CARATINGA- No período 2007 a 2018 (até julho), foram notificados 70 casos da Febre Maculosa em Caratinga. É o que revela estudo do Departamento de Epidemiologia, no Boletim de Vigilância em Saúde. Destes, foram 25 casos nos meses de pico da doença (setembro e outubro) apresentando índice de 35,71% dos casos notificados. Quanto à origem, 65,72% dos casos ocorreram em pacientes moradores da área urbana, a maioria deles no Bairro Esplanada. A maior incidência foi encontrada em pessoas do sexo masculino. E a faixa etária predominante foi a dos 20 aos 39 anos.
O enfermeiro investigador da Vigilância Epidemiológica, Paulo Henrique Nunes Borges explica detalhadamente sobre a doença. Inicialmente ele esclarece a situação atual de Caratinga em relação à Febre Maculosa. “Atualmente teve um caso confirmado, mas a pessoa com a doença já tinha tomado a medicação. E nos últimos cinco anos ocorreram 15 casos suspeitos, com um caso em que o paciente veio a óbito, uma morte que poderia ter sido evitada e os outros foram negativos”.
Segundo Paulo, a febre maculosa é uma doença infecciosa, febril aguda e que pode variar desde as formas clínicas leves e atípicas até formas graves, com elevada taxa de letalidade. “Uma zoonose, doença transmitida por animais, notadamente o carrapato estrela, que começa com sintomas da dengue, como febre, dor muscular, náuseas, vômitos, diarreia. Entre o segundo e sexto dia da doença aparecem manchas, pontos vermelhos e o diferencial é que quando ela entra na fase grave, a pessoa já começa a ter sangramento, insuficiências hepática e renal, ataca o sistema nervoso central, AVC e hemorragias graves, mucosas em órgãos, derrame pleural. Nestes casos a letalidade chega a praticamente 100%”.
Dos casos notificados no município nos últimos 11 anos, 64 pacientes tiveram contato com carrapatos o que representa 91,43%, seis com capivaras (8,57%), 27 com cão/gato (38,57%), 15 com bovinos (21,43), 21 com equinos (30%) e quatro pacientes tiveram contatos com outros animais representando 5,71%.
O enfermeiro explica esses números, afirmando que a transmissão é pelo carrapato, mas existem os animais reservatórios da doença. “Eles podem carrear o carrapato, como cavalo, capivara, cão. O causador da febre maculosa é uma bactéria gram-negativa, tem o formato de espiral, é um parasita intracelular e a doença mata por um processo que chamamos de vasculite. Essa bactéria inflama todos os vasos do corpo”.
PREVENÇÃO
Mas, como controlar a doença? Segundo Paulo, algumas medidas de prevenção são fundamentais. “Por exemplo, se a pessoa for na área rural, ir com roupas de manga comprida, clara, para detectar o carrapato subindo e tirar depois, para evitar de ir para a pele. Quando ele está na pele, aconselhamos também a não retirar o carrapato de qualquer maneira, muitas vezes a pessoa vai querer espremer e se tiver alguma lesão, pode ser contaminado por bactéria. Orientamos que se dirija a um posto de saúde para retirar com a pinça, onde se pega o aparelho bucal do carrapato, faz um movimento para cima, tirando o carrapato inteiro. Se ficar resto do carrapato, além de contaminar, pode ficar uma inflamação. Fechar portas e janelas do carro, porque pode entrar e infestar. Colocar a calça pra dentro da bota e uma fita com a parte adesiva para fora, para o carrapato ficar preso”.
É preciso ficar atento, pois o carrapato pode se “esconder” pelo corpo da vítima. “Inspecionar o corpo de três em três horas, se for em área rural, para detectar o carrapato. Tem casos, por exemplo, do carrapato entrar no umbigo, na região genital, já teve caso de criança que o carrapato foi na região peniana. Ele pode ir nos lugares mais insólitos, principalmente na fase ninfa”.
São quatro estágios evolutivos do carrapato: ovo, larva, ninfa e adulto. “Os carrapatos menores são a fase jovem, os maiores seriam a fêmea cheia de ovos, que é o popular ‘reboleiro’, porque às vezes a fêmea fica com tanto ovo, que não aguenta andar, fica rebolando. E o pequenininho é a ninfa, como ele é muito carreado pelo vento, pode cair no corpo, ficar quatro a seis horas e transmitir a bactéria”.
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
O diagnóstico da febre maculosa é geralmente realizado a partir de dois testes. “Os exames que nós fazemos são a imunofluorescência, onde detectamos os anticorpos contra a bactéria e o PCR (Reação em Cadeia de Polimerase), exame mais sofisticado, para tentar detectar o DNA da bactéria. Em caso de morte suspeita que não foi coletada nenhum exame, ainda tem como saber se a pessoa morreu desta doença, seria através da necropsia e testando o tecido, geralmente o fígado, os antídotos da bactéria. Mas, é um caso que a Vigilância nunca teve a vivência, porque é preciso todo um parâmetro legal, tem que conversar com a família, pedir autorização, explicar que é um caso de esclarecimento para a saúde pública. Até hoje nunca tivemos um caso que precisou fazer uma necropsia”.
42,86% dos casos notificados no município no período 2007-2018 (até julho) foram internados, 10% foram confirmados laboratorialmente e 2,85% dos casos evoluiu para óbito. Os óbitos foram registrados nos distritos de Santo Antônio do Manhuaçu em 2008) e Dom Modesto em 2017.
O enfermeiro investigador ressaltou a importância do tratamento precoce. “Aqui na Vigilância tem o seguinte protocolo, que é adotado pelo Ministério da Saúde. Por exemplo, chega uma pessoa aqui, como sou investigador, tem que perguntar toda a história clínica, epidemiológica; se ela teve contato com carrapato e começou a ter sintoma, o ideal é coletar o exame, mandar, mas não esperamos o resultado. Já começa o tratamento, porque os exames que são feitos para sabermos se é febre maculosa ou não são mandados para Belo Horizonte, demora um pouco, então é suspeitou, tratou”.
Para tratamento, são utilizados dois antibióticos, o clorafenicol e a doxiciclina, quatro comprimidos de seis em seis horas, durante 10 dias. “Então são 40 comprimidos, ainda tem que ter o cuidado de três dias após sumir a febre, tomar também mais uns três dias a medicação”.
Paulo finaliza fazendo um alerta sobre a doença e a importância de procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível. “Não pode esperar, porque se a pessoa não tratar, a febre maculosa pode matar em torno de sete a nove dias”.