Piloto de paraglider ficou preso em uma árvore, na Pedra do Itaúna. Resgate foi complexo. Instrutor diz que voo teve falha humana
CARATINGA – Praticamente toda a cidade parou nesse feriado de 1º de maio, Dia do Trabalhador, para acompanhar o resgate do piloto de paraglider, Igor Rocinski de 16 anos, que após fazer um voo, acabou preso em uma árvore na conhecida Pedra Itaúna, ponto turístico da cidade, ficando pendurado há cerca de 240 metros de altura. O acidente aconteceu por volta das 14h30, foi então que uma pessoa que mora nas proximidades da pedra ouviu gritos de socorro e começou uma transmissão ao vivo pela internet. O resgate foi complexo. O piloto foi levado ao topo da pedra já no início da madrugada de ontem. Foram horas decisivas, onde a perícia dos bombeiros, aliada a solidariedade, foram fundamentais para o êxito dessa operação.
RESGATE
Foram quase dez horas de trabalho ininterruptas. Os bombeiros militares que participaram do socorro concederam entrevista coletiva à imprensa nas primeiras horas dessa quinta-feira (2).
O comandante do 2º pelotão de Bombeiro Militar de Caratinga, tenente Luciano Cruz, disse que sua equipe foi acionada para socorrer uma pessoa que havia ficado presa a 100 metros do topo da Pedra Itaúna, num local de difícil acesso, onde seria necessário grande quantidade de material de resgate com a técnica de rapel, como cordas e outros. Segundo ele, imediatamente foi acionado o apoio da equipe Manhuaçu, tendo em vista a complexidade da ocorrência. “A guarnição que chegou primeiro realizou os primeiros procedimentos de ancoragem e outras técnicas utilizadas em salvamentos em altura. A guarnição de Manhuaçu chegou depois, mas já havia anoitecido, no período noturno estávamos com dificuldades devido a visibilidade ruim e o vento forte”, contou.
Outra dificuldade enfrentada pelos bombeiros foi a grande quantidade de pedras soltas na descida até o local que Igor estava. “Tínhamos que resguardar a integridade da vítima e também preocupar com a nossa segurança”.
O sargento Albuquerque, do corpo de bombeiros de Manhuaçu, foi o primeiro a estar com Igor e contou como foi o trabalho. “Fizemos as ancoragens e através de um rapel de aproximadamente 150 metros, conseguimos acessar a vítima que se encontrava presa a uma árvore, já fora do paraglider. O local é difícil acesso, no primeiro contato ele se encontrava consciente orientado, conversando com a guarnição. De imediato fiz uma amarração na vítima para que ela ficasse segura, e conseguimos içá-la até um local mais seguro para depois completar o resgate. Quando cheguei próximo a ele procurei tranquilizá-lo, porque ficou preso a uma árvore numa altura de quase 300 metros. A opção era resgatá-lo o mais rápido possível, pois não tinha condições dele ficar ali”, explicou o sargento.
Por volta de 1h, Igor foi resgatado e conduzido para Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde ficou em observação por algumas horas e foi liberado.
SOLIDARIEDADE
Segundo o tenente Luciano Cruz, o momento mais difícil do socorro foi correr contra o tempo, pois no período da noite seria mais difícil, existindo a possibilidade de um bombeiro descer e pernoitar com Igor e aguardar uma aeronave vir durante o dia e resgatá-los.
A solidariedade de alguns caratinguenses foi fundamental para o socorro do jovem piloto. Três DJ’s disponibilizaram seus canhões de luz em pontos estratégicos da cidade e iluminaram a Pedra Itaúna.
O DJ Marcone Sales percebeu que poderia ajudar o trabalho dos bombeiros quando começou a escurecer. “Eu corri no depósito, coloquei meus canhões de luz no carro. É uma iluminação pra festa, pra show. Como a gente estava bem perto da pedra, ajudou bastante a clarear a visão dos bombeiros. Outros DJ’s como o Francis e o Maycon também ligaram mais luzes, um trabalho bacana. Uma luz que é pra festa acabou ajudando o socorro de uma pessoa que estava precisando”, contou Marcone.
INSTRUTOR ANALISA A SITUAÇÃO
Na tarde de ontem a reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA entrevistou o instrutor de paraglider Frederico Rocinski, 40 anos, o ‘Kim’, piloto experiente com prática no esporte desde 1996 e também primo de Igor.
Kim contou que o piloto escolhe o dia de acordo com as condições do vento para voar e geralmente não vai sozinho, o que foi seguido por seu primo Igor. No entanto, de acordo com o instrutor de voo, quando Igor percebeu que havia pouco vento e não conseguia subir, deveria ter pousado. “Estava um dia tranquilo, pela manhã frio, então iria demorar para surgir a corrente térmica ascendente que a gente fala, então eu sabia que o voo do dia seria ruim, tanto que não fui voar. Ele iria decolar, fazer um voozinho rápido e pousar. Não tinha corrente ascendente por conta do clima então a gente encosta no morro e faz uma manobra que chama ‘lift’, quando o vento bate na pedra e sobe, a gente pega aquela corrente e fica ‘liftando’, fazendo curvas em oito, como não tinha vento forte não dava pra fazer isso. Ele tentou mesmo assim continuar, ficou muito próximo à Pedra a vela dele encostou na vegetação, virou e agarrou. No caso do Igor era simples, decolou, estava afundando, vai para o pouso. Princípio de voo é decolagem e pouso, se decolou não está ganhando altitude, vai para o pouso”, esclareceu Kim, afirmando que houve falha humana.
Sobre o socorro, Kim disse que o bombeiros de Caratinga atenderam prontamente, mas não tinham o material, como corda para fazer o socorro e esperaram a guarnição de Manhuaçu. “Tiveram muita dificuldade para subir a pedreira porque a estrada está com muitos buracos. Os bombeiros de Manhuaçu chegaram por volta das 18h, fizeram o rapel e chegaram ao Igor”.
O instrutor de pouso agradeceu a todos que participaram do resgate de Igor, inclusive os DJ’s que ajudaram a iluminar a pedra com seus canhões de luz geralmente utilizados em festas.
Um comentário
Kiko Jack Bauer
A solidariedade demonstrada neste resgate renderá um capítulo à parte no(s) próximo(s) livro que for publicado sobre fatos da Cidade das Palmeiras.
Um incidente que, graças aos bombeiros duas cidades, do DJ’s e demais populares e autoridades envolvidos, terminou bem.
Fato parecido com esse já ocorreu em Caratinga, no mesmo local, há anos atrás, infelizmente com um resultado trágico.
Como o melhor a ser feito após isso é estudar métodos para evitar que acidentes se repitam, que os pilotos e demais envolvidos com o esporte entendam o fato como uma lição a ser aprendida.
Kiko Jack Bauer – Ubaporanga/Inhapim – MG.