Quando estou a escrever esta crônica, ainda não sei os resultados das eleições presidenciais que se estão a realizar neste preciso momento. Nestes últimos tempos tenho me apercebido da paixão que está a gerar em alguns dos meus amigos estas eleições; uns a favor da continuação, outros a favor da mudança. Não tenho pretensões a comentador político, mas estes últimos quatro debates, na minha humilde opinião, foram vazios de ideias e se fosse eu que tivesse de votar, estaria algo preocupado, pois as ideias de ambos os candidatos não conseguiram chegar. Sei que muitos de vocês estarão a dizer “coitado é português!”, mas realmente as ideias de como irão governar não conseguiram ser assimiladas por este vosso amigo portuga.
Já sabe nesta altura quem ganhou e quem tenha sido, que governe o melhor possível este Maravilhoso País e que o coloque no lugar em que merece e, sobretudo, aproveite a alegria e a vontade deste povo.
O último paulista presidente do Brasil*
Rodrigues Alves
Foi eleito presidente da República em 1º de março de 1902, obtendo 592.039 votos contra 42.542 de seu principal competidor Quintino Bocaiúva. Seu governo foi destacado pela campanha de vacina obrigatória (que ocasionou a Revolta da Vacina), promovida pelo médico sanitarista e ministro da Saúde Osvaldo Cruz. A reforma urbana da cidade do Rio de Janeiro, aconteceu também durante o seu governo e foi realizada sob os planos do prefeito do Rio de Janeiro Pereira Passos, que incluiu, além do remodelamento da cidade, a melhoria de estradas de ferro e a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Foi durante o seu governo que ocorreu a chamada ‘Revolta da Escola Militar’. Uma das decisões mais complicadas que o seu governo teve de tomar foi quando os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo se reuniram e negociaram com o governo federal a compra de todo o estoque de café a fim de evitar a queda do preço do produto. Nesta reunião, que ficou conhecida por ‘Convênio de Taubaté’, também ficou decretado um imposto de exportação de três francos por cada saca.
O ‘ciclo da borracha’ como ficou chamado deu ao governo de Rodrigues Alves uma grande lufada financeira deixando uma situação econômica e financeira ao Brasil muito positiva.
O Brasil detinha 97% da produção mundial da borracha e são famosas as histórias dos barões da borracha dos quais se dizia acenderem charutos com dinheiro em cédulas.
Foi durante o seu governo que o Brasil comprou da Bolívia a região do Acre, conhecida esta operação pelo nome de Tratado de Petrópolis. Esta difícil negociação foi conduzida pelo brilhante diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior.
Antes de ter sido presidente, Rodrigues Alves governou São Paulo entre 1887 e 1888. Foi conselheiro do Império, título que usou até o fim da vida, sempre chamado de “Conselheiro Rodrigues Alves”, e pela alcunha de Chiquinho de Paula. Seu filho, Oscar Rodrigues Alves e seu irmão Virgílio Rodrigues Alves, também se destacaram na política paulista.
Com o advento da República filia-se ao Partido Republicano Paulista (PRP) ao qual permaneceria afiliado até o fim da vida. Em 1890 foi eleito deputado para a Assembleia Constituinte e em 1891 foi nomeado ministro da Fazenda do governo de Floriano Peixoto. Em 1893 foi eleito senador por seu estado, renunciando em1894 para ocupar novamente a pasta da Fazenda no governo Prudente de Morais. Rodrigues Alves foi o negociador da consolidação dos empréstimos externos com os banqueiros ingleses da Família Rothschild.
Rodrigues Alves foi presidente do estado de São Paulo em 1900, antes de assumir a presidência da República em 1901, época na qual inaugurou a primeira usina hidrelétrica da São Paulo Light, a Usina de Santana de Parnaíba, conhecida como Barragem Edgard de Souza.
Neste seu segundo governo em São Paulo, em 1901, explodiu uma revolta em Paranaíba, no Sul do Mato Grosso do Sul, que ameaçou o oeste de São Paulo levando Rodrigues Alves a enviar tropas estaduais para a região, e houve neste governo grandes surtos de febre amarela e outras doenças fatais.
Em 1912, foi novamente eleito presidente do estado de São Paulo, ficando vários meses afastado por motivo de doença, e, em 1916, encerrado o mandato de presidente de São Paulo, voltou a ocupar uma cadeira no Senado Federal. Dado o prestígio de Rodrigues Alves em todo o Brasil, o presidente Hermes da Fonseca não se arriscou a declarar a intervenção federal em São Paulo, como fizera com os outros estados que não apoiaram sua candidatura em 1910, na sua Política das Salvações.
Foi durante este governo que iniciou a restauração da Rodovia Caminho do Mar, chamada de Estrada do Vergueiro, construiu a Ponte no Rio Tietê em Barra Bonita, que existe até hoje.
