Cumprindo a proposta feita na última publicação, de que este colunista iria tratar de forma clara e objetiva da temática das mudanças ambientais globais, sua base científica, como surgiram e se agravaram, de que forma tais mudanças podem afetar nosso dia a dia e de que forma podemos reduzir nosso impacto no clima. Hoje irei desenvolver a segunda parte da nossa discussão semanal que tratará de como as mudanças que notamos atualmente se iniciaram e como elas se agravaram com o passar dos anos.
2 – Mudanças Ambientais Globais: surgimento e desenvolvimento
Para nós, que estamos no meio de uma crise de abastecimento hídrico, já é evidente que as mudanças no clima, em função do nosso impacto no ambiente natural, estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia. No entanto, uma pergunta pode surgir. – Quando estas mudanças começaram? Eis uma pergunta difícil de ser respondida, caso haja uma resposta.
Quando digo que é uma pergunta difícil de ser respondida, mesmo não existindo uma resposta clara para tal questionamento, é pelo simples fato de que a cada ano que se passa e a cada nova investida da comunidade científica, com o objetivo de entender estas mudanças, o que temos no fim são mais dúvidas que afirmações. Entretanto, a única certeza que temos é que as mudanças ambientais globais têm duas origens. A origem natural, que é resultado das variações naturais do clima, devido diversas questões astronômicas em que o nosso planeta está inserido e a origem humana, que é o resultado das nossas ações para com o nosso meio ambiente, que através dos desmatamentos e queimadas, má utilização das terras agricultáveis e poluição do ar, rios e oceanos, vem durante tantos anos destruindo os nossos recursos naturais.
A respeito desta origem humana é evidente, também, a nossa habilidade de mudar o ambiente ao nosso redor. Moldamos o ambiente ao nosso favor, seja para fins habitacionais e/ou comerciais, até mesmo por questões sanitárias, estéticas e/ou financeiras. Em relação ao nosso papel na origem destas mudanças, pode-se pensar que num primeiro momento nossos ancestrais eram reféns das inconstâncias da natureza, a sua produção estava restrita ao seu consumo, pois a força animal era a única alternativa para o desenvolvimento das suas atividades e eles não possuíam ferramentas e práticas eficazes para mudar de fato o meio ambiente. No entanto, revoluções foram acontecendo e a sociedade conseguiu exercer seu papel de domínio sobre os ambientes naturais. A revolução industrial, ocorrida em 1750, na Inglaterra e a primeira prospecção de petróleo, ocorrida em 1859, na Pensilvânia nos EUA, são dadas como determinantes para as mudanças ambientais globais atuais, pois a partir deste momento tornou-se necessário a busca de cada vez mais recursos para a população que cresceu de forma espantosa. Segundo a ONU, em 1850 a população mundial era de aproximadamente 1,3 bilhões de pessoas, cem anos depois em 1950 a população mundial era de aproximadamente 2,6 bilhões de pessoas e atualmente, sessenta e cinco anos depois, a população mundial está superior a 7 bilhões de pessoas. A projeção é que em 2050 a população mundial venha a atingir a impressionante marca de 10 bilhões de pessoas. Para alimentar a população mundial, altamente consumista e esfomeada, nós estamos utilizando os recursos naturais sem precedentes. Nossa economia está baseada na exploração destes recursos e a cada ano a capacidade de suporte do nosso planeta é atingida antes que o ano acabe. Esta capacidade de suporte refere-se basicamente a capacidade do nosso planeta em produzir alimentos, dentre outros recursos. Antigamente, quando a população mundial era menor, no fim do ano o planeta conseguia produzir alimentos que sustentasse a sua população. Entretanto, durante os anos que se passaram, e mesmo com o desenvolvimento de novas técnicas agrícolas, o planeta não conseguiu mais suprir a nossa necessidade e em 2014 os recursos já tinham sido esgotados entre os meses de agosto-setembro. O grande problema é a questão do deslocamento dos recursos para manter a produção. Por exemplo, para produzir 1 kg de alumínio necessitamos de 85 kg de outros materiais e para produzir 1 kg de carne bovina são necessários 15 mil litros d’água. Desta forma, existem outros componentes da natureza que são utilizados, mas que não fazem parte da conta final do nosso impacto sobre os recursos naturais.
Desta forma, o aumento da nossa necessidade de consumo trás consigo a necessidade, também, de aumentar cada vez mais a oferta de alimentos, energia, água e outros recursos para a crescente população. Como resultado disso, causamos desequilíbrios nas florestas, rios e oceanos e que, consequentemente, estamos mudando o clima do nosso planeta. Podemos observar de forma clara estas mudanças. A NASA (do Inglês, National Aeronautics and Space Administration), nos EUA, descreveu bem as atuais mudanças. Segundo a NASA, a temperatura média do nosso planeta aumentou quase um grau Celsius, 1°C. Já podemos observar o derretimento de quase 15% das geleiras do Ártico a cada década e que em 2020 elas não estarão mais presentes no verão do Hemisfério Norte. O nível dos oceanos está aumentando em aproximadamente 4 mm por ano. Cerca de 260 bilhões de toneladas de gelo estão sendo perdidos na superfície terrestre e uma área de 1,5 milhões de km² de floresta, que equivale a aproximadamente um terço da Amazônia Brasileira, está sendo perdida devido às nossas atividades.
A certeza que temos é que nunca utilizamos tanto os nossos recursos naturais e que as nossas atividades diárias ainda podem tornar tais recursos escassos ou, mesmo, inexistentes. Em 1850, 1950, 2015 o planeta em que vivemos é o mesmo, para 2050 não tenho certeza alguma onde estaremos. O importante é entender como nós estamos diariamente reduzindo os nossos recursos naturais e buscarmos formas de conter estas mudanças. No entanto, estes são os assuntos dos próximos domingos.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA