Negra Rosa e a relação das mulheres pretas com a indústria cosmética
Sabemos que a maioria das mulheres gosta de se maquiar e consumir produtos cosméticos para se sentirem mais bonitas e vaidosas. Porém se maquiar e criar uma rotina capilar não é um processo acessível para todas as brasileiras e se tratando de mulheres negras, o mercado começou a recentemente entender e integrar produtos para as várias texturas de cabelo que englobam essas mulheres, e os diversos tons de pele que abraçam essa cor.
Infelizmente os padrões estéticos foram criados há décadas em cima da visão europeia, e as empresas voltadas a beleza e moda, refletem isso de forma explícita, o que facilita que a autoestima preta seja desintegrada e que essas mulheres não se enxerguem dentro de assuntos voltados à feminilidade e artigos cosméticos. Eu, Anna, uma negra de pele clara, encontro dificuldade para achar um tom para minha base e já gastei muito dinheiro investindo em marcas erradas, que não entendem a composição da minha pele. Então já conseguimos imaginar através desse quadro o que negras retintas¹ passam para se manterem enquanto consumidoras de maquiagens nacionais.
Quanto aos fios, marcas que antes apresentavam produtos de alisamento de cachos, químicas um tanto quanto violentas, hoje se reinventaram e viram a necessidade de se criar produtos que pudessem auxiliar as mulheres cacheadas e crespas no tratamento com o cabelo. Campanhas de incentivo à ²transição capilar, propagandas carregadas de diversidade étnica, são exemplos que mostram o respeito que as raízes vêm ganhando do mercado de beleza, até porque o país é composto por grande parcela de mulheres pretas que movimentam esse mesmo mercado, e isso se torna vantajoso para ambas as partes.
E uma dessas iniciativas partiu de uma marca pequena nominada Negra Rosa, criada pela empresária fluminense Rosângela José da Silva, que investe em bases e batons para a pele negra. Em entrevista para a Revista Marie Claire, Rosângela enaltece o fato da marca ser pensada por uma mulher negra e desenvolvida exclusivamente para outras. Atenta ao fato de que não apenas deve se pensar as cores, mas as fórmulas para negras também deve ser diferente.
A inserção dessa classe no mercado cosmético é tão lucrativa quanto necessária, e está intimamente ligada a autoconfiança dessas mulheres e na sensação de pertencimento de um mundo feminino, comandado e desenvolvido por elas mesmas. Ter essa sensibilidade é também combater a discriminação contra esse povo e devolve-lo segurança em relação a própria imagem.
Anna Rita S. Silva,
Fundadora e idealizadora do projeto Tubmanbra.
Saiba mais no link: https://www.tubmanbra.com/
Mande sua sugestão no e-mail: [email protected]
¹retinto: de cor carregada, de cor muito escura.
²transição capilar: o período em que a mulher deixa seu cabelo natural crescer da raiz até que atinja um comprimento ideal para o chamado big chop (ou BC), o grande corte que tira todas as pontas lisas.