Caratinguenses inspiram outras mulheres com suas histórias de superação do câncer de mama
CARATINGA- O diagnóstico de um câncer de mama é um desafio. Para muitas mulheres, ele representa o início de uma longa batalha física e emocional. Mas, em meio ao medo, também floresce a coragem — e histórias como as de Nínive Sathler de Oliveira Rodrigues, caratinguense de 38 anos que hoje vive em Guimarães, Portugal, e Ângela Dias, de 47 anos, moradora de Caratinga, mostram que a fé e o amor podem transformar dor em aprendizado e luta em esperança.
Cada uma, à sua maneira, enfrentou o desafio de descobrir a doença, passar pela quimioterapia e reconstruir a vida. Nínive encontrou amparo no sistema público de saúde português e na fé que a acompanha desde o diagnóstico; Ângela, por sua vez, teve o apoio da família, dos amigos e do Núcleo do Câncer de Caratinga, tornando-se exemplo de força e otimismo.
Em entrevistas ao Diário de Caratinga, elas compartilham suas trajetórias, seus medos e conquistas — mensagens que ecoam muito além do Outubro Rosa, lembrando que autocuidado, fé e apoio fazem toda diferença no caminho da cura.
Caratinguense que se mudou para Portugal em busca de segurança e qualidade de vida, Nínive descobriu um câncer de mama dois anos após a mudança e encontrou na fé, no apoio do marido e na força interior o caminho para enfrentar o tratamento longe da terra natal.
Quando e por que decidiu morar em Portugal?
Decidimos vir para Portugal em 2022. A política no Brasil já estava caminhando para algo que não estávamos a gostar. Meu esposo não estava satisfeito em trabalhar com vendas, e em Portugal ele teria a chance de ganhar experiência na sua área, já que o país oferece a oportunidade de viver com o salário mínimo — algo que, no Brasil, não suportaria nossas despesas enquanto ele estivesse em estágio.
Temos um filho que, na altura, tinha 3 anos. Enfrentávamos problemas com violência e altos custos com educação. Mesmo com algumas dúvidas, oramos naquele ano pedindo a Deus que confirmasse nossos pensamentos de mudar. E tudo foi acontecendo de forma leve; entendemos que o Senhor estava no caminho, cuidando de cada detalhe.
Ao chegar em Portugal, tudo se abriu — moradia, trabalho, escola para nosso filho. Mesmo sem todos os documentos necessários, fomos muito bem recebidos. Como em qualquer país, há problemas, mas nada paga a segurança, a qualidade de vida e a tranquilidade que encontramos aqui.
Quando descobriu o câncer de mama e como recebeu essa notícia?
Acompanho-me desde os 33 anos, pois minha mãe, com a mesma idade, passou por todo esse processo — teve câncer de mama direita em estágio avançado, e foi um milagre de Deus. Eu nunca esqueci tudo que ela passou. A doença assustou toda a família; eu tinha 12 anos e meu irmão, 9. Esse período nunca saiu da minha cabeça, e, de certa forma, eu acreditava que chegaria minha vez, mesmo sem querer.
Ouvir meu diagnóstico não foi fácil, o primeiro pensamento é de morte, que vai cuidar do nosso filho. Mas decidi que não me entregaria. Continuei a trabalhar enquanto realizava todos os exames.
Em Portugal, fiquei dois anos sem fazer exames. Em dezembro de 2024, durante o banho, senti um caroço na mama esquerda. Mostrei ao meu esposo e pensamos que não seria nada, mas Deus não me abandonou. O Espírito Santo me incomodava constantemente, dizendo para eu fazer os exames. Mesmo assim, deixei passar janeiro e fevereiro.
Em março, após voltar de férias, uma amiga, Patrícia Almeida, me alertou: “Não pode deixar isso como está”. Ela me ajudou a conseguir um médico rapidamente para fazer a ecografia mamária, pois, mesmo pagando, a espera estava em torno de três meses. Graças a Deus, consegui o exame em 10 dias.
Detectaram um caroço de 4 cm e linfonodos na parte da axila. Com os resultados, no mesmo dia consegui um médico que já me direcionou para as biópsias e encaminhamentos. Fiz inúmeros exames e consultas.
Iniciei a quimioterapia em junho — foram definidas 16 sessões, sendo 4 vermelhas e 12 brancas.
O atendimento na oncologia sempre foi humano e rápido. Tudo é oferecido pelo sistema de saúde público, o SNS (Serviço Nacional de Saúde).
