O doutor em Psicologia Marco Antonio responde essa questão. “É importante que o uso das redes sociais seja feito de maneira saudável, ou seja, estabelecendo limites”, orienta
CARATINGA – A internet e as redes sociais fazem parte do cotidiano dos habitantes do Brasil. Não há como fugir. ‘Navegar’ na internet já se tornou rotina. Mas tudo tem seus prós e seus contras. O uso desmedido e o acesso a determinados conteúdos podem trazer sérias consequências. Mas o uso correto traz conhecimento e amplia horizontes. Como se trata de uma questão complexa, Marco Antonio Gomes, doutor em Psicologia, docente e pesquisador/UNEC, faz suas orientações. Segundo ele, “é importante que o uso das redes sociais seja feito de maneira saudável, ou seja, estabelecendo limites”.
Analisando os dados de 2022, afinal o relatório deste ano ainda não foi publicado, conforme estudo do “Digital in 2022: Brazil” da Hootsuite e We Are Social, os brasileiros passaram em média mais de 10h por dia na internet, sendo 3 horas e 41 minutos nas redes sociais. Além disso, levantamento da Comscore, também de 2022, mostrou que o Brasil é o 3º país que mais consome redes sociais no mundo. Até então, eram 131.506 milhões de contas ativas. Destas, 127,4 milhões eram usuários únicos nas redes sociais (96,9%).
E em um Brasil polarizado, as redes sociais se tornaram ‘campos de guerra’. A presença em um ambiente virtual que é constantemente agressivo ou tóxico pode desencadear transtornos como ansiedade, depressão, dependência digital, baixo autoestima e transtorno do sono. “Portanto, para utilizar a internet de uma maneira saudável, acredito que é sempre importante fazer uma autoanálise do seu uso e de que maneira ele impacta a forma como o sujeito se relaciona com o mundo”, analisa doutor Marco Antonio.
Afinal, as redes sociais influenciam mesmo a saúde mental? Quais os perigos do uso em excesso?
O avanço da tecnologia tem proporcionado novas realidades, novas formas de ser e se comportar, além de influenciar as práticas de consumo. A nova era digital tem se expandido e se tornando cada vez mais indispensável, presente no cotidiano dos usuários como ferramenta primordial nos afazeres domésticos, de trabalho e nas relações sociais.
Contudo, apesar dos benefícios, esse avanço tecnológico, impacta a vida dos usuários. Assim, é importante observar que o uso compulsivo dessa ferramenta ocasiona mudanças em toda a sociedade, fazendo com que seja necessária uma análise dos efeitos para identificar quais fatores contribuem para essas alterações, preferencialmente os danos de caráter psicológicos e comportamentais.
As pessoas, independentemente da idade, tendem a criar ‘um mundo perfeito’ nas redes sociais? Ou seria a ‘realidade ficcional’?
O caráter remoto da internet e das redes sociais, sem dúvida, colabora para uma maior maleabilidade da realidade aparente, isto é, as pessoas são capazes de mostrar apenas aquilo que julgam ter algum valor social, construindo uma personalidade idealizada que pouco reflete sua dinâmica subjetiva. Portanto, essa fuga para um mundo fantasioso pode ser lida como uma válvula de escape da realidade, que muitas vezes se apresenta de uma maneira desagradável.
Há uma técnica que nos permite autodiagnosticar nosso grau de dependência das redes sociais?
Num mundo cada vez mais influenciado pela tecnologia, crescem as dúvidas sobre o papel que as novas tecnologias passam a ter nas nossas vidas e sobre as possíveis consequências negativas que podem acarretar. Considera-se dependência de tecnologia quando o indivíduo não consegue controlar o uso da tecnologia, principalmente quando esse uso está tendo impacto negativo nas principais áreas da vida (relacionamentos interpessoais, desempenho nos estudos/trabalho, saúde física, etc.). Os subtipos de dependência de tecnologia de maior relevância na prática clínica são: dependência de jogos eletrônicos, de redes sociais e de smartphones. Na maioria dos casos de dependência de tecnologia é possível identificar a presença de comorbidades psiquiátricas. Além de uma avaliação completa e centrada no diagnóstico, uma escuta atenta para as especificidades dos jogos e das redes sociais utilizadas pelos usuários, assim como para as motivações para o seu uso, pode também fornecer informações relevantes para o diagnóstico
Com usar as redes sociais sem que elas tenham impactos nocivos à nossa saúde mental?
