Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Ciências Sociais
Pesquisadora CNPQ
Recomeçarei a minha coluna deste ano de 2016 refletindo sobre Ética, pois o pensamento ético busca julgar o comportamento do homem, questionando o certo e o errado, o justo e o injusto. Buscar o pensamento ético se traduz em fazer bem as escolhas para que possamos trilhar o caminho da verdade, as relações serem mais justas, portanto deixar as virtudes sobrepor as maldades.
No mundo todo existem milhões de pessoas pobres, com fome e humilhadas, que resistem dia após dia, tirando forças não sei de onde para que possam sobreviver. Vemos o mundo dividido entre o desenvolvimento tecnológico e as pessoas excluídas, populações inteiras em fuga, gerações nascidas em campo de refugiado, intolerância religiosa, etc.
Dizem que eu posso pensar livremente, pois estou em uma sociedade democrática? Mas o que adianta eu pensar livremente? Quando escrevi isto me remeti ao filósofo, psicanalista, que faz uma inovadora crítica cultural e política da pós-modernidade explicando que “a realidade existe para que possamos especular sobre ela “e ainda pensar livremente não me legitima a fazer nada”, pois o máximo que posso fazer quando o meu uso público da razão me leva a ver as fraquezas e as injustiças da ordem existente é um apelo ao governante para que sejam feitas reformas”.
Nesse sentido a população é mantida sob o rígido controle, onde essa repressão cai sobre quem é mais fraco, despossuídos que precisam ter obediência para não se rebelarem contra a desigualdade. Em outro olhar os direitos são reconhecidos em detrimentos de outros que nada possuem, por exemplo, o acesso a terra e os direitos sociais mais elementares nas democracias contemporâneas, onde é notório que o sistema de exclusão e exploração se desenvolve não apenas pelo uso da forma, mas principalmente pela imposição das ideais.
Você pode me questionar, onde é que eu quero chegar com todo esse blá-blá-blá.
Eu quero demonstrar que o momento em que estamos vivendo não difere do passado, pois ainda impera a dominação dos fortes, que são a minoria, sobre os mais fracos, que são a maioria.
Vejamos o caso de Mariana em Minas Gerais, que após a “calamidade” ocorrida na data 05 de novembro de 2015, onde a população sobrevive no meio dos graves impasses sociais e econômicos. A esse respeito se manifesta a acumulação excessiva da riqueza por parte da empresa Samarco, gerando o desequilíbrio, representando uma constante ameaça para “Todos”. Tenho uma visão cética sobre a defesa apresentada pelas empresas envolvidas e é necessário se fazer uma análise circunstancial do que possa ter promovido e conduzido à politização da justiça e assim verificar se as autoridades estão efetivamente buscando um diálogo com a população sofrida de Mariana. Destaco que há simplesmente problemas concretos a resolver, como a violência do poder em relação à população, o processo de exploração que está inserida a cidade de Mariana.
Sei que existem pessoas humanitárias e bem intencionadas, mas essas ações são meramente individuais e o individual não substitui o social. O caos chegou a Mariana por irresponsabilidade dos poderes concedentes com as empresas Samarco e a Vale.
Onde estamos? Em que mundo vivemos? Onde a mídia a todo o momento demonstra a população de Mariana, que faz de tudo para se manter com alguma dignidade e que ainda acalenta o sonho de uma vida melhor?
É necessário observar o comportamento dos homens que estão no comando de todos nós e cujo único propósito é se fortalecerem e concentrarem riquezas em suas mãos em detrimento de milhões de pessoas exploradas e marginalizadas.
Esse ano é definido pela Igreja Católica como o Ano da Misericórdia. Deixemos as nossas avarezas e tenhamos ética em nossas atitudes no sentido de caminharmos para uma sociedade em que se possa dizer que é realmente uma sociedade democrática.
Feliz 2016!