Danilo Bruno Louro de Oliveira*
Desde o começo de sua caminhada, a humanidade percebeu a importância de um líder, um guia e para chegar a essa conclusão não foram precisos exaustivos debates ou reflexões, mas tão somente a observação do mundo que nos cerca.
E isto por uma razão muito simples: Todos os animais irracionais possuem a figura de um líder, alguns, fruto de uma complexa e intrincada organização como as abelhas e formigas, outros, como resultado de uma disputa brutal, como os lobos.
Assim, a humanidade percebeu que para sobrevier precisava de um líder e, com o natural desenvolvimento da humanidade, essa necessidade de liderança perpassou a sobrevivência material para alcançar o desenvolvimento espiritual, formando-se sociedades, tribos, associações, impérios, reinos, democracias, etc.
Paralela à necessidade do líder, despontou a dificuldade em liderar, pois por mais sábio, bem-intencionado, abnegado e altruísta que fosse o guia, desafiador era o trabalho de orientação. Naturalmente, os líderes foram experimentando várias formas de governos, até uma mostrar-se tão útil e eficiente que até hoje é utilizada: o pão e circo.
Pois, estando satisfeito em suas necessidades básicas e divertindo-se, até mesmo de forma cruel com o sofrimento alheio, a grande maioria das pessoas passaria por esta vida tranquilamente e sem maiores reclamações.
Porém para os Maçons essa máxima não se aplica.
Logicamente, todos temos nossas necessidades materiais de nutrição, descanso e lazer, mas os Maçons sempre carregam consigo a premissa de que “homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem”. (Deuteronômio 8:3)
Isso respeitando uma das características basilares da Maçonaria que é o respeito à crença de cada um, porém o caráter simbólico e universal dessa passagem abarca todas as crenças no Grande Arquiteto do Universo.
Assim, o Maçom não se contenta com o alimento material, mas precisa buscar a Verdade, o alimento espiritual, saber o porquê das coisas e como ele pode atuar a fim de melhorar-se e o ambiente que o cerca. Além de buscar, o Maçom preocupa-se em repartir o pão, o quanto alcançado, não apenas com os Irmãos, mas com que necessite deste tanto materialmente quanto espiritualmente.
O Maçom tampouco se satisfaz com prazeres meramente mundanos e passageiros, o “circo” está presente na vida do Maçom como está presente na vida de qualquer profano, porém novamente o Maçom recorre ao Livro da Lei para sorver ensinamentos, notadamente em Eclesiastes 7:2: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração”.
Assim, o Maçom está em constante estado de estudo e contemplação, nunca exagerando nos prazeres fugazes, sabendo que tudo tem sua medida, sabendo ser a dose o que diferencia o remédio do veneno; Sabendo que o constante perguntar e o espírito questionador das tenras idades não deve ser apagado, mas, sempre cultivado para que a busca pela Verdade e o desenvolvimento individual e coletivo esteja cada vez mais próximo e palpável.
É sabido que o conhecimento transmitido sem maiores esforços não é devidamente valorizado e apreendido por quem os recebe desta maneira, não deve ser olvidado que a escada está presente em nosso Templo, pois a glória sem luta, o resultado sem esforço não existe no caminhar do desenvolvimento, não pode ser cultivado e não faz parte da trajetória do Maçom.
E isto não é descoberta nova, remonta à Grécia Antiga com Pitágoras e sua Escola de Krotona, perpassa por Jesus, cujos ensinamentos se davam por meio de parábolas e está presente nos famosos ditados populares, tão antigos e tão corretos, sem dispensar a interpretação.
Então está colocado o maior desafio de um Venerável Mestre, hercúleo tanto no trabalho como nas recompensas: Instruir, desenvolver, evoluir junto com obreiros de uma Loja e que tal evolução não seja baseada em respostas prontas e decoradas mas, sim, fruto do desenvolvimento, da pesquisa e do trabalho individual e coletivo, tendo por único mote o desenvolvimento pessoal e o espargimento deste a toda comunidade, pois somente podemos tornar feliz a humanidade tornando felizes a nós mesmo, ressaltando não ser esta a felicidade efêmera, material e passageira, mas a felicidade perene, imaculada e espiritual, própria de quem consegue enxergar além dos encargos e aborrecimentos diários e vislumbrar a doçura do trabalho dignificante e do convívio com os irmãos.
* DANILO BRUNO LOURO DE OLIVEIRA é Venerável Mestre da ARLS União e Justiça, Poções/BA – Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia, Cavaleiro de Malta no Rito York, Orador Estadual do Grande Conselho da Ordem DeMolay para o Estado da Bahia.