*Álvaro César Netto
O mundo está chato. O mundo está sem glamour. O mundo está sem senso de humor. O mundo está sem cultura ou, se preferirem, está culturalmente pobre. Não, não é a constatação de alguém prestes ao suicídio. É apenas uma constatação tristonha. E para chegar a este ponto não precisamos mais que trinta anos. É o tempo que a turma do politicamente correto está aí dando as cartas e nos transformando, cada vez mais, em uma sociedade fraca, dodói, consequência de uma vitimização extremada, cheia de direitos e sem nenhum dever, onde tudo é bullying.
A coisa é tão feia que implicaram com a letra do “atirei o pau no gato” que todos nós cantamos quando crianças sem que tal nos transformasse em inimigos dos gatinhos; mais ainda, transformaram Monteiro Lobato, autor de muitas histórias que povoaram meu mundo infantil, em racista. Vejam bem: Monteiro Lobato!!! Não sei se estão certos, mas meu mundo foi e é outro. Eu, por exemplo, tive os apelidos de cabeção e de bocão, e o máximo que tal fato causou à minha personalidade, foram alguns arranhões da troca de tapas havida quando eu me enfezava com algum colega. Meu pai tinha o apelido de Pingo Preto, e quantas vezes o vi chegar a bares para a cerveja com os amigos e ser chamado: “- Senta aqui, negão!!” E meu pai respondia com a galhofa e o bom humor que lhe eram peculiares: “- Negão não rapaz, mais respeito, eu sou é Príncipe Etíope”, sentando-se com uma gostosa gargalhada. Nunca se importou com o apelido, nunca se sentiu inferiorizado e, se alguém pretendia ofendê-lo com o epíteto, a resposta era dada sempre com humor e altivez.
Hoje, quem tem sua mulher que a segure. Se a perder, vai ser difícil arranjar outra, porquanto tudo é assédio!! Todas as armas da conquista amorosa parecem proibidas e sujeitas às penas da lei. Olhou demais? Assédio! Encostou sem querer? Assédio. Roubou um beijo, delegacia direto! Vade-retro!!! O que eu, jovem universitário há trinta anos, fique bem claro, acostumado junto com alguns amigos a corromper porteiros de prédios para fazer serenatas às nossas bem amadas, faria no mundo de hoje? Xilindró, sem recurso!!! Parece que o destino da raça humana será o desaparecimento. Essa turma esquece que na natureza, em todas as espécies, existem rituais de acasalamento, onde existe a aproximação do casal, e que isso É O NORMAL. Essa infantilização da mulher, tornando-a uma imbecil incapaz de se defender de alguns mais saidinhos teve seu ápice nos Estados Unidos quando, em uma entrega de prêmio qualquer, todas as atrizes se apresentaram de preto como a defender a honra ultrajada de todas as mulheres. Ora, paciência!! Ninguém é a favor de atitudes abusivas que devem, sim, serem punidas com rigor. Mas, sem tanta baboseira, por favor!
E eis que diante tanta bobagem nos veio da França, ela, icônica como sempre, um modelo de elegância e beleza gálica e uma das mais respeitadas atrizes do cinema francês e mundial e tasca em um dos mais prestigiados jornais daquele pais, uma carta aberta que provocou polêmica, mas não deixou sem respostas as bizarrices americanas ao dizer que os homens deveriam ser ‘livres para flertar’. Catherine Deneuve, sempre bela e, portanto, eternamente assediada, disse o que deveria ser dito: deixem o povo namorar sem tanta BIZARRICE. A continuar nesta toada, vai acabar valendo o que li no Facebook de um amigo (não sei o autor inicial): O clima anda tão tenso que se você disser que tem intolerância à lactose é capaz de uma vaca te processar. Tá ruim mesmo!
ÁLVARO CÉSAR DOS SANTOS NETTO é Advogado, Mestre em Direito, Membro da Loja Maçônica Mestres do Vale, de Governador Valadares e Membro Efetivo da Academia Maçônica de Letras do Leste de Minas – AMLM