* Eugênio Maria Gomes
UMA MÃE FOI ASSASSINADA no último domingo, dia 17 de maio de 2015, em um sítio localizado às margens da BR 116, na entrada da cidade de Caratinga, Minas Gerais.
Depois de assistir a um espetáculo circense e de lanchar com a família, UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
Naquela noite, UMA MÃE FOI ASSASSINADA na frente de seu esposo, de seus filhos e de seus netos.
A Terra ficou sem um dos anjos enviados por Deus, porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
UMA MÃE FOI ASSASSINADA sob o olhar assustado do seu garoto de apenas, onze anos de idade.
UMA MÃE FOI ASSASSINADA depois que quatro homens erraram o endereço que procuravam e foram parar no Sítio da família.
Na frente de uma casa de família, UMA MÃE FOI ASSASSINADA por um dos homens que procuravam por um prostíbulo.
UMA MÃE FOI ASSASSINADA e deixou para trás os seus sonhos.
Uma longa vida pela frente foi deixada de lado porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
Uma mulher trabalhadora desapareceu no momento em que UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
Uma esposa dedicada, uma filha amorosa, uma mãe presente e uma avó muito querida partiram porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
No dia seguinte, uma rainha do lar não serviu o café da manhã porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
No dia seguinte, uma dona de casa não fez o almoço, um homem não foi trabalhar e um garoto não foi à escola porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
Alguns vizinhos não se encontraram mais porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
Os meninos ainda não voltaram a brincar na rua porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
Muita coisa deixou de ser feita nos dias seguintes àquela fatídica noite em que UMA MÃE FOI ASSASSINADA e, outras tantas, passaram a ocorrer: os pais estão chorando, o marido está desolado, os filhos estão sem o abraço materno…
Os netos estão sem o aconchego do colo porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
Os corações estão despedaçados porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA.
Carlos Drummond de Andrade, em seu poema “Para Sempre”, questionou “Por que Deus permite que as mães vão-se embora?”. Ele, assim como todos os que já perderam a mãe, sabia o quanto é doído não tê-la mais por perto. Perdê-la, significa suportar, para sempre, uma saudade doída, um eterno aperto no peito e uma emotividade que parece não ter fim… Aqui, bem perto de nós, o amigo Miranda, seus filhos e netos passaram a carregar esta dor porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA!
No próximo dia 21 de junho, não haverá festa para os quarenta anos de vida da Lurdinha, porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA!
Porque UMA MÃE FOI ASSASSINADA, muitas lágrimas foram e serão derramadas, muitos Dias das Mães deixarão de ser comemorados, muitos aconselhamentos deixarão de ser dados, muitos “Deus te abençoe” deixarão de ser pronunciados.
Se mãe não foi feita para morrer, muito menos foi feita para ser morta. A repetição do termo “UMA MÃE FOI ASSASSINADA” foi proposital e representa a nossa indignação. Nada, absolutamente nada, pode justificar o ato de por fim a uma vida… Muito menos a vida de uma mãe. Não posso e não me enveredarei pela motivação ou pela culpabilidade de quem quer que seja. O que eu quero é extravasar a tristeza de saber que UMA MÃE FOI ASSASSINADA!
Descanse em paz Lurdinha. Usufrua das benesses destinadas às mães, no céu. Você combateu o Bom Combate e, o seu exemplo servirá de orientação para que os seus prossigam na caminhada. Sentirão, para sempre, a sua ausência; permanecerão tristes e conterão o choro por muitos e longos anos; mas, fortalecidos na Fé e na Esperança, entenderão os desígnios do Altíssimo, aprenderão a conviver com a dor e com uma saudade que, definitivamente, não tem fim.
A sua breve passagem por aqui há de nos lembrar, sempre, que em uma noite de domingo, sabe-se lá porque, UMA MÃE FOI ASSASSINADA. Também há de nos fazer refletir e cuidar para que toda mãe seja amada e amparada – jamais assassinada!
Que se cumpra, então, a Lei imaginada por Drummond: “Mãe não morre nunca / Mãe ficará sempre / Junto de seu filho / E ele, velho embora / Será pequenino / Feito grão de milho”.
* Eugênio Maria Gomes é escritor e professor.