(Parte II)
“Mas, entre mim e tu, meu caro Críton, é tão importante assim a opinião do povo?”, Sócrates
Platão, no seu diálogo, Críton, nos conta que, depois de decretada a sentença de Sócrates, seu amigo, Críton, vai visitá-lo na prisão e, de várias maneiras tenta convencer Sócrates a fugir de seu destino, mas Sócrates, irredutível, não se deixa convencer, não negando sua consciência, e aceitando de bom grado o destino que lhe aguardava; a morte. Críton chega a dizer a Sócrates que as pessoas não acreditariam que ele aceitara seu destino de bom grado e decidira continuar preso por conta própria, e que culparia seus amigos por não terem feito o possível para livrá-lo de seu destino. Então, Sócrates repreende seu amigo com a frase que introduz nossa reflexão: “Mas, entre mim e tu, meu caro Críton, é tão importante assim a opinião do povo?”
Então, Sócrates começa a mostrar a seu amigo que não se deve dar muita importância à opinião dos outros, que não se deve dar tanta importância ao que o povo diz. Sócrates mostra para seu amigo que são poucas as pessoas cuja as opiniões realmente importam para nós – até porque, são poucas as pessoas que realmente querem nosso bem, e nosso amadurecimento –. Para ilustrar isso, Sócrates usa o exemplo de um ginasta, e pergunta para Críton se um ginasta deve dar importância à opinião do povo ou a opinião de um instrutor de ginástica, ao qual Críton responde que é ao segundo. E Sócrates ainda acrescenta que, se o ginasta deixar de dar ouvidos a seu instrutor para dar ouvidos à multidão, ele sofrerá consequências ruins.
Não é diferente em nossa vida. Em várias circunstâncias, somos colocados diante das opiniões da multidão, do povo incauto, e das opiniões daqueles que entendem das coisas das quais queremos e, infelizmente, muitos deixam de lado a opinião das pessoas que entendem e querem sua melhoria e felicidade, para dar ouvidos às opiniões do “povo” que, na sua grande maioria, não estão nem aí para o que é melhor para elas, e as querem ver na mediocridade, como eles, e esses, que escolhem dar ouvidos à multidão, não deixam de sofrer as consequências de suas escolhas; abandonar seus desejos e vontades para agradar às outras pessoas doí! Trair sua própria consciência para agradar a outros traz consigo duros arrependimentos, mas, agir de acordo com nossa consciência, fazendo aquilo que nos apraz, sem agredi-la, nos traz paz, mesmo diante da morte, como no caso de Sócrates, e de outros grandes homens da história.
Em sua advertência a Críton, Sócrates ainda diz que “não é absolutamente com o que dirá de nós a multidão que nos devemos preocupar, mas com o que dirá a autoridade em matéria de justiça e injustiça, a única, a Verdade em si”. E, no fim do diálogo, depois de convencer Críton que a opinião da multidão a nosso respeito não é tão importante quanto a nossa opinião sobre nós mesmos, e nossa consciência limpa diante da Verdade, Sócrates encerra o diálogo dizendo que eles deveriam proceder da forma que Sócrates lhe expôs, aceitando o destino que “as leis”, injustamente, lhe impôs, independentemente do que os outros pensariam, “porque este é o caminho por onde a divindade nos guia”, diz Sócrates, e também porque ele entendia que, mesmo sendo julgado injustamente pela multidão, no fim ele repousava na Verdade. Ele não abriu mão do trabalho que o oráculo lhe deu de examinar todas as coisas, mesmo que isso inflamasse a multidão, mesmo que fizesse a multidão quisesse o calar condenando-o à morte. Para ele, a sua consciência, e a certeza de que estava fazendo o que a “divindade” queria que ele fizesse tinha mais peso do que as vozes da multidão que não o entendiam e o julgavam. A atitude de Sócrates, e todo o seu contexto, me remetem ao apóstolo Pedro que, preso e ameaçado por falar de Jesus, disse em alto e bom som para seus acusadores: “Importa mais obedecer a Deus do que aos homens”!
Depois de conhecer sua própria história, tendo consciência de si, depois de vermos que poucos são os que realmente querem o nosso bem, depois de vermos que é melhor ter a consciência limpa diante da Verdade, e diante de Deus e, se entendemos que tais coisas não nos acusam e, até mesmo, aprovam nossos atos, vale mesmo a pena levar em conta a opinião do povo?
“…é tão importante assim a opinião do povo?”
(Wanderson R. Monteiro)
São Sebastião do Anta – MG