Assuntos relacionados ao clima tem-se tornado cada vez mais frequentes no nosso cotidiano, mas a atual crise hídrica, devido a falta de chuvas, têm sido o assunto mais comentado dos últimos meses. Desta forma, para contribuir com as discussões diárias, foram unidas diversas informações sobre a temática. Os resultados são preocupantes e merecem toda a nossa atenção, para que medidas sejam tomadas e lições sejam aprendidas. Nós sempre fomos acostumados com a abundância de recursos hídricos, a água sempre esteve disponível e as chuvas eram frequentes. Sempre utilizamos os recursos naturais sem a consciência que eles podem um dia acabar. Agora é a hora de mudar. Devemos mudar para melhor, pois é em momentos de crises que devemos pensar sobre as nossas atitudes diárias e, também, quais deveres temos para que tais crises não voltem a nos atormentar no futuro.
A cidade de Caratinga e cidades vizinhas estão situadas numa região de clima tropical que é conhecida por ter períodos de seca e chuvas bem definidos durante o ano. A estação da seca ocorre no inverno, nos meses de junho, julho e agosto, com precipitação total observada para estes três meses de aproximadamente 44 mm, ou 44 litros de chuva por m², sendo o mês de junho considerado o mais seco. A estação chuvosa ocorre no verão, nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, com precipitação total observada para estes três meses de aproximadamente de 449 mm, ou 449 litros de chuva por m², sendo o mês de dezembro considerado o mais chuvoso*. Tais características citadas anteriormente referentes à análise climatológica disponível para a região e são as esperadas quando tratamos de chuvas. Entretanto, mudanças são observadas e algo considerado anormal, inesperado, está acontecendo. O ultimo mês de janeiro pode ser considerado como um dos mais secos da história de Caratinga. Desde que se iniciaram as atividades da estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) na cidade, em maio de 2007, foi observado que no mês de janeiro deste ano houve uma redução de 97,5% das chuvas, em comparação a média dos anos anteriores para este mês. Quando analisamos os meses de dezembro/14 e janeiro/15 em conjunto para, posteriormente, comparamos com os dados observados de anos anteriores, nota-se uma redução de 70% das chuvas para Caratinga e região*. Desta forma, se o mês de fevereiro seguir a tendência observada dos dois meses anteriores acredita-se que este verão poderá se configurar como o mais seco da história para Caratinga e região.
Frente à gravidade da atual crise da água que está instalada, quais medidas devem ser tomadas? O slogan da campanha da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) “Água, se não economizar vai faltar”, já descreve bem oque devemos fazer. Devemos ECONOMIZAR! Segundo o 19° Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos para o ano de 2013, disponibilizado pela Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, nós mineiros estamos na frente no quesito economia de água na região sudeste com um consumo médio por pessoa de aproximadamente 159 litros de água por dia. Entretanto, devido a atual crise da água ainda temos de economizar ainda mais. A COPASA sugere uma redução de 30%, que resultaria num consumo médio por pessoa de aproximadamente 110 litros de água por dia. Este valor é o mesmo do considerado ideal para o consumo humano pela Organização das Nações Unidas (ONU). Assim, após estas informações vamos sugerir algumas medidas consideradas simples que podemos tomar para cumprir a meta estabelecida.
Inicialmente para que esta economia faça parte do nosso cotidiano nós devemos mudar nossos hábitos, pois em pequenas atitudes, muitas vezes involuntárias, que os desperdícios acontecem no decorrer do dia. Pois bem, quantos de nós temos a preocupação de medir a quantidade de água que gastamos naquela ducha relaxante que tomamos após um dia cansativo de trabalho, quando escovamos os dentes com a torneira aberta ou, mesmo, quando não nos organizamos para fazer as tarefas de limpeza da casa? Então, quase ninguém. Dai podemos tirar mais algumas informações preocupantes, pois um banho de ducha aberta por 15 minutos ininterruptos consome aproximadamente 135 litros de água, já para o chuveiro elétrico os mesmos 15 minutos o consumo é de aproximadamente 45 litros de água. Tem-se, também, que ao escovar os dentes com a torneira aberta por 5 minutos ininterruptos consome aproximadamente 12 litros de água e que vasos sanitários antigos gastam aproximadamente 14 litros de água por descarga. Na cozinha o desperdício também tem de ser combatido, pois ao lavar a louça com a torneira aberta por 15 minutos ininterruptos são consumidos cerca de 120 litros de água. No bom e antigo tanque e na máquina de lavar as coisas não andam boas, pois em 15 minutos com a torneira aberta e em cada ciclo da máquina, com capacidade de lavar 8 kg de roupa, o gasto é de cerca de 220 litros de água**.
Agora em posse de todas estas informações, cabe a nós estabelecer metas, mudar os nossos hábitos e adotarmos medidas de redução do desperdício de água. Desta forma, vamos descrever algumas sugestões simples para atingir a meta pessoal de consumir, no máximo, 110 litros de água por dia.
Chuvas dos últimos dias:
Até que enfim a chuva veio, muito intensa em alguns lugares na nossa região e branda em outros. No entanto, o importante é que o sistema meteorológico que é responsável por ela, Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), estará atuante por mais alguns dias e as chuvas devem se estender até segunda ou terça-feira. Em relação às chuvas o importante é saber que o outono e aproxima e o inverno também. Desta forma, chuvas como vimos nesta ultima semana não irão acontecer com frequência nestes períodos. Sendo assim, devido a atual crise que vivemos nós temos a obrigação de tomar mais uma medida importante, que é buscar formas de armazenar, tratar e reaproveitar a agua da chuva para nossas atividades diárias. No entanto, uma pergunta pode surgir – Porque armazenar a água de chuva seria tão importante? A resposta é simples. Nestes seis dias de chuvas estima-se que a precipitação acumulada seja de aproximadamente 100 mm*, ou seja, 100 litros de água por m². Desta forma, se uma família tem uma residência com uma área construída de 100 m² e consiga armazenar cerca de 80% da água de chuva, ela terá aproximadamente 8,0 mil litros de água que, se devidamente tratada, pode ser utilizada em diversas atividades. Pode-se estimar que unindo a coleta de água da chuva com as medidas de economia e reaproveitamento citadas anteriormente a economia de água pode chegar a 80% em períodos de chuvas. Caso seja devidamente tratada esta água pode ser armazenada, também, para o período de estiagem.
Por fim, cabe a cada um decidir qual o melhor caminho a seguir. No entanto, a mudança é necessária e o momento é agora.
*Dados provenientes do INMET
**Fonte: Sabesp
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA