Inesquecível foi minha experiência naquela igreja grande, com mais de vinte mil membros!
Eu era um dos cinco pastores, e tínhamos também um superintendente, que administrava várias igrejas num bairro de classe média na cidade de Berlim Ocidental.
Nós éramos recém-casados, e morávamos num pequeno apartamento da comunidade. Minha função principal era de ser o pastor dos jovens. Que tipo de jovens vinham aos cultos? Bem, se era um encontro tradicional, podia-se contar com os dedos de nossas mãos o número de jovens presentes. Mas, quando fazíamos alguma coisa na qual eles eram convidados a participar, aí juntávamos cem, duzentos, trezentos e mais – gente jovem não faltava naquela região.
Assim, eu tinha uma liderança jovem que me ajudava na organização da programação, e os temas que eles sugeriam eram sempre benvindos.
Quando, pois, foi sugerido um debate sobre a pergunta: “-Jesus realmente ressuscitou?”, a animação foi geral. Veio a ser um evento especial da comunidade, e que seria realizado no salão dos jovens, que era de fato, um porão debaixo da casa paroquial, cuja escavação e acabamentos fora finalizada em nossa gestão. Modéstia à parte, ficou muito aconchegante, e todas as tardes eles lotavam o local.
Mas quem iria discutir o tema proposto? A sugestão dos jovens foi que três dos pastores ‘jovens’ fossem fazer esse debate.
Lembro-me muito bem ainda como eu estava nervoso, pois mesmo que me dava muito bem com os nossos jovens, e estaríamos dentro de ‘nossa casa’, não podia nem imaginar como essa discussão poderia acabar.
Claro, éramos todos ‘civilizados’, mas será que os diferentes pensamentos poderiam ser abarcados num encontro de jovens?
E quem ganharia (?) o debate? As emoções só estavam crescendo mais e mais…
No dia marcado, um sábado, a casa estava cheia. A expectativa era grande. Como eu era o pastor mais jovem, os outros dois fizeram primeiramente as suas apresentações (de 15 minutos cada), e depois viria eu.
Os meus colegas deram uma resposta muito semelhante: para eles a ressurreição não existiu, que ela foi fruto da imaginação dos discípulos, e que – a partir daquela ‘criação’ entre sonho e realidade – foi desenvolvida (consciente ou inconscientemente?) a primeira comunidade de crentes, a igreja cristã, que cresceu muito e hoje se destaca entre as religiões mais praticadas no mundo.
Chegou a minha vez. ‘Naftalina’ (adrenalina) da mais pura!
A posição dos meus colegas – sim, eu também a tinha estudado na escola de teologia nos EUA, na Divinity School da Yale University. Lembrava bem o que a teologia liberal alemã tinha ‘criado’ – uma ‘fé’ diferente, cuja característica principal era que ela (tinha de caber) cabia dentro da razão e do raciocínio humano. Nada que extrapolasse o normal, o natural, ou aquilo que todos pudessem concordar – nada disso era admitido como ‘real’.
No meu tempo de estudante, apesar de fazer um estudo sério sobre o assunto, cheguei a considerar que elas eram conjeturas hipotéticas possíveis, mas as quais eu mesmo nunca iria levar a sério. Pois logo ia me lembrando de Paulo, que dizia que se Cristo não tivesse ressuscitado, nossa fé era em vão, isto é, não valia nada, bem como de todas as outras afirmações tanto do Antigo como do Novo Testamento, da promessa de Deus de “tragar”, isto é, engolir a morte, da promessa de vida no pós-túmulo, e de tantas outras – Jesus dizendo que, “se alguém crê em mim, ainda que esteja morto viverá”, e também, a tremenda afirmação d’Ele “Eu sou a ressurreição e a vida”! Como é que eu poderia me adentrar por um ‘caminho’ tão contrário, e que não podia trazer nenhum tipo de esperança, nem para esta e muito menos, para a vida no pós-morte?
Levantei, pois, e num alemão caprichado, trouxe minha apresentação, mostrando as inúmeras citações do relato da ressurreição nos Evangelhos que mostram que os próprios discípulos não estavam entendendo nada, que não tinham a menor ideia sobre o acontecido (o Pedro saindo correndo de madrugada, os ‘homens’ que eles viram lá dentro do sepulcro, vestidos de branco, reluzentes (como na tradição da aparição de anjos)! E aqueles ‘panos enrolados’ ao redor do corpo de Jesus: a descrição na língua grega diz que eles tinham ‘murchado’: como se aquilo que estivera dentro (o corpo de Jesus) tivesse saído, mas sem que aquelas faixas funerais tivessem sido desenroladas – impossível?!
Após meus 15 minutos, e terminando com a afirmação de que eu cria que Ele tinha verdadeiramente levantado dentre os mortos, que a ressurreição era um fato histórico, os jovens – que, eu pensava, teriam gostado muito mais da posição dos outros dois pastores, alemães como eles, com mais ‘lógica’ e menos ‘complicada’ – eu pensava que sua reação seria diferente. Mas que surpresa agradável: eles bateram palmas, e ovacionaram, demonstrando que preferiam a posição tradicional da fé cristã!
Quarenta e cinco anos se passaram – e hoje fico feliz, pois a própria teologia tem dado uma boa guinada de volta para a interpretação mais tradicional, mais de acordo com a própria Bíblia.
A fé, tanto na ressurreição como em qualquer outro momento ou tema ‘miraculoso’ da Bíblia, não é um produto do conhecimento apenas. Ela possui um algo mais que não podemos definir a contento, mas que serve – em muitas ocasiões – para ‘colar’ ou ‘selar’ um ensino, e fazê-lo se encaixar no mosaico de nossa compreensão dos ensinos bíblicos.
E isso, sem ofender a razão, nem nossas tradições! Deixando-nos, é óbvio, com um saldo positivo de emoções, e aumentando nossa disposição para enfrentar as maiores dificuldades, inclusive da perda de uma pessoa querida!
Rev. Rudi Kruger – Diretor
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