Produtores apresentam principais demandas sobre custo de produção e reivindicam políticas de garantia de renda para cafeicultura
CARATINGA- Ações para a garantia de renda da cafeicultura e políticas públicas eficazes para o setor foram alguns dos temas tratados no evento Cafés Regionais, promovido pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), em parceria com o Sicoob Credcooper, Região das Matas de Minas, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Certifica Minas Café e Sindicato dos Produtores Rurais de Caratinga.
O evento contou com a presença do vice-presidente de Finanças da Faemg e presidente da Comissão Nacional do Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Breno Mesquita. Ele explicou que a intenção é realizar um planejamento de curto, médio e longo prazo para a cafeicultura brasileira, atendendo a uma solicitação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
Segundo o presidente da Comissão Nacional do Café da CNA, a Faemg tem percorrido diversas localidades em busca de ouvir as demandas do setor cafeeiro. “Estamos andando Minas Gerais inteiro, depois vamos para outros estados produtores, para justamente colher in loco as demandas dos produtores, para concepção de uma política que realmente represente os anseios dos cafeicultores. Ou seja, colher realmente os subsídios que o setor precisa para fazer uma política cada vez mais competitiva e que gere renda para o produtor, obviamente. O momento se tornou propício para darmos uma guinada em termos de políticas públicas. E nada melhor do que ouvir realmente de quem trabalha dia a dia com a cafeicultura, para que possamos em Brasília discutir uma nova política”.
Mesquita ainda ponderou que em cada região são apresentadas demandas diferentes, mas políticas de garantia de renda para cafeicultura estão entre as principais necessidades. “Há demandas de outorga, energia, preço do café que não remunera nenhuma cafeicultura no Brasil e, principalmente, a falta de renda. Isso é uma coisa que atormenta o setor, realmente é um grande gargalo e precisamos de políticas adequadas, no tempo certo, para que a gente sai dessa angústia e vivencie dias melhores. O custo de produção alto, os países competidores estão melhorando a sua gestão, ou seja, o Brasil como maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor, temos que ditar a política no mundo. E a política da paz é emanada dos produtores, esse é o grande motivo de estarmos aqui hoje (ontem)”.
O auditório do Sicoob Credcooper foi palco da reunião. O presidente do Conselho de Administração Kdner Andrade Valadares enfatizou o apoio à iniciativa, tendo em vista os pilares da cooperativa: financeiro, ambiental e social. “Nós só vamos conseguir os nossos objetivos, realizar grandes feitos, fortalecendo a agricultura, especialmente a cafeicultura que é o carro chefe da nossa região. E estamos reunidos discutindo dos problemas imensos que estamos vivenciando, especialmente, nesta área, esperando uma nova plataforma de trabalho para alcançarmos os objetivos. Temos outros projetos atrelados a esse, voltados para a qualificação. O produtor tem que entender que é um empresário, que a sua propriedade é uma empresa e é assim que tem que ser tratada. Temos trabalhado isso gradativamente, potencializando a qualidade do produto da nossa região”.
Joaquim Marques, vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, acredita que o debate é importante para que as demandas sejam apresentadas. “Queremos o que há de melhor para os produtores. Temos que mostrar as nossas reivindicações os órgãos governantes possam também estar dando apoio ao produtor. Sem o produtor não somos ninguém, sem comida na nossa mesa, não temos como sobreviver. Estamos na mão dos produtores para nossa sobrevivência”.
DEMANDAS
Durante os debates do encontro de ontem, o secretário de Agricultura, Abastecimento e Agronegócios, Alcides Leite de Mattos salientou a relevância do Instituto Brasileiro de Café (IBC), que encerrou suas atividades em 1990. O instituto foi criado o objetivo de definir a política para o setor, coordenar e controlar estratégias, desde a produção até a comercialização interna e externa.
Para Alcides, desde a extinção do IBC, os produtores têm sentido os reflexos, pois o órgão oferecia assistência técnica e econômica à cafeicultura. “É um órgão que fez a diferença. Depois a cafeicultura enfrentou sérias dificuldades, hoje vemos as consequências com o Brasil refém do mercado, enquanto o País apontavas as políticas do setor naquela época. Por exemplo, os preços do trator, combustível e fertilizantes estão caros e, por outro lado, o café está barato. Acredito que é o momento de discutir políticas eficazes para os produtores”.
Conforme divulgado pela Faemg, ontem, o café arábica (bebida dura), para a zona da mata, estava cotado a R$ 368 a saca 60 kg. Para quem lida há décadas com o setor cafeeiro, os preços estão longe do que já foi registrado quando a comercialização vivia tempos melhores. O cafeicultor e engenheiro agrônomo Edimar Sobreira, ponderou sobre as dificuldades enfrentadas. “Hoje o mundo inteiro está com excesso de produção e, consequentemente, com baixo preço de venda de nossa mercadoria. Estamos vendendo abaixo de custo, não está sobrando nada para investir, reinvestir ou melhorar, está muito complicado. Para se ter uma ideia há quatro anos eu vendia café de exportação e certificado a R$ 650. Hoje estou vendendo esse café a R$ 380. Café tem que estar sendo vendido pelo menos a R$ 700”.
Para Edimar, falta investimento e medidas eficientes, por isso, a importância do encontro realizado em Caratinga. “Tudo subiu no Brasil, os encargos sociais, insumos, mão de obra, energia elétrica, combustível. E café ficou. Por aí se conclui rapidamente, se tudo subiu e o café baixou, quem está levando o prejuízo? O cafeicultor. A cafeicultura que já foi a maior pauta de exportação do nosso país, hoje estamos relegados a quem sabe o vigésimo plano. Precisamos nos unir e fazer um programa de assistência e combate principalmente às notícias falsas sobre o café. É o momento de acharmos o caminho”.
Recentemente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estimou que a safra de café brasileira deve ser menor em 2019 e ficar entre 50,48 e 54,48 milhões de sacas. Sérgio Stevanato, que também é engenheiro agrônomo e tem longa experiência na área, afirmou que os produtores têm enfrentado um cenário de incertezas. “Conheço a cafeicultura nossa desde a década de 70, pois sou de origem do Instituto Brasileiro de Café. Estamos passando no momento uma certa dificuldade na cafeicultura brasileira por causa dos custos de produção, mão de obra, uma série de fatores”.
O estado mais prejudicado pela bienalidade baixa é Minas Gerais, que produz principalmente a espécie arábica e é responsável por mais da metade do volume colhido no país. A produção deve ficar entre 26,4 e 27,7 milhões de sacas, contra 33,36 milhões da safra passada. Para Sérgio, o cenário precisa ser amplamente debatido. “Não só nossa região, mas o Brasil todo está tendo uma certa dificuldade em relação aos custos de produção e o preço do café. O consumo mundial tem aumentado bastante, mas em compensação a produção também está aumentando muito. E o produtor rural infelizmente- a não ser com esses eventos, como estão sendo feitos hoje com a Faemg e sindicato, não tem acesso a definir esses preços do café. Fica à mercê dos importadores, grandes produtores e consumidores”.
As propostas definidas em conjunto serão trabalhadas pela Faemg e apresentadas para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Os debates seguem pelo Estado. Na próxima semana, a agenda será em Capelinha, no Vale do Jequitinhonha. Em seguida, a equipe parte para o Sul de Minas.