Muitas pessoas querem contribuir na luta contra as mudanças no clima. A ajuda destas nesta luta é louvável e extremamente eficaz, já que atualmente é notória a identificação do homem com a “saúde do planeta” e as mudanças nos hábitos e das atitudes desta parte da população já podem ser observadas.
No entanto, a história da nossa sociedade, que é a fonte para entendermos como se desenvolveram as lutas pela melhoria da nossa qualidade de vida e, também, a nossa relação com o meio ambiente, evidencia quão contraditória é a nossa relação com a luta frente às mudanças no clima, em especial à atual crise climática que atinge o Ártico.
O Ártico é caracterizado por um clima de baixas temperaturas com variações de luz, tendo meses consecutivos de dias, verão no hemisfério norte, e meses de escuridão contínua, inverno no hemisfério norte. As plantas e animais do Ártico se desenvolveram a estas condições peculiares, mas isso os tornou, em alguns casos, extremamente sensíveis às modificações destas características naturais. A vida dos povos indígenas que habitam as regiões que estão ao entorno do Ártico tem sua vida ligada aos recursos naturais locais, dependendo basicamente da colheita e da caça. Desta forma, a mudança nos padrões naturais desta região promove seus habitantes entre as populações mais expostas às mudanças no clima no mundo.
Sabendo destas condições e da necessidade de manter o equilíbrio ambiental e climático da região, como também, do nosso planeta – já que o Ártico tem um papel importante na manutenção da circulação oceânica no hemisfério norte e também possui importante papel na circulação atmosférica global – foi aprovada numa assembleia na ONU (Organização das Nações Unidas) a Estratégia de Proteção Ambiental do Ártico (AEPS) em 1991, desenvolvida e assinada por oito países membros da região do Ártico, dentre eles estão os EUA e a Rússia. Em 1996, na Declaração de Ottawa foi desenvolvido um programa amplo para incluir todas as possibilidades da implantação do desenvolvimento sustentável, que iria lidar com as preocupações e desafios que afligem esta região. Tendo como pilares deste desenvolvimento sustentável as questões ambiental, social e econômica desta região.
Pois bem, muitas outras reuniões e acordos foram ratificados durante os anos 2000 e a situação do Ártico atualmente é a pior possível e com perspectivas de se agravarem nos próximos anos. Segundo a NASA acredita-se que até 2020 não exista mais calotas polares, placas de gelo, nesta região durante o verão no hemisfério norte. Desta forma, a população desta região que já está sofrendo com as atuais mudanças, poderá fazer parte dos refugiados climáticos. Os refugiados climáticos são descritos como um conjunto de habitantes que saem do local onde viviam, mas que foi impactada pelas mudanças no clima, e atualmente vivem como nômades a procura de melhores condições para viver. Em relação aos animais, se tudo continuar como está e as projeções se concretizar, seremos responsáveis pela extinção de grande parte dos animais e plantas desta região.
As contradições do clima se tornam evidentes quando países ratificam acordos para “salvar” o nosso planeta, como aconteceu no inicio deste mês na Alemanha, e também possibilitam que sejam feitas exploração de petróleo em áreas do Ártico. No inicio de junho o seleto grupo de países mais industrializados do mundo, G7, anunciaram uma forte redução de emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), fósseis até 2100. Este acordo entre o G7 foi considerado um marco histórico na luta contra as mudanças no clima que recentemente possui outro grande aliado, Papa Francisco. Entretanto, a busca destes países por combustíveis fósseis não para. No mesmo mês em que foi assinado o acordo já citado, houve a liberação que uma grande petrolífera dos EUA possa perfurar nas áreas do Alasca, o estado americano que faz parte da região do Ártico.
Tais incoerências de líderes mundiais evidenciam a realidade e a necessidade das nações mais ricas do mundo. A realidade que para alcançarem o status de intensamente industrializados estes países utilizaram grande parte dos seus recursos naturais e de recursos naturais de países mais pobres e, também, existe a necessidade destes países de colocarem em primeiro plano a manutenção equilibrada das suas economias, que atualmente grande parte destes países passa por uma considerável crise econômica, e num segundo, ou terceiro, plano a questão ambiental.
Nesse jogo de prioridades, que por muitas vezes não fazem sentido a médio e longo prazo, países que não são tomadores de decisão, países em desenvolvimento, serão os mais afetados. Para estes países, dentre eles o Brasil, cabe o desenvolvimento de políticas para priorizarmos as questões ambientais e formas de mitigação eficazes. Reduzindo os efeitos das mudanças do clima no nosso dia a dia.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA