Devo confessar que desde pequeno nunca achei muita graça em pôr uma máscara. Nasci em Angola onde o carnaval tem muitos adeptos. O africano gosta de festa e então se a festa tem dia marcado, melhor. Aí ele se prepara para festa e saí à rua como se aquela fosse a última festa da sua vida. Talvez daí venha esta veia do brasileiro adorar o carnaval e levá-lo ao topo dos maiores espetáculos do Mundo.
Após ir viver para Portugal, assisti em vários locais da Europa ao festejo do carnaval, mas nunca com o brilho, a disciplina e um tamanho elenco como o das escolas do Rio de Janeiro. Este ano prometi tomar uma atenção diferente e tentar perceber esta manifestação cultural. As doze escolas que desfilaram no grupo especial este ano foram: Viradouro, Mangueira, Mocidade, Vila Isabel, Salgueiro, Rio Grande, São Clemente, Portela, Beija-Flor, União da Ilha, Imperatriz e Unidos da Tijuca.
A Portela, a mais antiga das doze escolas, foi fundada em 1926. Ela nasceu no bairro de Madureira, a partir do bloco Vai Como Pode. É uma das escolas que participaram do primeiro desfile oficial do Rio. A Portela é também a única escola a ter participado de todos os desfiles e acumula o maior número de títulos (21). A Mangueira, fundada em 28 de abril de 1928, no morro da Mangueira, tem como nome oficial Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e se orgulha de ter como fundadores nomes como: Carlos Cachaça, Cartola e Zé Espinguela. A campeã do ano passado, Unidos da Tijuca, é também uma das escolas de samba mais antigas. A agremiação surgiu a partir da fusão de blocos existentes nas redondezas do Morro do Borel, comunidades da Casa Branca, Formiga e Ilha dos Velhacos. Mas o Morro do Borel é seu maior reduto, local de onde sai boa parte de seus componentes. Em 1999, no Grupo da Série A, a Tijuca fez um desfile memorável, com o enredo ‘O Dono da Terra’, do carnavalesco Oswaldo Jardim, com um belo carnaval e um samba antológico, sendo reconduzida ao Grupo Especial.
Este ano, tal como vos disse, prestei uma atenção maior que o habitual e fiquei fã. Desde o samba enredo da Beija-Flor, “Um griô conta a história: Um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de nossa Felicidade” , ao baralho da Grande Rio, da “Mulher Brasileira” da Mangueira, ao “Último dia” da Mocidade, o espetacular “Axé, Nkenda! Um ritual de liberdade e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz!” da Imperatriz, o maravilhoso desfile dos “450 janeiros” da Portela, o Salgueiro e o enredo: “Do fundo do quintal, saberes e sabores na Sapucaí”. A Porto da Pedra trouxe á avenida um poema à vida e ao seio jorrando amor no enredo “Da seiva materna ao equilíbrio da vida”. O enredo “A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta perera, da tocandira e da onça pé de boi” da São Clemente. A Vila Isabel preparou-nos para um grande concerto com o enredo “O maestro brasileiro na terra de Noel…Tem partitura azul e branca da nossa Vila Isabel”. Adorei “Um conto marcado no tempo – O olhar suíço de Clóvis Bornay” dos Unidos da Tijuca, a “Beleza Pura” da União da Ilha.
Cada uma das escolas trabalhou 12 meses para chegar à avenida e mostrar o melhor de suas baterias, de suas porta-estandartes, de seus maravilhosos carros alegóricos. Então, que vença a melhor.
A história do Carnaval foi comemorado no Brasil e no Rio de Janeiro durante séculos, mas as escolas de samba eram apenas a primeira inaugurada em 1920. No final do século 19, imigrantes da Bahia trouxeram consigo a tradição de jogar candomblé e dança (uma dança baiana chamado de samba). Nas favelas do centro do Rio, um lugar conhecido como “Pequena África”, que estabeleceu um número de casas religiosas dedicados a cerimônias religiosas, onde eles tocaram e dançaram as formas iniciais de samba. No entanto, religiões africanas eram ilegais em um Brasil predominantemente católico. Estas raízes do samba permaneceram invisíveis para a elite branca por um longo tempo. Desfilando estrutura, as escolas de samba provêm de grupos desfilando durante o Carnaval no século 19. Mesmo neste momento eles já tinham incluído; Comissão da velha-guarda, um tema escolhido, carros alegóricos e o casal de bandeira do rolamento, os quais são partes essenciais das escolas de samba de hoje.
O primeiro grupo a chamar-se uma escola de samba era um grupo conhecido como Deixa Falar, que veio do bairro do Estácio, na colina acima Praça Onze, considerada o berço do samba. Eles chamavam a si mesmos de escola de samba, porque eles se encontraram na porta, ao lado de uma escola infantil local. Deixa Falar e Mangueira foram ambas fundadas no final da década de 1920. Deixa Falar foi dissolvida e, posteriormente, inaugurada como Estácio de Sá. Deixa Falar desfilou pela primeira vez na Praça Onze, em 1929. Em 1930 já havia cinco escolas desfilando incluindo Mangueira e Vai Como Pode, mais tarde conhecida como Portela. O desfile das escolas de samba tornou-se um concurso, que ganhou Deixa Falar em 1930 e 1931. Em 1932 havia 19 escolas desfilando. A partir 1933 o desfile passou a ser patrocinado ‘O Globo’. Eles estabeleceram uma lista de quatro critérios de avaliação para os juízes. Muitas das escolas de samba eram originalmente parte de um clube de futebol na área onde foram fundadas, como a Porto da Pedra.
Nos últimos anos, a Avenida Rio Branco, a rua principal centro financeiro, tornou-se o principal local para as bandas e grupos desfilarem no fim de semana de carnaval. Embora existam desfiles em quase todas as partes da cidade. A rua fica repleta de grupos de foliões a partir de meio da tarde para a madrugada do dia seguinte (a partir do final da rua Cinelândia). Você também pode encontrar bandas de rua muitos ao redor Lapa, durante todo o carnaval.
Fiquemos então com ‘Soneto de Carnaval’
Distante o meu amor, se me afigura
O amor como um patético tormento
Pensar nele é morrer de desventura
Não pensar é matar meu pensamento.
Seu mais doce desejo se amargura
Todo o instante perdido é um sofrimento
Cada beijo lembrado é uma tortura
Um ciúme do próprio ciumento.
E vivemos partindo, ela de mim
E eu dela, enquanto breves vão-se os anos
Para a grande partida que há no fim
De toda a vida e todo o amor humanos:
Mas tranquila ela sabe, e eu sei tranquilo
Que se um fica o outro parte a redimi-lo.
Vinícius de Moraes, in ‘Antologia Poética’
E façam-me um favor de serem felizes o ano inteiro como o foram nestes dias.
João Abreu é natural de Angola, mas tem nacionalidade portuguesa. Ele reside em Caratinga e é empresário com formação em Marketing.
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