“Não vemos o mundo como ele é, vemos o mundo como somos”, Anaïs Nin
Todos já devem ter ouvido a frase: Penso, logo existo, mesmo que não conheçam seu autor René Descartes. Para chegar a esta afirmação, Descartes começou a questionar todas as formas que temos para conhecer o mundo ao redor. Ele duvidou, inicialmente, das sensações, pois elas falham e se elas nos enganam algumas vezes, elas podem nos enganar sempre. Posteriormente, ele duvidou das percepções como forma de compreender a realidade por sua falha em detectar as vezes a diferença entre os sonhos e a realidade afinal, há sonhos tão reais que não se sabe se se está sonhando ou acordado. Em seguida, ele colocou em dúvida as certezas advindas da matemática em função da existência de teorias que se contrapõe como quando dizemos que a menor distância entre dois pontos é uma reta, certo? Depende. Esta afirmação está correta de acordo com a matemática euclidiana, entretanto a resposta poderia ser uma curva de acordo com as teorias matemáticas não euclidianas. Dessa maneira, Descartes chegou a uma primeira certeza, o fato de que ele estava duvidando. Ele não teria como duvidar que estivesse duvidando, pois assim ele só confirma que está duvidando. E o fato de estar duvidando lhe confirma a sua existência. Afinal, aquilo que não existe, não duvida. Eis aí sua primeira certeza: duvido, logo existo. Mas como duvidar é um modo de pensar então sua afirmação se modificou para ‘Penso, logo existo’ que significa: penso, logo tenho consciência de mim mesmo, ou penso, logo sei, ou penso, logo tenho consciência.
Você já percebeu que tudo começa com o pensamento? Através do pensamento que surge os primeiros e mais importantes fenômenos da mente. A realidade não se esgota sem si mesma. Tudo o que existe no nosso exterior precisa ser capturado por nossa percepção e introjetado em nosso interior para termos consciência de sua existência. A partir dessa captura nós avaliamos e julgamos essa informação considerando-a positiva, ou negativa, ou irrelevante, ou neutra, etc. Nosso cérebro vai observando como julgamos os diferentes tipos de informações que recebemos e vai aprendendo a fazer isso sozinho sem que tomemos consciência disso. E para gerar economia nos gastos energéticos, nosso cérebro se condiciona a avaliar as futuras informações dessa mesma maneira sem que ele precise nos consultar. Assim nascem os pensamentos automáticos que moldam nossa personalidade, que determina nossas atitudes e conferem ao mundo o julgamento que temos dele.
São os nossos pensamentos os responsáveis por quem somos e somos nós os responsáveis pelos nossos pensamentos. É pelo pensamento que compreendemos o mundo ao redor e o nosso mundo interno. O mundo pessoal em que vivemos é produzido pelo somatório de como o mundo é e como nós o compreendemos, ou seja, o que pensamos a respeito dele. Se o seu mundo é um lugar desolador de se viver onde não há esperanças de um mundo melhor, saiba que esse é o mundo que você criou através das suas observações e principalmente através das suas conclusões. Não quer dizer que ele seja de fato dessa maneira. Da mesma forma se você acredita que o mundo é um lugar maravilhoso de se viver com inúmeras manifestações que indicam que o mundo é lugar bom para se viver, saiba que esse é o mundo que você criou.
– Mas então como é o mundo realmente?
– Não sei. Não sabemos. Conhecemos apenas o mundo que criamos.
– Mas qual dessas visões a respeito do mundo está correta?
– As duas. Ou nenhuma delas. Depende de você.
O mundo nós mesmos criamos e por ele somos os responsáveis. Qualquer maneira dicotômica de tentar compreender o mundo está errada. Qualquer maneira definitiva de interpreta-lo também está. Pois o mundo é no fundo um universo de possibilidades com várias combinações possíveis e em eterna modificação. A questão não é como é o mundo e sim como você quer que ele seja. Pare um momento e duvide de tudo ao se redor assim como Descartes fez. Tente despir o mundo de tudo aquilo que você atribuiu a ele e busque olhar para esse mundo através das suas infinitas possibilidades. Desprender do mundo que conhecemos não é fácil, é revolucionário até, mas imprescindível para que possamos construir o mundo que queremos.
Todas as nossas alegrias começam nos nossos pensamentos sobre a vida, sobre os fatos, sobre nós mesmos e sobre os outros. Assim também acontece com as nossas tristezas. Se enfrentamos os obstáculos como oportunidades perfeitas para desenvolver nossas habilidades de resolução de problemas, os obstáculos não vão nos incomodar tanto. Já o impacto do pensamento negativo é notório na construção de sensações negativas. Responsabilize-se pelo mundo em que você vive percebendo que você o criou através dos seus pensamentos interpretações.
Podemos ser uma infinidade de coisas, podemos até não ser nada… vai de cada um. Podemos criar coisas incríveis com a nossa mente, podemos destruir o que não nos agrada, podemos destruir até o mundo. Apenas não sabemos disso. Apenas não sabemos como.
Luciana Azevedo Damasceno – Neuropisicóloga e Terapeuta Cognitivo-Comportamental formada pela PUC Rio. Elogios, dúvidas e sugestões: [email protected]