Fabricação de móveis rústicos em Piedade de Caratinga atravessa gerações
PIEDADE DE CARATINGA- Besaliel foi um artesão, que trabalhou na construção do tabernáculo. O personagem bíblico foi escolhido para nomear uma empresa familiar de Piedade de Caratinga. O ofício passou de geração para geração.
O nome significa ‘debaixo da sombra de Deus’. Elizângela de Souza Mendes Araújo, 44 anos explica: “Não há lugar para estar. Debaixo da sombra de Deus somos abençoados em todo e qualquer momento”.
Ela relata que o trabalho de marcenaria começou com o avô Anésio Mendes Vieira, em Caratinga, no Bairro das Graças. Após a morte de Anésio, o pai de Elizângela, Eliezer Mendes Vieira, 66 anos, decidiu ir para a cidade de Piedade de Caratinga, onde deram continuidade ao trabalho.
Conforme Elizângela, a família já trabalha nesta área há mais de 60 anos. “A fabricação de móveis começou do meu bisavô, meu avô, agora meu pai e eu. Já é a quarta geração e meus filhos Débora e Felipe também já estão trabalhando, espero que eles deem continuidade. Está no sangue da família, a gente gosta, os irmãos do meu pai todos são marceneiros”.
A madeira se transforma em uma peça de arte. O fascínio pelo simples material bruto já desperta imaginação para um móvel pronto. “É tão engraçado, que a gente ia viajar e passava perto daquelas plantações de eucalipto, ele ficava assim: “Nossa, estou imaginando uma mesa”. Minha mãe falava: “Esquece de madeira, você está indo passear” (risos)”.
A PRODUÇÃO
Elizângela detalha como funciona a produção. O trabalho é dividido entre os familiares, cada qual com sua função, de forma organizada. “Até pouco tempo a gente pegava a tora e desmembrava até virar o móvel. Mas, a máquina estava dando muito problema e resolvemos já comprar a prancha pronta. O pessoal traz o eucalipto, vende a prancha já desmembrado, já falamos para eles mais ou menos a medida que usamos e começa a produção. Um corta, outro apara, lixa, fura, um monta, depois vem outro e dá o acabamento até o resultado final. Eu sou mais a parte de venda”.
Questionada sobre os móveis mais procurados, destaque para as mesas rústicas, além de outros itens. “Antes a gente estava com dificuldade de achar os pranchões, mais grossos, agora tem muita madeira mesmo. Vendemos a mesa dobrável para restaurante, pizzaria, as mesas fixas também de quatro pés. Atendemos também com bancos para igreja, mesa para escolinha. E os tamboretes, que são o carro chefe, todo mundo passa e quer comprar”.
Para a família, ao contrário de muitas empresas, o cenário de pandemia tem registrado resultados positivos. “Levamos móveis também para Belo Horizonte, temos uma loja, tenho duas irmãs que moram lá. No início a gente vendia uma madeira para fazer um telhado, coisinhas assim. Nessa pandemia muita gente reclamou, mas, para nós abençoou, Deus tem nos abençoado, nossa produção mais que dobrou. Tivemos uma época muito fraca com as pessoas preferindo muito o MDF, porque realmente têm uns móveis que são muito bonitos, mas, tem a questão da durabilidade. Quer uma mesa de jantar com vidro e MDF, mas, com o tempo vai descolando. A madeira é outra coisa”.
Para manter a qualidade e durabilidade do móvel em madeira em alguns cuidados devem ser tomados. “Evitar molhar. Os nossos móveis são colados, é uma cola muito boa, mas, é à base de água. Se ela molhar vai perdendo a propriedade, tem que ter esse cuidado. Nós damos assistência, der problema a gente cola, mas, tem que ter esse cuidado. E é possível até saber o que foi feito para danificar”.
Os móveis fabricados pela família são comercializados na sede, situada à Avenida Isabel Vieira, 535 (saída para São João do Jacutinga.
- Tradição de fabricar móveis é passada de geração em geração
- Mesas rústicas estão entre as mais procuradas
- Elizângela Mendes destaca que paixão pelos móveis rústicos “está no sangue”