Que tipo de apoio tem recebido durante o tratamento?
Tenho apoio psicológico através da Liga Portuguesa Contra o Cancro, que também me ajuda com transporte e medicações. O hospital disponibiliza transporte aos utentes, mas como moro perto, prefiro ir conduzindo. A Câmara Municipal também me auxilia com um valor simbólico para a renda.
Que sintomas ou sinais a levaram a procurar o médico? Como foi o processo de diagnóstico em Portugal?
O principal sintoma foi o caroço que senti durante o banho, acompanhado de incômodo.
O processo de diagnóstico em Portugal foi rápido e eficiente — consegui realizar exames e iniciar o tratamento em pouco tempo, graças à ajuda de pessoas que Deus colocou no caminho.
Como está sendo a quimioterapia fisicamente e emocionalmente?
A quimioterapia assusta, mas com fé conseguimos vencer.
A primeira sessão foi desafiadora — passei muito mal, com vômitos e enjoo. Tive alterações no paladar e queda rápida de cabelo. Mas segurei na mão de Deus e pedi que Ele me guiasse. Um mês antes da quimioterapia, minha história foi escolhida em um projeto de CrossFit voltado à mudança e à luta contra a obesidade. Antes de enviar minha história, entreguei o projeto a Deus. Entre tantas histórias, a minha foi selecionada, e desde então tenho sido acompanhada com muito amor, carinho e humanidade.
Mesmo após os três meses propostos, eles continuam me acompanhando sem custos. O CrossFit mudou minha trajetória — onde me supero a cada dia. Mesmo após as sessões de quimioterapia, já estou conseguindo treinar, e isso tem me ajudado muito nos sintomas.
O tratamento em Portugal é oferecido pelo sistema público de saúde. Como funciona em comparação ao Brasil?
Sim, o tratamento é oferecido pelo governo, através do SNS Rapidamente me atribuíram um médico de família, que me acompanha no posto de saúde e no Hospital de Guimarães, a apenas 15 minutos da minha casa.
As medicações são gratuitas. Quando preciso de outros medicamentos, como antibióticos ou paracetamol, pago apenas uma pequena coparticipação — por exemplo, um antibiótico custa entre 2,66 € e 3,60 €, valores bem acessíveis.
Há associações ou instituições de apoio, como o Núcleo do Câncer em Caratinga?
Sim. Aqui temos a Liga Portuguesa Contra o Cancro, que oferece acompanhamento psicológico, auxílio para transporte, atendimento jurídico e outros tipos de suporte.
Sua família mora em Caratinga? Como tem sido esse contato e apoio?
O apoio da família e dos amigos tem sido fundamental.
Temos um grupo de oração e estamos sempre unidos por chamadas de vídeo. Nunca deixo de informá-los sobre tudo, principalmente para testemunhar e celebrar cada vitória conquistada.
O que aprendeu com essa experiência que gostaria de compartilhar com outras mulheres?
O processo é longo — ainda me faltam 4 das 16 sessões de quimioterapia —, mas já aprendi muito nessa caminhada. O mais importante é Deus ser o centro de todas as decisões.
Nunca se esconder, continuar a viver como se nada estivesse acontecendo. Cuidar da mente e do corpo com exercícios, por mais desafiador que seja. Amar-se, respeitar cada fase do processo — um cabelo não define quem somos. Nós, mulheres, somos mais fortes do que imaginamos. Temos uma força gigantesca que vem do Senhor. Se mantenha feliz, seja grata por cada resultado, se ame e permita ser amada.

Diagnosticada em 2023, Ângela enfrentou o câncer com coragem, fé e apoio da família. Mesmo em meio à quimioterapia, manteve o alto astral e hoje se tornou voz ativa no incentivo à prevenção e no apoio às pacientes do Núcleo
Como foi a descoberta do câncer?
Sou muito cuidadosa com a minha saúde — até meu marido brinca: “Nossa, gatinha, você fica procurando doença!”. Mas não é isso. Há muitos anos eu já sabia da existência de um nódulo e pedia para o médico retirar, mas ele dizia: “Ângela, não precisa, é benigno”. Eu insistia: “Doutor, vamos tirar, o que não pertence à gente tem que sair”. Mas acabei não buscando outras opiniões.
Em 2023, fazendo exames de rotina para uma cirurgia plástica, descobri o câncer durante a mamografia. E eu falo sempre: as pessoas têm que se cuidar, fazer exames de rotina, não apenas no Outubro Rosa, mas o ano todo. É importante procurar o ginecologista, fazer mamografia, ultrassom e se cuidar sempre.
