– Se por um lado todos nós reconhecemos que somos pecadores…
Foi assim que o religioso iniciou a sua fala. Para ele, todo mundo reconhece que é pecador…
A minha experiência como ministro do Evangelho foi diferente. Encontrei e continuo encontrando em todo o lugar mais e mais pessoas que consideram a questão do pecado como “um caso encerrado”, isto é, que isso era considerado no antigamente, mas hoje esse conceito está completamente ultrapassado.
A bem da realidade que vivemos, chegou-se ao ponto de proclamar todo o ser humano como “bom”, e que a questão do mal e maldade no mundo é mais uma questão de ponto-de-vista – e que não tem muito ou até nada a ver com o homem.
– Quem está certo? Onde estaria o erro ou engano?
O movimento humanista que surgiu no século XIV, numa volta saudosa às culturas greco-romanas, chegou a negar qualquer tipo de força, poder ou valor moral que não estivesse subordinado ao homem. Com isso, a religião (que alegasse um ser supremo com direitos sobre a vida do homem) foi negada em favor da fé no progresso do ser humano através de seus próprios esforços e capacidades. Assim foi declarado que “O homem é a medida de todas as coisas”; a sua RAZÃO, o seu “sacramento”, e o seu labor científico, o seu “culto”.
A Renascença foi a consequência dessa evolução humana: com a liberdade os humanistas passaram a agir e criar movimentos, cujo impacto acelerou o desenvolvimento da cultura ocidental. As estruturas sociais foram abaladas, surgiram movimentos político-culturais, que levaram à emancipação de povos, e onde podemos destacar um dos nossos movimentos pioneiros, a Inconfidência Mineira, e o próprio Tiradentes, de quem lembramos nesse dia 21 de abril.
Entretanto, e acima de tudo, a Renascença foi o afastamento do domínio da Igreja e da nobreza, e uma inclinação consagrada para o mundo, para a natureza – foi a revolução cultural de uma burguesia, de uma classe média que tinha ficado rica e poderosa.
O que aconteceu na Teologia?
Influenciadores e influenciados, obviamente, filósofos e teólogos “concluíram” – pela razão – que o ser humano alcança seu alvo na vida não pela fé e obediência a Deus, mas através desta mesma razão sua. Com isso, a própria Bíblia precisava ser corrigida, e “atualizada”.
Dentro desse progresso, vieram muitas coisas acertadas (emancipação de povos, a valorização, a liberdade e direitos individuais, iniciativas por maior justiça para os marginalizados, etc.). Mas havia algo que não ficou bem.
Queria ilustrar isso com um pequeno relato pessoal. Nós, minha esposa e eu, tivemos três filhos. Assisti ao nascimento de nossa filha. Foi um acontecimento marcante, inesquecível. Tem que ser dito: a chegada de cada um de nossos três filhos deixou minha esposa (e mãe) e eu maravilhados.
Nossa filha nasceu e minha sogra, alguns dias depois, foi dar-lhe o primeiro banho. Não lembro detalhes disso. Só sei que o banho tinha que acontecer.
– O bebezinho estava sujo? – Não sei, mas muito provavelmente, por isso a necessidade do banho. – A água do banho ficou suja? – Também não sei; imagino que sim.
Mas, imagine comigo: se naquele dia do primeiro banho, minha sogra, a querida e saudosa Profa. Mariana Azevedo Leitão, tivesse decidido: – Não vou jogar apenas a água fora – o bebê vai também, ele só faz sujeira!
Que loucura! Que tristeza para o mundo, que crime – como eu, nós teríamos ficado ao saber que a nossa filha tinha sido “descartada”!??
Voltando para os dias da Antiguidade quando a religião estava sendo julgada e liberta de uma terrível cegueira do fanatismo: – Por que os que fizeram a “limpeza” não jogaram fora apenas a “água do banho”, aquelas coisas horrendas (condenações por causa da fé ou não, ou condenações por causa de descobertas científicas), aquelas práticas criminosas que os líderes religiosos estavam cometendo? O que aqueles protagonistas, os recém-convertidos humanistas, fizeram? Por incrível que pareça, mas decidiram jogar fora a própria essência – jogaram fora a Deus e a Palavra dEle!
Não estou falando mentira. Estou apenas relatando a pura verdade do que aconteceu, do mal que aconteceu, e que deixou gerações e gerações completamente incapazes de reconhecer – de livre e espontânea vontade – a um Deus verdadeiro.
Por isso, para muita gente, “pecado”, que é um conceito da Palavra de Deus, não faz nenhum sentido!
E, por outro lado, coprodutos dessa “lavagem” da mentalidade ocidental pela Renascença e Iluminismo foram movimentos “nacionalistas” e mesmo, “nacional-socialistas”, ou o próprio “nazismo”, e outros.
Como Deus e Sua Palavra não tem mais validade ou direito para eles, é o próprio homem que define o que é certo e o que é errado. Foi e é assim nos regimes totalitaristas, e nos quase-totalitários – e todos conhecemos os seus frutos, sendo colocados cada dia mais e mais diante da opção de uma ética e uma moral de amplitude flexível, para acomodar a todos os seres humanos em suas próprias opiniões e visões de mundo pessoais.
Estamos na época em que 50.001% dos votos decidem o que é certo e o que é errado. A verdade é relativa, depende de quem está votando!
Voltando ao início: Àquele colega que acha que todos reconhecem seus pecados tenho que dizer que ele está errado, pois uma grande maioria não está nem aí para esse tipo de conversa. (Talvez explique porque nós, religiosos, estamos cada vez com menos “audiência” ou com nível de aceitação em decadência.)
Afinal, a ideia deste mundo e de suas criaturas – de quem é?
É do Deus que tem ideias próprias.
Será que não é de bom alvitre saber dEle como é que “essas coisas” que Ele criou, inclusive, nós mesmos – como é que a gente funciona melhor????
Fica a dica. Eu ainda não creio que o homem é a medida de todas as coisas. Muito pelo contrário.
Precisamos muito de ajuda – ajuda do Alto mesmo, donde a visão é mais objetiva, mais inclusiva, mais humana.
Gosto de dizer: Deus é o maior e mais verdadeiro humanista de todos que existem, e que já existiram!
Rev. Rudi Augusto Krüger – Diretor, Faculdade Uriel de Almeida Leitão; Coordenador, Capelanias da Rede da UniDoctum – [email protected]