*Eugênio Maria Gomes
José, um cidadão do interior de Minas, andava meio cismado com um incômodo no peito, sentido nos últimos dias. Não era propriamente uma dor, mas, um aperto, uma sensação ruim. Em conversa com um amigo e colega de trabalho, ouviu dele o seguinte: “Veja se isso não é falta de Deus. Deus está sempre por perto, mas, é preciso que abramos a porta e o convidemos a entrar”. Tal afirmativa encontrou guarida no pensamento de José e uma pergunta passou a martelar o seu juízo: o que significaria “Abrir a porta para Deus”?
Pouco tempo depois, José saiu do trabalho e dirigiu-se ao caixa eletrônico de uma instituição bancária. No retorno, ao passar perto de uma igreja, resolveu fazer algumas preces, na tentativa de responder a tal pergunta, incrustada em sua mente. Logo na entrada do templo havia um rapaz, com jeito de ter uns 30 anos, encostado no portal. Assim que ele avistou José, ergueu uma das mãos, com a palma virada para cima e lhe solicitou ajuda para poder comprar comida. José olhou aquele rapaz jovem, aparentemente forte e, sem sequer responder ao seu pedido, dirigiu-se à pequena capela de adoração, enquanto pensava o quanto era absurdo aquele jovem pedir esmolas em vez de procurar trabalho. De joelhos, José rezou por alguns minutos, com tanto fervor que, por pouco, sua aura não foi vista. Ao sair da igreja, pelo mesmo portal de entrada, apenas olhou mais uma vez o rapaz e seguiu o seu caminho. Permaneceu com a mesma sensação de “peito apertado”, de porta fechada para Deus… E, assim, ele terminou o dia.
José chegou a sua casa cansado, estressado, depois de um dia intenso de trabalho. Mal respondeu ao cumprimento da esposa, chamou a atenção do filho por conta de um barulho qualquer, não respondeu ao pedido de bênção de sua filha e foi truculento com a empregada, por conta de um pijama que não havia sido passado. Sua esposa ainda terminava o jantar quando ele se serviu, pegou o prato e dirigiu-se ao sofá, intercalando a mastigação com o olhar atento no telejornal. Comeu feito um leão, engolindo rapidamente a comida, sem qualquer cerimônia, sem qualquer agradecimento e, em pouco tempo, roncava em frente à televisão, sendo arrastado pela esposa até a cama. Deitado, lembrou-se da frase “Abrir a porta para Deus” e fez a oração da noite… Rezou e dormiu, com a mesma sensação de “peito apertado”, de porta fechada para Deus… E, assim, ele passou a noite.
No dia seguinte, José acordou cedo. Sentado na beirada da cama, lembrou-se da “porta fechada” e fez sua oração da manhã. Agradeceu a noite e pediu pelo dia que estava começando. Entrou no chuveiro, gritou a mulher e reclamou por conta da toalha que não estava no lugar de costume. Reclamou do café mais fraco do que o habitual, falou um palavrão ao tropeçar em um brinquedo, maldisse a vida, entrou no carro, sem dar tchau ou dirigir qualquer palavra à esposa e aos filhos que ficaram à mesa, fazendo o desjejum. Ele deu partida no motor e, mais uma vez, não gostou de seu barulho. Fez o sinal da cruz, e partiu com a mesma sensação de “peito apertado”, de porta fechada para Deus… E, assim, ele iniciou o dia.
Naquele dia, o barulho do motor sobrepôs-se por um instante à afirmativa “Abrir a porta para Deus” e ocupou seu pensamento, fazendo-o concluir que era preciso trocar seu automóvel. O carro já tinha mais de três anos de uso e já estava com mais de cem mil quilômetros rodados. José desejava um carro maior, com mais acessórios, mas queria fazer a troca sem assumir prestações e, também, sem desembolsar muito dinheiro. Se havia uma coisa que José sabia fazer era auferir lucro fácil, passar a perna nos outros e aumentar a conta bancária. No final do dia, estava de carro novo. Porém, antes de sair com o seu possante da concessionária, José lembrou-se novamente da tal “porta fechada para Deus” e fez uma oração, agradecido que estava por tudo dar tão certo em sua vida. Em seguida, foi dar aquela voltinha, desfilando o fruto de seu sucesso. Desfilou com a mesma sensação de “peito apertado”, de porta fechada para Deus… E, assim, ele passeou pela cidade.
José voltou a procurar o colega de trabalho e amigo que havia lhe falado sobre Deus e as portas que podem ser abertas para Ele entrar, em busca de respostas para o seu “peito apertado”, para a sensação de “Falta de Deus”. Relatou-lhe os últimos acontecimentos, firme no entendimento de que era um homem de sorte. Tinha fé, família, trabalho, dinheiro e o olhar de admiração das pessoas. Apenas lhe faltava o alívio no peito, a boa sensação da presença de Deus. Do amigo, recebeu a seguinte resposta: “Abrir a porta para Deus significa, muito mais, do que ajoelhar-se no banco da igreja, apresentar-se piedoso ou rezar a cada ação desenvolvida. Abrir a porta para Deus entrar, significa, também, ser bom, justo, sincero, honesto, leal e caridoso”.
De certo, mesmo sendo Deus, Ele não entrará em nenhuma casa, sem ser convidado. Ademais, Ele certamente tem mais coisa a fazer que sair derrubando portas que insistem em permanecer fechadas. Rezar abre portas, porquanto o convite para Deus entrar é feito através das boas obras. “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”. (Tiago 2:26).
Eugênio Maria Gomes – professor, apresentador e escritor