Drama social, a dependência química e os caminhos para a prevenção foram discutidos nesta semana em Caratinga
CARATINGA – A dependência química é um dos maiores problemas de segurança pública e assistência social em nosso país. Só em Minas Gerais, estima-se que metade da população carcerária está presa por causa das drogas, e em sua maioria, devido a apreensões pequenas. Uma questão urgente, que deve envolver a participação de familiares e amigos dos dependentes e do poder público, com o desenvolvimento de políticas eficientes, que trabalhem também a prevenção.
A Lei de Drogas, que passou a valer em 2006, é considerada fator de superlotação dos presídios brasileiros. Ela enquadra muitos usuários como traficantes, pois não estabelece critérios definidos de distinção entre eles, e essa linha tênue acaba gerando a condenação de muitos dependentes químicos. “A maior crítica que eu posso traçar é o fato de que a Lei de Drogas ainda trata o usuário como criminoso. Apesar do usuário não ser encarcerado, não ser punido com pena privativa de liberdade, mas com sanções alternativas que não geram prisão, ele ainda assim é tratado como criminoso. Isso afasta o usuário do sistema público de saúde, porque, como ele é tratado de uma forma estereotipada e marginalizante, ele não procura ajuda para sanar o seu problema. Então a Lei de Drogas prevê um sistema repressivo, mas por outro lado não dá a devida atenção àquele que sofre um quadro de dependência química”, explica o Defensor Público Criminal e de Execução Penal, Paulo César de Azevedo.
Realizado no dia 17 (terça-feira), o Fórum Permanente Sobre Álcool e Outras Drogas foi uma oportunidade para discutir a realidade de Caratinga neste contexto. A Polícia Militar, por exemplo, não realiza apenas ações repressivas. De acordo com o major Márcio Roberto de Souza, da Polícia Militar de Caratinga, atividades preventivas são essenciais, assim como a mobilização de toda a comunidade e de outras áreas como saúde e educação. “A prevenção é muito melhor. Evita sofrimento, evita tantos problemas do ponto de vista social. Então, atuar e investir na prevenção devem ser prioridade em todos os níveis”.
Minas Gerais teve o primeiro Conselho Estadual Sobre Drogas do país, juntamente com Santa Catarina. Desde 1983, o Conead desempenha o papel de ouvir e acolher as sugestões de todos os setores da sociedade, trabalhando com prevenção, fiscalização, tratamento, repressão, reinserção social dos dependentes químicos.
O atual presidente do Conselho, o psiquiatra Aloísio Andrade, esteve presente no Fórum e comentou sobre a questão do vício: “As substâncias psicoativas, que agem no Sistema Nervoso Central, podem ser estimulantes, podem ser relaxantes, podem ser expansoras de consciência. Então o vazio existencial, que na Psiquiatria chamamos de angústias, que é o vazio da alma, ele pede de duas uma: ou alimentos consistentes ou anestésicos potentes. Se você não tem alimentos consistentes para dar sentido para a sua vida, você vai buscar um anestesiamento. Então a sociedade deve apresentar para os jovens e para as crianças opções de preenchimento desse vazio através de práticas esportivas, de práticas artísticas, fundamental também é a questão da prática espiritual. A pessoa pode não ter uma religião, mas ela tem que ter alguma instância que relativize o absoluto da vida. O absoluto da vida que é comer e defecar, beber água e urinar, trabalhar e pagar conta, isso não é suficiente. Entendemos que esse volume de uso de drogas psicoativas no mundo inteiro mostra que nós, enquanto sociedade, não temos oferecido alimentos consistentes. Lembrando que a vida para ter sentido tem que ter o que sustente o sentido da vida. E quem sustenta o sentido da vida são várias duplas de pilares. A família e os amigos, o trabalho e o lazer, a espiritualidade e os prazeres da terra. Então temos que ampliar esse leque de pilares de sustentação para o vazio não ficar tão grade e não sermos tão carentes e buscarmos anestesiamento, e não solução desses problemas”.
FUNEC E ASSOCIAÇÃO MÃE ADMIRÁVEL
Uma das instituições de Caratinga que promove a reabilitação de portadores de dependência química é a Comunidade Terapêutica Mãe Admirável. Por meio de uma parceria feita com o Unec, alunos do curso de Psicologia realizam estágios no local, que hoje auxilia 30 pessoas.
“Esse evento representa a consolidação de um projeto que já existe entre o curso de Psicologia do Unec e a Mãe Admirável, oferecendo para os alunos do curso. Eles são orientados por professores da instituição e auxiliados pelo psicólogo da Associação, visando a reabilitação de pessoas portadoras de dependência química e a comunidade em geral”, comentou Ricardo Luiz de Aguiar Assis, professor do curso de Psicologia do Unec.
O Fórum teve frutos. Foi criada uma Rede de Apoio e Desenvolvimento da Política Sobre Álcool e Outras Drogas da Microrregião de Caratinga, que terá como primeira iniciativa prática estudar a reativação do Conselho Municipal Antidrogas – COMAD. Em um primeiro momento, as conversas envolverão a Polícia Militar e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Os representantes das duas instituições que estiveram no evento, se colocaram à disposição para iniciar as medidas.