O que passa pela cabeça ao receber um diagnóstico assim?
Não é fácil. É um baque muito grande. Você imagina… eu estava no auge da minha vida, sou mãe, tenho uma filha. E ainda estava abalada porque tinha perdido meu pai para o câncer. Então pensei: “Meu Deus, comigo?”. Mas decidi enfrentar, fazer o tratamento e entregar tudo a Deus. Desde o diagnóstico, disse: “Seja feita a Tua vontade, Senhor”. E venci.
Em nenhum momento fiquei de baixo astral. Meu caso era agressivo, então precisei fazer a quimioterapia antes da cirurgia, para reduzir o nódulo. Fiz o tratamento inteiro sem interrupções.
Muitas pessoas ainda acreditam que câncer de mama atinge apenas mulheres. Tinham homens fazendo tratamento com você?
Sim, tinham homens também. E é algo que quero destacar: homens também podem ter câncer de mama. Eles não fazem mamografia, mas podem fazer ultrassom. É preciso se cuidar.
Como foi o processo da quimioterapia e do tratamento?
Encarei de boa. O mais difícil é lidar com a sociedade, que ainda discrimina. Câncer não é sentença de morte — é uma doença que tem tratamento. Descoberto cedo, tem até 95% de chance de cura.
É preciso ter uma cabeça boa. Cada pessoa reage de um jeito, mas eu não deixei a doença me dominar. Tive muito apoio da minha família, principalmente do meu marido. Antes mesmo de eu acordar, ele já estava pronto para ir comigo ao tratamento, me servia água, levava picolé… Esse apoio é essencial.
Também recebi muito carinho da equipe do Grupo Barbosa, onde eu trabalhava como gerente. Fui acolhida com amor. No dia seguinte às quimios, eu estava na rua — a médica dizia para eu ficar em casa, mas eu respondia: “Se me segurar, eu fico doente. Deixa eu sair!”. Colocava uma máscara e ia viver.
Quantas sessões você fez?
Foram 16 sessões.
E quando chegou a última. Como foi?
Menina, se eu te falar que sinto saudade de lá? É verdade! Vou de três em três meses e sinto falta. Não foi um lugar de tortura para mim. Fui muito bem acolhida — minha oncologista é um amor. E no Núcleo do Câncer de Caratinga, onde já acompanhava meu pai há anos, encontrei uma verdadeira casa.
Durante o tratamento, você usou a touca de resfriamento para evitar a queda de cabelo. Como foi essa experiência?
Sim, há muitos anos existe essa touca que congela o cabelo. Eu já tinha cortado o cabelo curto quando cheguei lá, e minha oncologista perguntou: “Por que cortou? Temos a touca para congelar o cabelo!”.
Meu marido me incentivou e eu decidi tentar. Aguentei até o fim! Quem tiver oportunidade, eu recomendo. O cabelo é importante para a autoestima da mulher. A touca congela literalmente — o cabelo fica duro como gelo, e você só pode pentear depois que descongelar. É um procedimento pouco conhecido, mas que ajuda muito.
E hoje, em que fase está seu tratamento?
Atualmente, faço acompanhamento a cada três meses. Tomo quimioterapia oral e, de três em três meses, recebo uma aplicação subcutânea, que é um bloqueio hormonal. Faço todos os exames e qualquer sinal diferente é investigado.
Qual a maior lição que tira dessa experiência?
O câncer me deixou mais forte. Hoje sou uma mulher mais esclarecida, de fé e mais grata.
Quero ajudar outras pessoas, porque nem todo mundo tem acesso às mesmas informações que eu tive. Pedi à minha oncologista que nunca escondesse nada de mim — e enfrentei tudo de cabeça erguida.
Sou muito grata à rede de apoio que temos em Caratinga. O Núcleo do Câncer oferece nutricionista, psicóloga, suplementos e apoio emocional. É uma estrutura fundamental, porque durante o tratamento muita gente depende do INSS, e sabemos que não é fácil.
Lembro que, logo após o diagnóstico, fui ao Núcleo e levei lenços e perucas, toda empoderada, pronta para enfrentar a fase com alegria. E saí de lá grata, sentindo que queria inspirar outras mulheres.
Que possamos viver o Outubro Rosa todos os dias — não apenas no mês de outubro, mas o ano inteiro. Que o autocuidado seja um hábito, e que cada mulher aprenda a se tocar, se conhecer e se amar.