É importante que o uso das redes sociais seja utilizado de maneira saudável, ou seja, estabelecendo limites. Preferencialmente buscando conteúdos considerados positivos, que acrescentem fatores favoráveis a vida em grupo, social ou mesmo nos aspectos individuais. Evitar comparações ruins, controlar o tempo gasto on-line e equilibrar com atividades fora da internet, desenvolver habilidades emocionais e buscar apoio profissional caso sinta que as redes sociais estejam afetando negativamente sua saúde mental.
Como identificar a quem sigo nas redes sociais não está me fazendo bem?
A primeira coisa importante é responder o que você busca ou procura realmente nas redes sociais. Essa é uma questão fundamental, e te ajuda a identificar qual o retorno que o outro tem para te oferecer. Assim como na vida real, são muitas as possibilidades de encontra pessoas que podem fazer o bem ou o contrário. Acredito que não há coisas ou pessoas diferentes nas redes sociais das quais você encontraria por perto, na família, no trabalho, nos grupos sociais. Enfim, o que você busca ou deseja é que te dirá o tanto ou a maneira que outra pessoa irá corresponder a suas expectativas, ao que você deseja encontrar.
Pelo outro lado, quais benefícios o senhor aponta nas redes sociais?
As redes sociais, podem ser utilizadas de várias formas benéficas, quando tais atividades facilitam e ajudam na vida de pessoas e instituições. Nesse sentido pode ser um espaço para se criar novos tipos de negócios, novos empregos, novas formas de comunicação. As redes sociais são ferramentas de comunicação, onde se compartilha informações, e as notícias, os acontecimentos do mundo podem ser acompanhados e divulgados em tempo real. Podemos também encontrar pessoas, grupos e assuntos que nos interessam, podemos fazer amigos ou reencontrar pessoas que fizeram parte de nossas vidas em algum momento. Podemos estabelecer ligações profissionais, divulgar nosso trabalho, mostrar nossas habilidades, vender produtos. Enfim, também são canais de entretenimento, podemos ler artigos e postagens que nos interessam, ver vídeos, fotos etc.
Agora temos a nomofobia, que é o uso excessivo de celular. Como identifica-la?
Acredito que a principal questão a ser levada em conta é o grau de dependência que o sujeito estabelece com o dispositivo. Se tal dependência se apresenta de maneira muita intrusiva, pode se ter uma diminuição nos relacionamentos interpessoais, além de sintomas como ansiedade, tristeza, estresse e insônia.
Exista uma situação que muitos pais enfrentam quando se propõem a manter seus filhos mais novos longe da tecnologia, mas não podem impedir que todos ao seu redor a utilizem. No fim das contas, muitos acabam cedendo porque não querem que seus filhos se sintam excluídos?
Quanto a esse tema, sobre os pais e o controle das redes sociais em relação aos filhos, penso que tudo começa com o próprio exemplo dos pais e a forma como também utilizam esse mecanismo. O melhor “controle” eu acredito que é o exemplo, a maneira que esses pais utilizam as redes sociais. Se for assim, não há necessidade de “controle”, é uma questão de aprendizagem, de significado. O que é significativo para os pais, provavelmente será para os filhos.
Fala-se muito que a tecnologia está avançando a uma velocidade que nem sequer entendemos, não só a gente, mas tampouco as próprias instituições. Como podemos nos proteger de algo que nem sequer entendemos totalmente?
O avanço da tecnologia é uma realidade mundial, porém, ainda somos capazes de fazer escolhas, de optar por aquilo que damos conta ou que acreditamos que podemos dominar. Hoje a inteligência artificial tem sido questionada até mesmo por pesquisadores e grandes empresas que desenvolvem tal tecnologia. É importante estarmos sempre atento ao que está acontecendo no mundo da tecnologia, para fazermos as escolhas corretas para nosso próprio bem. E acreditar que a inteligência artificial precisar ser um meio de contribuir e ajudar na vida e no desenvolvimento humano, mas sempre com a certeza de que nada poderá substituir na condição humana, nosso bem-estar social.
Existe uma medida certa para usar redes sociais ou celulares? Como podemos usar a tecnologia com sabedoria?
Não existe uma formula mágica, penso que a medida certa é aquela que não prejudica o sujeito em sua totalidade, isto é, não provoca a dependência. Portanto, para utilizar a internet de uma maneira saudável, acredito que é sempre importante fazer uma autoanálise do seu uso e de que maneira ele impacta a forma como o sujeito se relaciona com o mundo.


