Paciente do Centro de Reabilitação FUNEC começa a andar novamente depois de quatro anos na cadeira de rodas

Devido aos exercícios, os irmãos foram aos poucos fortalecendo o corpo e ganhando mais qualidade de vida

Após pouco mais de dois meses de fisioterapia, Bráulio esboçou os primeiros passos, apoiado pela equipe da clínica
CARATINGA – Desde 2015, o Centro de Reabilitação FUNEC vem promovendo a melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiência ou em condições de saúde que trazem limitações físicas e psicológicas. Neste fim de ano, um caso de superação emocionou os profissionais da unidade: o paciente Edir Bráulio da Silva, de 41 anos, está gradativamente recuperando os movimentos das pernas depois de quatro anos sem andar.
Em 2001, Bráulio, que é natural de Ubaporanga, vivia nos Estados Unidos e trabalhava como motorista de caminhões. Após sentir tonturas na estrada, ele foi diagnosticado com esclerose múltipla. A partir daí, foi perdendo gradativamente os movimentos do corpo e apresentando dificuldades na fala. Resolveu então voltar ao Brasil para se tratar, sob os cuidados da mãe, Maria José da Assunção Silva, e da irmã, Hélida Andrea Silva. “São 16 anos que Bráulio vive com a esclerose, sendo que há quatro ele parou de andar. Até então, ele se movimentava com ajuda de muletas”, conta a irmã, que é técnica de enfermagem.
Cerca de cinco anos mais tarde, a irmã mais velha de Bráulio, Amery Rezende, também descobriu ser portadora da doença. “No caso dela o primeiro sintoma foi um surto de cegueira. E como a esclerose múltipla se desenvolveu mais tarde, ela ainda anda com uma muleta”, detalha Hélida.
Na tentativa de controlar a doença nos irmãos, a família passou a viajar constantemente para Belo Horizonte em busca de tratamento médico. No entanto, os movimentos de ambos foram se tornando mais e mais difíceis, uma vez que nenhum dos dois fazia fisioterapia. “Bráulio chegou a ter acesso a algumas sessões, mas não tivemos condições financeiras para continuar”, afirma a mãe dos pacientes. Este ano, uma parceria entre o Centro de Assistência à Saúde UNEC (CASU) e a prefeitura de Ubaporanga possibilitou o custeio do tratamento tanto para Bráulio quanto para Amery. Hoje eles frequentam o Centro de Reabilitação FUNEC duas vezes por semana para atendimento com fisioterapeutas e fonoaudiólogos.
Devido aos exercícios, os irmãos foram aos poucos fortalecendo o corpo e ganhando mais qualidade de vida. Cada progresso é comemorado pelos próprios pacientes, seus familiares e os membros da equipe multiprofissional do Centro de Reabilitação. “Graças a Deus estou andando melhor. Também estava engordando e não estou mais”, declara Amery Rezende. “Para nós, é um grande orgulho e uma sensação de missão cumprida”, comenta Juliana Carvalho Reis, coordenadora do curso de Fisioterapia UNEC.
O episódio mais marcante aconteceu no início de dezembro. Após pouco mais de dois meses de fisioterapia, Bráulio esboçou os primeiros passos, apoiado pela equipe da clínica. “Há cerca de duas semanas, percebemos que ele já tinha condições de desenvolver atividades diferentes. Vimos que ele tinha independência para ficar em pé, então fomos trabalhando na caminhada. E a cada atendimento ele dava passos maiores, o que foi emocionante para todos nós”, relata a estagiária Erika Leles, que acompanha o tratamento dos irmãos desde o início.
O início da nova fase na vida dos pacientes trouxe para a família de Ubaporanga o sentimento de vitória e a confiança no futuro. “É muita alegria e muita esperança de ao menos vê-lo em pé, vê-lo andar ainda que com algum apoio”, comemora a mãe. “Foi um presente de Natal para nós. Há um tempo o Bráulio dizia que preferia morrer a ficar na cadeira de rodas e depender dos outros. Hoje conseguimos mostrar para ele que a família é o que conforta em situações como essa, que não devemos deixar de lutar e que a felicidade está em coisas do dia a dia, com ou sem cadeira”, completa a irmã Hélida.
ESCLEROSE MÚLTIPLA
De acordo com a fisioterapeuta e professora Juliana Carvalho Reis, a esclerose múltipla é uma doença autoimune, ou seja, nela o sistema imunológico do próprio paciente o ataca, causando danos em seu sistema nervoso central. “Mais especificamente são afetados o cérebro e a medula espinhal. Mas em alguns casos, pode haver também um comprometimento do nervo ótico, que faz a enervação dos olhos”, explica.
A doença não tem cura, mas os sintomas podem ser controlados com medicação e fisioterapia. Para isso, o ideal é diagnosticar e procurar o tratamento o quanto antes. “Quando temos um diagnóstico precoce e um início de tratamento igualmente rápido, podemos evitar comprometimentos importantes. No caso do Bráulio, embora a doença tenha sido descoberta há 16 anos, o tratamento fisioterapêutico começou há apenas dois meses. Então ele já chegou à clínica em um estágio avançado, sem condição de caminhar. Com esse pouco tempo de tratamento já estamos resgatando com ele a capacidade de andar com algum tipo de auxílio. Talvez, se ele tivesse começado há mais tempo, não teria nem perdido a capacidade de andar”, destaca. “Se o tratamento ocorrer cedo, são grandes as possibilidades que temos de garantir que o paciente mantenha as atividades da vida muito próximas do considerado normal”, complementa.