Pode parecer absurdo, mas, ainda hoje, ano de 2023, existe gente que acha que futebol é coisa de homem. Não sei em qual século essas pessoas vivem, mas, posso garantir que vivem num mundo paralelo que não cabe mais esse tipo de pensamento retrógrado, atrasado, carregado de preconceito machista.
Este final de semana estive trabalhando nos jogos entre UAI de Inhapim e ADIM de Imbé de Minas, valendo pelas semifinais do Campeonato Regional das categorias Sub 15 e 17, promovido pela Liga Caratinguense de Desportos, fiz questão de abraçar a talentosa Ester Emanuelly, volante do time Sub 15 da ADIM. Jogando no projeto desde os 10 anos, aos 12, a garota ganhou espaço no elenco do professor Grosse, com qualidade técnica, disposição e sem medo de cara feia, Ester ganhou também o respeito dos meninos.
Para quem ainda pensa com a cabeça da minha bisavó, a CBF regulamentou em 2019: Agora, meninas e mulheres poderão fazer parte de equipes masculinas e de competições antes reservadas apenas para eles. A nova regra pode ser aplicada em todas as categorias, da iniciação esportiva ao futebol amador adulto. Só que a autorização fica a critério das entidades organizadoras dos torneios. Por isso, a CBF anunciou que fará campanhas para que a mudança seja efetiva. Quando fui consultado como presidente da LCD no começo do Regional se autorizaria a inscrição da Ester, não tive dúvida em permitir, afinal, assim como outras meninas, a jogadora já treinam com os meninos e compete em condições de igualdade. Parabéns ao professor Wagner Grosse pelo belíssimo trabalho e exemplo de inclusão. Parabéns aos pais da Ester Emanuelly que apoiam os sonhos da filha, mostrando pra ela que mulher pode sim jogar futebol com quem elas quiserem.
Proibidas de jogar
Quando digo que infelizmente nossa sociedade ainda carrega uma herança machista muito grande, no futebol o machismo era legalizado. Em 1941, auge da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, o presidente acenava a alguns ideais fascistas, como um nacionalismo exacerbado e a estatização das atividades socioculturais. No caso do decreto-lei 3.199, o futebol. Havia também o contexto social conservador da época, com a ideia predominante de que homens e mulheres deveriam desempenhar papéis específicos, como trabalhar e cuidar dos filhos, respectivamente.
Durante a Ditadura Militar, em 1965, o Conselho Nacional de Desportos (CND) citou nominalmente os esportes proibidos com “lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo-aquático, rugby, halterofilismo e beisebol”. A regulamentação do futebol feminino aconteceu apenas em 1983, apesar de oficialmente o fim deste decreto ter sido em 1979. Com isso, foi permitido que se pudesse competir, criar calendários, utilizar estádios, ensinar nas escolas. Clubes como o Radar e Saad surgem como pioneiros no profissionalismo e serviram como base da seleção brasileira em 1988.
Rogério Silva
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