Minas Gerais é um dos maiores estados do Brasil. Também é um dos mais populosos, o segundo mais populoso, para ser exato. Seu PIB (produto interno bruto) é um dos maiores do País e o estado é o segundo colégio eleitoral brasileiro. Possui centenas de municípios, um enorme parque industrial e um setor agrícola pujante e tradicional.
Minas Gerais, por sua extensão geográfica, apresenta regiões frias, muito frias. Apresenta também, em sua porção norte, regiões quentes, muito quentes. Possui algumas cidades, como Uberlândia, Juiz de Fora, Uberaba, com bons índices de desenvolvimento humano e outras, como algumas das que estão localizadas na região do Jequitinhonha, com IDH comparável ao de alguns países africanos.
Em Minas Gerais se localiza a Reserva Particular do Patrimônio Natural Feliciano Miguel Abdala, onde se preserva uma significativa área da Mata Atlântica e um dos primatas brasileiros também ameaçados de extinção. Isso em um dos Estados mais devastados e com o meio ambiente mais degradado do País, muito em virtude da mineração, da agricultura e pecuária extensiva e pouco produtiva, mas também pela inexplicável predileção mineira por cimento, pedra e asfalto…
Minas Gerais é um estado altamente politizado. Desde a velha república, sempre influenciou, decisivamente, o destino político do País. Muitos dos mais significativos e importantes políticos brasileiros nasceram em suas cidades, beberam do seu leite, comeram seu pão de queijo.
Parece que todas as contradições desse fascinante estado não se limitam a sua geografia, ou ao seu desenvolvimento pouco equilibrado. Assim como suas montanhas, que abruptamente transformam-se em vales, assim como seus riachos transformam-se abruptamente em caudalosos rios, o temperamento e as opções político-partidárias dos mineiros parecem contraditórias.
Minas Gerais sempre foi visto pelos outros estados da federação como um estado conservador, tradicionalista, avesso a grandes mudanças, a grandes guinadas. Nem tanto à direita como Goiás, nem tão à esquerda como o Rio, Minas podia ser caracterizado como um estado de centro. Podia!
Finda a apuração dos votos, deste 1º Turno, os resultados em Minas Gerais são, no mínimo, curiosos…
O candidato à Presidência, ex-governador do Estado, representante do PSDB, ficou em segundo lugar no pleito; o Governador eleito, já neste primeiro turno, faz parte do PT; o Senador eleito e ex- governador é do PSDB; o Deputado Federal mais votado é do PT, e por ai vai…
Será que os mineiros se esqueceram que o Senador e o Governador do Estado precisam estar em sintonia para que o primeiro possa efetivamente representar os interesses estaduais no Senado Federal? Como explicar que o candidato Aécio Neves que governou o Estado por duas vezes, e deixou o governo com mais de 90% de aprovação, foi sucedido pelo seu Vice, que, embora eleito para o Senado, não conseguiu emplacar seu sucessor no suntuoso Palácio Tiradentes mesmo após ter realizado um governo altamente elogiado?
Há algo de estranho no Reino das Gerais…
Talvez, esse paradoxo mineiro, que não lhe é exclusivo, seja explicado por um dos incontáveis males da política brasileira: o personalismo!
Em Minas Gerais, como na maioria das seções eleitorais brasileiras, não se vota em ideologias, não se vota em partidos, não se vota em ideias, tampouco se vota em programas. Vota-se em pessoas! Vota-se em critérios passionais, não ideológico-racionais.
Quantos eleitores mineiros, e brasileiros, conhecem os programas de governo dos três principais candidatos à Presidência? Será que “os conservadores” eleitores das Gerais votariam no Partido dos Trabalhadores se soubessem que faz parte de seu programa a implantação de uma “democracia popular” como modelo de transição para o socialismo? Será que os mineiros que ocupam cargos públicos federais votariam no PSDB mesmo sabendo que o partido defende uma redução da máquina estatal o que implicará, necessariamente, a diminuição do número de servidores? Será que os ruralistas mineiros, e seus agregados, votariam em Marina Silva, se soubessem que seu partido defende severas restrições ao uso do solo?
Se a resposta fosse positiva a qualquer das indagações acima descritas, tudo estaria bem, pois isto significaria que o eleitor estaria votando neste ou naquele candidato porque compartilha de suas ideias, de seus programas, de sua visão de mundo. Mas não creio que seja assim…
Ao que parece, o eleitor mineiro – como milhões de outros eleitores brasileiros -, vota com o coração, com a empatia. Vota porque o candidato é simpático, porque lhe apertou a mão, porque fala bem, porque ele veio à cidade, distribuiu camisetas, beijou as crianças ou tomou um cafezinho em sua casa…
O que farão agora os mais de oitocentos e cinquenta prefeitos mineiros? Apoiarão a oposição ou a situação? Mas quem é mesmo oposição e quem é situação? Apoiarão o partido de seu futuro Governador, a quem terão que recorrer mês a mês para fechar suas contas? Apoiarão o PSDB, correndo o risco de ter no Planalto um partido de oposição àquele que se instalará em Belo Horizonte, mas que certamente olhará para Minas Gerais com mais cuidado ainda, buscando resgatar o ninho tucano?
Os males do personalismo são muito bem conhecidos e descritos pela Ciência Política. Algumas vezes, o personalismo leva ao Caudilhismo, ao Populismo e ao Bolivarianismo. Porém, de forma quase inexorável, o personalismo sempre demonstra a ingênua percepção do eleitor de que o candidato eleito resolverá todos os seus problemas, será um salvador da pátria, alguém que os redimirá de todos os problemas, de todas as mazelas…
Sucede, no entanto, que tal figura, na vida real, não existe. Em um país complexo, gigantesco, diverso e plural como o Brasil, ou em um estado tão peculiar, como Minas, ou pegamos coletivamente o destino do espaço público em nossas mãos, o que implica que temos todos que participar do jogo político, ou os muitos problemas que se arrastam historicamente, mesmo que o país tenha avançado muito nos últimos anos, tendem a se perpetuar…
Nesse contexto, não deveria mais haver escolhas exclusivamente pessoais, baseadas nas qualidades ou características deste ou daquele candidato… Há que se observar suas ideias, seus programas, suas alianças, seu histórico de vida, suas origens, e, principalmente, suas propostas!
Todavia, parece que ainda temos um longo caminho a percorrer.
No momento, seria bom se conseguíssemos nas Gerais, assim como no restante do Brasil, escolher alguém que possa nos livrar da triste tríade corrupção-inflação-recessão que se nos abate…
Mas para isso, precisaremos de muito pão de queijo, e muito cafezinho!
Ainda há tempo. Teremos segundo turno, e com ele, uma nova eleição. E a cada eleição “renova-se a esperança. Nova aurora a cada dia. E há que se cuidar do broto, para que a vida nos dê flor e fruto, coração, juventude e fé…”
* Eugênio Maria Gomes é professor e escritor.