Roger Machado tem 44 anos. Sua carreira como jogador foi muito vitoriosa. Pelo Grêmio, ganhou tudo que foi possível: três copas do Brasil, uma Libertadores, vários Gaúchos, entre outros campeonatos. Mas agora, como treinador, o gaúcho de Porto Alegre vem conquistando cada vez mais seu espaço. Estamos falando de um treinador negro, em um cenário completamente preconceituoso, onde ele precisa provar o dobro que é bom e merece estar ali. Sua caminhada nunca foi fácil, assim como a de todo negro no Brasil.
Atualmente no Bahia, as coisas mudaram. Foi campeão estadual neste ano e vem se destacando muito com o belo trabalho que faz no comando do tricolor. Além disso, fora de campo a batalha é ainda mais intensa. O treinador, que até pouco tempo era o único treinador negro na Série A – Marcão foi efetivado no Fluminense -, vestiu a camisa contra o racismo. Após a partida contra o próprio Fluminense, Roger deu uma aula sobre como o racismo existe no mundo e, principalmente, no meio do futebol. Ele e Marcão protagonizaram uma das cenas mais marcantes do futebol brasileiro, inclusive.
“Não deveria chamar atenção dois treinadores negros na área técnica, depois de ser protagonistas dentro do campo. Essa é a prova que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção. Na medida que a gente tem mais de 50% da população negra e a proporcionalidade que se representa não é igual. (…) A estrutura social é racista, ela sempre foi racista, porque nós temos um sistema de crenças e regras que é estabelecido pelo poder. E o poder é do Estado, das comunicações, da Igreja e quando esses poderes não enxergam ou não querem aceitar e assumir que o racismo existiu e precisa haver uma correção nesse curso, muitas vezes dizem que estamos nos vitimando. A verdade é que 10 milhões de indivíduos foram escravizados, mais de 25 gerações. Passou pelo Brasil colônia, pelo império e só mascarou na República. Nós precisamos falar sobre isso”.
O Bahia segue com chances de Libertadores, e Roger é o principal motivo para a boa fase do clube. Dentro e fora de campo. Um treinador que tem total apoio da direção e da torcida, consegue tirar o máximo de cada jogador e se doar com excelência. Além disso, tudo que o Grêmio tem hoje é graças a Roger, que iniciou os trabalhos antes de Renato Portaluppi chegar para a sua segunda passagem.
Matheus Soares