“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos” Fernando Pessoa
*João B. A dos Reis
Contando aqui em prosa um causo. Muito cedo me deparei com o lado oposto do fogo, o gelo – a ordem. O lado escuro da Lua, a luz, o caminho que sistematicamente forja a consciência, as palavras e as boas prosas. Muito além do que se possa contextualizar ou corporificar, visualizando o cosmos constituinte de passado (histórico), presente (ontológico) essência momentânea do futuro (ideológico) pelas projeções da luz no espaço-tempo. Onde a unicidade das estruturas espaciais definida por Albert Einstein, em 1905, alude à velocidade da luz uma relação imutável, ou seja, a referência das referências. Ela nos alerta para o fato de que em um determinado momento presente, o espectro da luz, pode ser visível apesar de não corresponder a uma verdade absoluta, pois ele pode ter se extinguido e coexistir apenas no invisível ou, se transformado, diversificado. Continuamos a vê-lo, como se estivesse presente, apesar de ele já ser passado ou futuro em outra referência de posição.
Trata-se de uma consciência causal, ressurgindo através de modelos, que se afervoram ou se encorajam do provável ideológico repleto de acaso ou de improvável. Apercebem-se, inclusive, de que os sistemas mentais e imaginários podem ser reminiscentes das sombras da caverna do demiurgo, o artífice – mito e prosa -, adros e mercados, praça (simbolicamente eleita) para relatar no parlatório a construção das singularidades primevas. Refiro-me à cosmologia do filósofo grego Platão (428-348 a.C.) na obra “Timeu” em que o artesão divino ordena, através de um princípio organizador, a criação da realidade e do cosmos, de uma matéria caótica através de um modelo eterno e perfeito. É quando se vê o passado e o presente independentes da nossa forma de querer ver, escutar, observar ou, ingenuamente, nos consternar pelas ideologias impostas. Implica também o fato de que, em vários momentos da história da Humanidade, um instante de tempo antes ou depois, poderia ter mudado tudo que conhecemos hoje e vice-versa.
Ainda assim, é bom prosear e conhecer essa temporalidade, através da espacialidade de uma prosa, indo além dos opostos para melhor explicitar a tese dos sistemas invariantes e isomorfos completos (complexos) pela hierarquia de um cosmos mensurável e observável pela ordem reestruturada da desordem, em beleza e harmonia seja pela visão do ceticismo científico relativo da física ou pelo ceticismo absoluto filosófico das conjecturas imateriais e peculiares à metafísica, na busca pelo “Arché“, ou seja, a “origem” ou “início”, à continuidade abrangente cosmológica.
Retornando aos sistemas invariantes, no texto Cybernetics & Human Knowing de Lawrence S. Bale (vol. 3, no. 1, 1995), reporta-se a Gregory Bateson sobre o tema da questão dos sistemas complexos, parte de uma metaciência epistêmica, que também compõe uma boa prosa contemporânea. Bale comunga no contexto geral que o austríaco Ludwig von Bertalanffy e Bateson tenham sido os introdutores dos padrões de simetrias das organizações relacionais dinâmicas e dos teores evidenciados de que em todos os sistemas vivos há uma mente organizadora maior (complexidade, ambientes cibernéticos e causalidade cíclica). Vide também, sobre os impactos dos diálogos de Bertalanffy e Boulding sobre a Teoria Geral dos Sistemas (TGS) nas Ciências Sociais em Amaral (2012).
Ainda em Bale (1995), identifica-se em Bertalanffy, o Flieβ – Gleichgewicht (Equilíbrio do fluxo [da energia da informação] ou curso estável), exemplificado nas inter-relações das funções que envolvem links interdependentes, referentes às interações dinâmicas das diversas variáveis relativas aos modelos de feedback cíclico, controle e auto regulação, fundamentos da teoria dos sistemas da informação. Ficam aí, nesses casos, configuradas e “enlatadas” as discussões intrínsecas aos embates sobre as questões do filosófico e dos paradigmas de Bateson, relativos às teorias agregadas às ideias do sensório, recursivas do processo dos sistemas causais dinâmicos. A morfogênese incorporada, ou melhor, o desenvolvimento da forma, a partir dos embriões dos sistemas vivos, quase que se equilibra no processo entrópico (desordem termodinâmica ou entropia), aparentemente, desafiam as leis físicas da natureza. Como resposta à reação a um estímulo ou efeito retroativo (feedback cíclico), grosso modo, uma resposta crítica. Mais uma vez a natureza comporta-se diferentemente do nosso senso comum, em prosa e verso. Erwin Laszlo (1973) reporta na obra Introduction to Systems Philosophy, referindo-se à estabilidade cibernética (mecanismo de controle e auto regulação) uma metaciência.
Repete-se, novamente, é bom prosear uma boa prosa. Nesse caso, suscita-se a liberdade poética, a inovação criativa, o compartilhamento da alegria versus tristeza, enfim, a liberdade de expressão humana, cibernética, semiótica, democrática, ditatorial e permanente. Atualmente, perigosamente, permeiam as mídias, Smartphones, sistemas de informação do tipo Skype e WhatsApp. Aí, ela é ardente, picante, semente, imaginativa etc. É oposição do ato, opõem-se às vezes ao fato, é moral, amoral, mortal e imortal. Mas, há quem diga ser tudo isso muito anormal. Patologia crônica inerente a uma incursão que é compartilhada pela diversidade dos repertórios, figurativamente, não eruditos. Não deixa de ser temerária a negação à sistematização desses grupos reivindicando contrariamente aos mecanismos de controle e auto regulação existentes e a eles submetidos.
* João B. A. dos Reis – Doutor e Mestre em História da Ciência – PUC/SP. Pesquisador em Filosofia, Epistemologia e História da Ciência. Físico, Especialista em Meio Ambiente e Gerenciamento de Recursos Naturais FAFIC/UFMG. Pesquisador e Professor do Ensino Superior – UNEC/Caratinga-MG
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