*Eugênio Maria Gomes
Nos últimos meses, a maioria dos brasileiros – de maneira muito especial os trabalhadores, cujo dia é comemorado hoje -, não tem tido muito que comemorar, haja vista o aumento vertiginoso do índice de desemprego, o fechamento de postos de trabalho, a drástica redução da oferta governamental de cursos de qualificação profissional e o aumento significativo do valor da cesta básica. Se não bastasse tudo isso, os brasileiros têm sido espectadores de muitas cenas grotescas, protagonizadas por alguns setores e por algumas pessoas da sociedade:
– Na eleição presidencial de 2014, a chapa vencedora – sob a égide de “não podemos parar o progresso do Brasil” -, já administrava um país quebrado, de joelhos economicamente, mantido de pé, naquele momento, pelas ditas “pedaladas fiscais” do governo, utilizando-se dos recursos da Caixa Econômica Federal. O resultado desse camuflado empréstimo ao banco estatal – e a consequente má utilização dos recursos – é apenas a ponta do iceberg da “quebradeira” que assola o país.
– A maior e mais importante empresa brasileira – a Petrobrás -, tão usada na campanha presidencial para desestimular o voto na oposição – acusada que foi de querer “privatizar” a empresa que representava a “soberania nacional” -, quebrou em poucos meses, vilipendiada que foi, durante os últimos anos, por políticos dos mais diversos partidos e pela quadrilha de administradores, coordenada pelos partidos instalados no poder da República.
– Muitos dos que viram no veículo Elba, recebido de “presente” pelo ex-presidente Collor, um bom motivo para o seu Impeachment, agora, entendem que as tais “pedaladas”, a roubalheira e a gestão fraudulenta dos órgãos governamentais não se constituem em motivos para o impeachment da atual presidente.
– O processo de impeachment da presidente Dilma foi dirigido por um dos piores exemplos de improbidade político-administrativa que se tem notícia e que atende pelo nome de Eduardo Cunha.
– A presidente do país, mais preocupada com o seu umbigo e com os “empregos” de seus milhares de correligionários do que com qualquer outra coisa, tem feito “vista grossa” para as decisões do Poder Judiciário, mostrado desconhecimento de sua posição enquanto representante maior da nação, inclusive abandonando todo e qualquer cuidado com o país em relação à comunidade internacional e repete, insistentemente, que está sendo vítima de um “golpe”.
– A maioria dos deputados presentes à votação do impeachment mostrou para o mundo a incapacidade de um povo em escolher seus representantes, atuando em plenário de forma medíocre, vulgar, inconsciente e inconsistente, demonstrando toda a sua incompetência para o exercício do cargo. A ponto de, a maioria, não considerar o assunto principal do processo – as pedaladas fiscais -, ou, até mesmo, a fidelidade partidária para embasar o seu voto, concentrando as justificativas em coisas do tipo “pela minha esposa”, “pela minha família”, “pela religião tal” etc.
– Ainda na votação do impeachment da presidente, a população brasileira pode presenciar o deputado Jair Bolsonaro fazer apologia ao crime de tortura ao reverenciar o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Justiça brasileira como torturador no período da ditadura militar. Também pode assistir ao ridículo comportamento do deputado Jean Wyllys ao cuspir no rosto de Bolsonaro, demonstrando descontrole, não obstante o apologista de direita merecer, de fato, uma reprimenda.
– A população do Rio de Janeiro, de maneira especial a composta pelos aposentados e pensionistas do Governo do Estado, está sem receber os seus soldos, deixando de pagar contas, comprar remédios e comida, enquanto o governo promete gastar algo em torno de quarenta bilhões de reais com as olimpíadas. Mesmo considerando que, neste gasto, muitos benefícios serão permanentes e atenderão a população da segunda maior cidade do Brasil, é crível pensarmos que, um estado que não pode pagar aos seus funcionários não pode, definitivamente, realizar este tipo de evento.
– Com hospitais superlotados, pacientes sem atendimento ou nos corredores, postos de saúde sucateados, escolas abandonadas e ou ocupadas, profissionais das áreas afins desvalorizados, a Saúde e a Educação do país estão em frangalhos, não obstante a alta carga de impostos a que é submetida a população brasileira.
Assim têm sido as cenas desta grotesca comédia em que se transformaram a Política, a Economia e a Qualidade de Vida dos brasileiros. Enquanto isso, tem início no Senado Brasileiro – dirigido por outro suspeito de corrupção, senador Renan Calheiros -, o julgamento da aceitação ou não do processo de impeachment da presidente, encaminhado à casa pela Câmara dos Deputados. Já nas Minas Gerais, o governador Fernando Pimentel é acusado de “blindar” a sua esposa – Carolina de Oliveira Pimentel, investigada na “Operação Acrônimo” -, nomeando-a para gerir a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social.
E o povo brasileiro assiste – vaiando ou aplaudindo – a este grotesco Espetáculo de Horrores. E o que é mais triste: pagando pelo ingresso!!!
* Eugênio Maria Gomes é escritor, professor e pró-reitor de Administração da Unec. Grande Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG. Membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni, do MAC, do Lions Itaúna e da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga.