversas áreas como a indústria, governos e universidades. Aliado a tecnologias de rede e mídia social, a IA tem o potencial de desencadear uma nova revolução industrial.
A aposta de alguns dos pesquisadores é que uma nova Revolução Industrial não trará a substituição total dos trabalhadores por máquinas, mas uma integração entre a inteligência humana e a artificial. Outras pessoas já acreditam que a mão de obra humana será em breve, substituída pela IA. Como o senhor analisa este aspecto?
Esse assunto traz muita confusão e ansiedade. Para dissipar mitos é importante primeiro entender a IA, seus potenciais e seus perigos. O desenvolvimento dessa tecnologia pertence não só aos poucos das grandes companhias do Vale do Silício, mas a todos nós. Então, respondendo a sua pergunta, somos nós que devemos resolver esse dilema. A tecnologia, quando usada para aumentar capacidades humanas ao invés de substitui-las, pode ser um grande presente para a humanidade. Contudo, vivemos em um mundo onde a ganância e a sede pelo poder corrompe a tudo e a todos, incluindo o desenvolvimento da tecnologia. Por isso, creio que é hora de nós como membros da sociedade começarmos a discutir esse assunto para que o futuro da IA seja pró-humano ao invés de pós-humano.
O senhor participará do II Fórum de Teologia. Como a IA está relacionada com a religião?
Como disse antes, o potencial revolucionário da IA tem tocado todas áreas da sociedade. A religião não ficou de fora. Por isso, no mês passado, evangélicos batistas nos Estados Unidos publicaram uma declaração sobre o assunto delineando preocupações e esperanças com relação à tecnologia. O Vaticano também se prepara para lançar a sua declaração ainda esse ano. Para esse propósito, o Papa tem convidado tecnólogos, cientistas e especialista da ética para debater o assunto. De um modo geral, a IA está conectada à religião pelo lado humano. A religião é um fenômeno intimamente humano. Por isso o entendimento de quem somos como seres esteve sempre na pauta religiosa. Como a IA tem o potencial de mudar não só nossas habilidades, mas nossa própria identidade, isso certamente chama atenção de líderes religiosos. Isso não se limita somente à Ética, mas também no potencial de trazer soluções para o sofrimento humano e para a longevidade. Do lado dos tecnólogos, seria um grande erro continuarmos o avanço da IA sem ouvir a milenar sabedoria humana expressa através das religiões. Quanto aos religiosos, acho importante que eles se engajem no assunto sem preconceitos e com humildade para entender um campo novo. É no diálogo que podemos construir um futuro melhor.
Também há conexão no conceito de divindade?
Sim. Porque o desenvolvimento da IA aponta para o surgimento de uma superinteligência, bem além das capacidades humanas, isso traz à tona questões sobre a divindade. Tópicos como a criação, os limites humanos ou até o conflito entre criatura e o Criador entram em foco. Nessa área, a reflexão religiosa tem muito a oferecer, pois já faz isso há muito tempo. Por isso, o desenvolvimento da IA requer não apenas um estudo humano mas também Teologia (estudo sobre a divindade), para que possamos entender de forma mais ampla o seu impacto abrangente.
Deixe seu convite para o evento, que acontecerá entre os dias 26 a 28 de maio.
É hora de encararmos esse tema com coragem, sabedoria e esperança. Então, aqui vai o nosso convite para juntos embarcarmos nessa jornada de aprendizado. Este é o primeiro passo para fazer com que a IA deixe de ser “um bicho de 7 cabeças”, para se tornar um capacitador do florescer humano. Convido a todos nos próximos dias, a entrada é franca: domingo (26) estarei falando na Primeira Igreja Presbiteriana, às 9h, sobre “Como podemos criar filhos num mundo tecnológico”. Na segunda-feira (27), às 19h, estarei no Auditório da Doctum, com a temática “Como a IA está mudando nossos relacionamentos, o trabalho e a religião”. Na terça (28), às 8h, estarei discutindo com principalmente a liderança eclesiástica da cidade e região “Como receber a IA em nossas comunidades”; às 19h, participarei com professores da Doctum de uma Mesa Redonda com o tema “A Inteligência Artificial & a Pós-Modernidade”, num debate multidisciplinar. Quem sabe esse Fórum fomentará o diálogo e um possível movimento que possa transformar o futuro de Caratinga. Vamos fazer nossa parte. Vamos lembrar que tudo é possível ao que crê!