Em 1912, reorganizou o Gabinete de Investigações e Capturas criado em 1910, o que modernizou e reequipou a Polícia Civil de São Paulo.
Também em 1912, a lei 1357, implantou a Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, atual Faculdade de Medicina da USP, sendo que as primeiras aulas foram dadas já em 1913.
Foi eleito para o segundo mandato como presidente em 1º de março de 1918 com quase a totalidade dos votos: 386.467 votos contra 1.258 votos obtidos por Nilo Peçanha.
O “Grande Presidente”, como ficou conhecido, era filho do português Domingos Rodrigues Alves e de Isabel Perpétua Marins. Ele estudou no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. O pai chegou ao Brasil em 1832, fixando-se em Guaratinguetá; abandonou a vida de comércio e se dedicou à lavoura, tornando-se plantador de café. Contratou casamento com a filha de Antônio de Paula e Silva, de antiga família local, Isabel; a outra filha de Paula e Silva, Guilhermina, se casou com o filho do Visconde de Guaratinguetá, José Martiniano de Oliveira Borges. Viviam no Largo do Rosário, hoje Praça Conselheiro Rodrigues Alves, e tiveram 13 filhos. Domingos Rodrigues Alves morreu aos 94 anos.
Depois de estudos, passou para o Colégio Pedro II, e foi neste mesmo colégio que estudou sete anos em regime de internato. Era colega de Joaquim Nabuco, que dizia nunca ter tirado o primeiro lugar por culpa de Rodrigues Alves! Bacharelou-se em letras e diplomou-se na tradicional Academia do Largo de São Francisco (Academia de Direito de São Paulo, hoje USP), na turma de 1870. A ela, em determinado período, pertenceram também Rui Barbosa, Aureliano Coutinho, Castro Alves e Afonso Pena. Também pertenceu a essa privilegiada turma o paranaense Brasílio Itiberê da Cunha, autor da modinha ‘A Sertaneja’, a primeira manifestação nacionalista na música brasileira. Itiberê foi destacado diplomata, honrando seu grupo acadêmico. Segundo Afonso Arinos, foi a turma mais gloriosa que jamais cursou qualquer faculdade de direito brasileira.
Em 1875 casou-se com Ana Guilhermina de Oliveira Borges, neta de Francisco de Assis e Oliveira Borges, Visconde de Guaratinguetá, cuja propriedade principal era a Fazenda das Três Barras.
O visconde era de humilde extração, diz Afonso Arinos. Filho de pais pouco abonados, a fortuna veio a princípio da primeira esposa. No decorrer da sua existência, pelas suas qualidades pessoais e pelo seu amor ao trabalho, transformou-se em verdadeiro potentado. Falecido em 1879, sendo Rodrigues Alves advogado da viúva e inventariante, verificou-se que devia ser um dos homens mais ricos do Brasil no Segundo Reinado. O monte-mor partilhável foi a mais de mil contos, fortuna gigantesca, pois correspondia a meio por cento de toda a circulação monetária do país.
A carreira política de Rodrigues Alves começou apoiada em dois importantes e sólidos pilares: primeiro, a influência que lhe passou o poderoso visconde, chefe conservador da província, escolhido justamente por representar na época a região que, em razão da enorme produção cafeeira, era a mais rica de São Paulo. Segundo o fato de pertencer à Burschenschaft ou Bucha como chamavam os estudantes, misteriosa sociedade secreta que existiu por muitos anos no Largo de São Francisco. De seus quadros saíram um sem número de estadistas com fortíssima influência na política brasileira do final do Império e na República Velha.
Foi juiz de paz, promotor e vereador em Guaratinguetá, deputado provincial e geral pelo Partido Conservador. Empresário de sucesso do ramo do café, tornou-se a terceira maior fortuna do país; a fazenda onde morava tinha 400 cômodos e as refeições eram servidas em talheres de vermeil.
O seu segundo mandato acabou por ficar marcado por ter contraio a gripe espanhola e não tomou posse na presidência da República em 15 de novembro de 1918. O vice-presidente eleito Delfim Moreira assumiu interinamente a presidência no dia 15 de novembro de 1918. Em virtude do falecimento de Rodrigues Alves, ocorrido em janeiro de 1919, Delfim Moreira assumiu, em definitivo a presidência. De sua posse em 15 de novembro até o falecimento de Rodrigues Alves, Delfim Moreira sempre o visitava para pedir sua orientação e conselhos.
*Sabemos que Ranieri Mazzilli, Ulisses Guimarães e Michel Temer foram presidentes e paulistas, mas também sabemos que foi por um período de dias, daí eu ter titulado o ‘Último presidente paulista’