A luta contra as mudanças no clima acaba de receber um importante aliado, o Papa Francisco. O acontecimento histórico ocorreu no ultimo dia 18 de junho no Vaticano através da carta encíclica “Laudato Si” (Louvado Seja). O Papa Francisco vem tendo um papel muito importante na solução de conflitos, o mais recente com a aproximação entre os EUA e Cuba e agora a respeito das mudanças no clima, quando ele coloca o cuidado com o meio ambiente como um imperativo moral não apenas para os católicos, mas para toda a humanidade.
“O papa Francisco demonstrou uma coragem que tem faltado aos líderes mundiais ao delinear claramente as causas do problema da mudança climática, que passam pelos padrões insustentáveis de produção e consumo, e ao apontar suas soluções, que passam pela saída da era dos combustíveis fósseis. Também acerta ao responsabilizar mais os países desenvolvidos, mas sem se esquecer do padrão de consumo escandaloso das classes abastadas nos países em desenvolvimento. Sua carta é um manual completo de desenvolvimento sustentável e deveria ser seguida por todos os políticos de boa vontade”, disse Carlos Rittl, do Observatório do Clima. Sendo assim, podemos observar que existe um alinhamento entre cientistas e a igreja em busca de um bem comum, fato que este acontecimento foi comemorado pela comunidade científica.
Nesta carta encíclica o Papa Francisco traz muito da nossa percepção sobre o meio ambiente e que por muitas vezes, devido à má fé do ser humano, esquecemo-nos da nossa origem. “Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra. O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; e seu ar permite-nos respirar, e sua água vivifica-nos e restaura-nos”, disse o Papa.
O Papa Francisco descreve ainda a história da atuação da igreja sobre estes assuntos e lembra que João Paulo II também se fez presente sobre a temática. “Na sua primeira encíclica (João Paulo II), advertiu que o ser humano parece não dar-se conta de outros significados do seu ambiente natural, para além daqueles que servem somente para os fins de um uso ou consumo imediatos.” Assim como seu antecessor, Bento XVI, que classificava a economia mundial como “incapaz de garantir o respeito do meio ambiente” e que “o nosso ambiente natural está cheio de chagas (doenças) causadas pelo nosso comportamento irresponsável”.
Uma questão muito importante que está e jogo não são somente as mudanças em si, mas o que delas poderemos colher. É totalmente possível pensar que a natureza que nos trouxe tantas descobertas em tempos de criança e adolescência pode estar confinada apenas às nossas memórias e nada mais. Que a abundância de recursos, como a água, que são fundamentais para a nossa existência poderão ser, num futuro próximo, conquistados através de conflitos e até guerras. Sabemos que temos força e inteligência para mudar esse quadro, mas no nosso subconsciente sabemos, também, que erramos a não tomar atitudes para frear o atual desrespeito e a ambição sobre nossos recursos naturais.
Chega esse momento de refletirmos juntos, a fim de nos impor e de fazer a nossa mudança. Temos de mudar aquilo que está dentro de nós, nossos pensamentos e atitudes, para depois irmos em busca do bem comum e do respeito ao mais próximo. Já que na luta das mudanças no clima as nações menos desenvolvidas são as que mais sofrem com seus efeitos.
Como as palavras do Papa Francisco convido a todos a continuarmos com a nossa discussão. “Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental, que vivemos, e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós.”
“O clima é um bem comum. De todos e para todos”, Papa Francisco.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA