Conheci a ansiedade na praça do Santa Zita em Caratinga, enquanto fumava um baseado. Pode parecer meio rude, quando se imagina alguém em uma praça fumando um baseado, mas acreditem, é algo corriqueiro por aqui.
Eu tinha acabado de tomar uma garrafinha de 200 ml de Coca Cola.
Na época custava R$ 0,50 e era um ótima opção de larica junto com a paçoquinha de chocolate do finado Seu Zé.
Contudo, optei por tomar a citada bebida antes de ascender a vela. E esse momento foi o 1° ato do nosso encontro, onde posso descrever que passei pela ansiedade sem nem ao menos a perceber.
O 2° ato foi a repulsa. Senti uma sensação estranha de perseguição, seguido do popular ‘o que estou fazendo aqui?’, porém, calado, segui em frente para o meu consumo diário de entorpecente (que àquela altura já seria o 5º ou 6º do dia).
Ascendemos a trava, e logo o trago na primeira bola. Não estava tão bom como era habitual. Notei algo estranho no beck, mas tudo bem. Roda o baseado, e volta em mim para a 2° bola. Algo estava errado com aquela maconha, e eu não sabia o que era.
Em poucos segundos, meu coração disparou como nunca antes. Batimentos rápidos e fortes, eu sentia o meu corpo vibrando seguindo o seu ritmo. Pensei: “a onda bateu”. Tentei me acalmar, inclusive achando graça da situação.
Contudo, a 3° bola e o 3° ato do meu encontro com ansiedade se confundiram em uma tomada só. Eu já não controlava meu corpo, nem meu ritmo, nem minha vida. O coração batia e acelerava em um compasso que anunciava o fim do mundo.
Ataque cardíaco? É o fim.
Minha cabeça formigava de uma maneira que jamais senti. AVC? Estou morto.
Eu comecei a sentir o sangue de todos os animais mortos em minha boca. Notas de água de esgoto industrial ao fim.
Overdose, e agora?
Meu corpo estava paralisado… E eu não sabia o que estava acontecendo? E foi assim que a vi pela primeira vez.
Desconhecida, com traços fortes e beleza peculiar. Ela me dominava.
Eu demorei a entender que eu a conheci naquele dia, mas ela já sabia quem eu era há anos.
E só hoje eu posso perceber que não foi a maconha, não foi a Coca Cola, muito menos aquelas deliciosas paçoquinhas do Seu Zé. Simplesmente era eu caindo na armadilha do medo… de sentir medo, armadilha essa, colocada ali, em minha mente, desde meus primeiros passos de vida.
Minha relação com a ansiedade já não é a mesma de antes, já não nos vemos todos os dias. Não posso dizer que tenho saudades, sempre que ela aparece eu tento fingir que não à conheço, como neste momento, em que escrevo com ela me observando. Ela parece triste a brava. Eu também estou.
Paulo Bonfá
Produtor Cultural
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