IldecirA.Lessa
Advogado
Está no ar, um jogo virtual, nos corações de adolescentes e jovens em que, o último desafio reside em tirar a própria vida. O desafio do jogo é eletrizante, como jogar numa caixa d´água de um prédio, escrever carta de despedida. Tudo é meticulosamente planejado. O jogo entrou no Brasil com toda força. Virou caso de polícia. Desespero de pais de adolescentes e jovens. Um estudo do chamado Mapa da Violência, com dados do Governo Federal desenvolvido pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), entre 1980 e 2014, aponta a taxade pessoas entre 15 e 29 anos que tiraram a própria vida aumentou 26%. Baleia Azul desenhada no braço é a identificação macabra. Em Minas Gerais, estão em curso, três inquéritos que foram instaurados para confirmar ou descartar se o Baleia Azul induziu adolescentes a tentar ou a cometer suicídio.
Relatos desse misterioso jogo ganhou repercussão no país no início deste mês, quando uma adolescente de 16 anos foi achada morta dentro de uma represa no pequeno município de Vila Rica (Mato Grosso). Ela deixou para trás cartas onde falava sobre as regras do desafio, uma lista de tarefas com cronogramas marcados, e cortes nos braços e nas pernas. Desde então, uma série de informações desencontradas começaram a circular sobre o desafio. As estatísticas no Brasil, a apontam que a taxa de morte autoprovocada entre jovens é maior do que na população em geral. Em números absolutos, 2.898 pessoas entre 15 e 29 anos tiraram a própria vida em 2014 (últimos dados disponíveis), além dos 146 que o fizeram antes de completar 15 anos.
As providências para estancar os casos, como a da Organização Mundial da Saúde (OMS) que preparou uma cartilha para que professores e educadores possam identificar comportamentos indicativos de risco de suicídio entre jovens e adolescentes. No documento, a OMS esclarece que ter pensamentos suicidas ocasionalmente não é algo anormal nesta idade, já que é parte do processo de desenvolvimento da fase, quando adolescentes lidam com questões existenciais e tentam descobrir o significado da morte. “Pensamentos suicidas se tornam anormais quando a realização deles parece ser a única solução dos problemas para as crianças e os adolescentes. Temos então um sério risco de tentativa de suicídio ou de suicídio”, explica o órgão.
As pesquisas também demonstram que quando há um caso de suicídio dentro de uma comunidade, como em uma escola, há mais chances de que novos casos aconteçam na sequência, pois o adolescente é mais sugestionável que o adulto. É o que se chama de “suicídio contagioso”, algo muitas vezes não tratado com a devida atenção. “As escolas muitas vezes empurram para baixo do tapete o caso. Mas o correto é chamar os estudantes e conversar. Fazer uma triagem nos que podem apresentar mais riscos e até chamar psicólogos para conversar”, diz Sheila Caetano, professora da Unifesp.
A OMS alerta que qualquer mudança súbita ou dramática que afete o desempenho, a capacidade de prestar atenção ou o comportamento de crianças e adolescentes deve ser levado seriamente. Como: falta de interesse nas atividades habituais; declínio geral nas notas; diminuição no esforço/interesse; má conduta na sala de aula; faltas não explicadas e/ou repetidas, ficar “matando aula”;• consumo excessivo de cigarros (tabaco) ou de bebida alcoólica, ou abuso de drogas (incluindo maconha); incidentes envolvendo a polícia e um estudante violento. Outro fator a considerar é de que, a baixa autoestima, os conflitos familiares, o fracasso escolar, as perdas afetivas são sintomas que, associados às condições de estresse emocional, podem colocar os jovens em grupo de risco para o suicídio, explicam estudos. E aqueles com menos amigos, mais isolados, também apresentam mais risco. É dentro desse quadro que, a preocupação com jogos como o Baleia Azul se torna ainda mais latente, já que os desafios apelam mais, justamente, a pessoas que costumam se enquadrar em fatores de risco para o suicídio.
Pesquisas esclarecem ainda que, “o suicídio vem de uma desesperança. A pessoa se vê sem opção, não acha uma saída para aquilo que está enfrentando e a morte se torna a única saída. É preciso ajudar o jovem a entender que a saída existe. Que sempre há uma solução.” “Muitas vezes os adolescentes e jovens ficam muito tempo na internet, e os pais não sabem o que eles andam vendo ou com quem andam falando. É preciso que a família, mantendo a privacidade do adolescente ou jovem, busque uma forma de contato com ele e abra um espaço de diálogo”, afirma uma psicóloga, que defendeu na Fiocruz uma tese de doutorado sobre suicídio. A atenção deve ser redobrada pela sociedade em geral, os pais, as escolas, para que adolescentes e jovens formem um caráter e uma estrutura psicológica sólida, deixando o jogo da morte contra a vida. A razão desse artigo é chamar a atenção para mais este perigo no meio dos adolescentes e jovens.