*Amarildo César de Oliveira
Ao longo da história, grandes epidemias de doenças infectocontagiosas como a peste negra (séc. XIV), cólera, tuberculose, varíola e gripe espanhola (séc. XIX e XX) dizimaram grande parte da população. Com o avanço da medicina e o surgimento de novos medicamentos no século passado, o comportamento geral da mortalidade por causas no mundo vem diminuindo para as doenças infecciosas e parasitárias e aumentando a morbidade (conjunto de causas capazes de produzir uma doença) por doenças crônico-degenerativas.
Nesse novo cenário, a obesidade ganha destaque internacional. É descrita como uma doença crônica associada a diversas complicações e dependente de múltiplos fatores: genéticos, fisiológicos, culturais, sociais e psicológicos, e também, associada ao consumo excessivo de alimentos de baixa qualidade. Sua característica mórbida se manifesta pelo acúmulo de gordura no tecido adiposo, especialmente quando formado na região visceral que desenvolve problemas inflamatórios e desordens metabólicas, favorecendo o aparecimento de alguns tipos de cânceres, diabetes mellitus, dislipidemias, hipertensão arterial, alterações osteomusculares, aterosclerose e outras doenças cardiovasculares. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera como uma epidemia mundial condicionada principalmente pelo perfil alimentar ruim e baixos níveis de atividade física.
No Brasil, a obesidade e o sobrepeso atingiram índices alarmantes em 2017, onde pelo menos 54% da população brasileira está acima do peso e 20% são obesas com IMC maior que 30kg/cm2. Nesse ponto é que a Indústria do Emagrecimento entra em cena. Diante dessa lógica, fica fácil de entender que onde a maioria da população está acima do peso, existe uma maior demanda de mercado consumidor.
Emagrecer não é tarefa fácil. Para muitas pessoas significa mudar completamente maus hábitos alimentares enraizados na rotina que também está sedentária e configurar um novo estilo de vida, o que acaba em muitas tentativas que se tornam fracassadas. Prova disso é o famoso “efeito sanfona”, tipicamente iniciado por pessoas leigas, por conta própria, com planos de perda de peso que consistem em pular refeições e fazer jejuns. Elas diminuem consideravelmente sua ingestão calórica diária e quando não dão conta, além de recuperar todo o peso perdido ainda sofrem um impacto emocional significativo.
Falta de disciplina, dietas temporárias, troca-troca de dietas, métodos errados, perda de paciência, tentações diárias e boicote à atividade física levam essas pessoas a procurar atalhos e falsas promessas que põem a saúde em risco e são oferecidas pelo mercado do emagrecimento. Como a maioria da população pouco entende de nutrição e menos ainda da complexidade do metabolismo, aceitam sem questionar, afirmações sem fundamento científico e se rendem a anúncios que enchem os olhos: dietas da moda, erva emagrecedora, gel seca barriga, aparelho elétrico para queima de gordura localizada, pílula milagrosa, shakes, suplementos etc..
Fazendo uma análise rápida dessas ofertas, as dietas ditas “da moda”, suplementos e shakes que substituem refeições podem resultar em fraqueza, perda de massa muscular, desidratação, cansaço, aumento de riscos de doenças cardiovasculares, entre muitos outros problemas, e pioram o quadro geral de saúde; ervas emagrecedoras agridem silenciosamente o fígado, podendo levar a sérias consequências futuras; gel estimulante, por mais que possa melhorar a circulação local e a drenagem, não funciona sozinho; aparelho elétrico de queima localizada é um caso gritante, exemplo disso, uma empresa fabricante já foi até condenada pelo Ministério Público de São Paulo por propaganda enganosa.
Outro problema eminente é que medicina moderna vive à base de pílulas e, consequentemente, esse costume vem dominando também a nutrição, o que levam as pessoas a confiarem menos em uma alimentação saudável e depositar sua fé em remédios como Sibutramina, Orlistat, Fluoxetina, Sertralina, Anfetaminas e outros, mesmo sofrendo dores de cabeça, insônia, diarreias, náuseas, fadiga, perda muscular e distúrbios sexuais como consequências dos efeitos colaterais comuns.
Mesmo depois de listarmos uma série de riscos para a saúde e os problemas relacionados, devo informar que a indústria do emagrecimento continua sendo um mercado à prova de crise, movimentando mais de U$35 bilhões por ano. O fato é que não há receitas, segredos, nem milagres no combate à obesidade, existe sim, um empenho permanente para superar todos os obstáculos de cada indivíduo em sua particularidade, sempre com a ajuda de profissionais da saúde empenhados e qualificados pela ciência.
AMARILDO CÉSAR DE OLIVEIRA – Licenciado e Bacharel em Educação Física –UNEC. -Pós-Graduado em Fisiologia do Exercício com ênfase em Grupos Especiais. -Pós-Graduado em Nutrição Esportiva. -Professor do Curso de Educação Física do UNEC. -Personal Trainer. -Preparador Físico. -Assessoria Esportiva.
-Mais informações sobre o autor: http://lattes.cnpq.br/3890120058158143
3 Comentários
Fernando A Freitas Vieira
Parabéns Amarildo pelo texto! Você aborda um assunto de grande importância que impacta diretamente na saúde de grande parte da população. A obesidade além de estar intimamente relacionada ao maior risco cardiovascular ainda expõe seus portadores a uma outro grande risco, tratamentos sem comprovação, sem evidências que só interessam aqueles que percebem uma oportunidade de lucro desonesto em cima das pessoas já fragilizadas pela sua doença. Fica o alerta para todos.
Fernando A Freitas Vieira
Parabéns Amarildo pelo texto! Você aborda um assunto de muita importância que impacta diretamente na saúde de grande parte da população. A obesidade além de estar intimamente relacionada ao maior risco cardiovascular ainda expõe seus portadores a um outro grande risco, tratamentos sem comprovação, sem evidências que só interessam aqueles que percebem uma oportunidade de lucro desonesto em cima das pessoas já fragilizadas pela sua doença. Fica o alerta para todos.
Mauricio Dias
Parabéns Amarildo!
Um assunto de extrema importância. Pena que a maioria das pessoas não dá a mínima mas quem é da área e quem gosta tem q compartilhar.